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Leio no portal Sapo "Há milhares de portugueses a tomar medicamentos que não fazem efeito". Supondo ir encontrar um artigo sobre placebos ou sobre auto-medicação e venda livre, sobre diferenças fisiológicas ou sobre falhas de diagnóstico, sobre incúria ou desleixo médico ou sobre abusos das farmacêuticas ...
... deparo-me afinal com um muito inconcreto panegírico a testes genéticos que estão disponíveis no sector privado e que no SNS apenas são usados em tratamentos oncológicos ou da SIDA.
Testes que serviriam para identificar as terapêuticas mais aconselhadas a cada indivíduo; mas que, segundo o artigo, a comunidade médica não usa
<< Ou porque “não tem noção desta realidade”, ou por “ignorância”, ou até mesmo com o “argumento de que é caro”, critica Carolino Monteiro, professor de genética da faculdade de Farmácia de Lisboa.>>
apesar de o presidente do Colégio de Genética afirmar que
<<"A procura não tem sido relevante porque ainda não está demonstrada a utilidade clínica, sobretudo quando tem um custo adicional para o SNS”>>
O pequeno e muito insistente artigo termina com uma frase que, segundo o autor não identificado, seria corroboração da necessidade de tais testes mas que, no contexto, apenas me permite perceber abertura à discussão desta opção:
<<No mesmo sentido, Rui Medeiros, coordenador do Grupo de Oncologia Molecular do IPO do Porto sublinha que “está na altura de o SNS pensar o assunto de uma forma organizada”>>
O apologético artigo poderia ter invertido as citações do último parágrafo e terminado com a primeira:
<<Carolino Monteiro defende que “precisamos de uma estratégia nacional porque vai haver um momento em que todos [os doentes] vão querer fazer” o teste.>>
Pelo menos encerraria com um excelente indicador do novo paradigma médico que alguns parecem preconizar: o paciente não é apenas envolvido na decisão, o paciente decide para lá da opinião da comunidade médica.
Nos entretantos e nos finalmentes, não percebi se estava a ler um artigo que se pretendia informativo, e que terá saído muito aquém da pretensão, ou um texto que se pretendia de opinião, e que também nisso falhou por não assumir uma posição concreta apesar da redacção tendenciosa. E ou surgida por geração espontânea ou embaraçadora para o autor, pois que ninguém a assumiu.
Apercebendo-me de que o texto se baseia numa reportagem do Expresso, apesar de tal não ser mencionado, referenciado ou sequer ligado, apressei-me a localizá-la - não que a análise do texto assim o exigisse, que não exige, mas porque me interessam os dados e os vários argumentos da questão. Poderei vir a defender tais testes, mas preciso de muita mais informação - e certamente preciso de informação que me seja apresentada de forma equilibrada, completa, com factos e fontes.
A reportagem, saída na edição de ontem, apenas está disponível para assinantes. Não o sou, e onde estou hoje não vendem nenhum, pelo que a leitura foi forçosamente adiada para um destes dias.
Fica no ar a possibilidade de voltar ao assunto.
Imagem obtida em Google Images
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