De Einsturzende neubauten a 17.06.2018 às 14:37
Estivéssemos sozinhos e a nossa necessidade de falar não mudaria. Apenas a audiência. Dizem que a linguagem nasceu da necessidade prática da comunicação. Quem o diz são os naturalistas. Mas nestas coisas da natureza prefiro outros que me dizem ter sido a solidão o berço da fala. Começámos por falar connosco próprios e a partir desse instante nasceu de um, dois. Fizemo-nos Duplo e dúplice. Nasceu a Consciência do eu, esse nosso primeiro ouvinte, amigo, e acima de tudo julgador.
De Sarin a 17.06.2018 às 15:12
Desconstruir faz parte da construção do que se quer sólido.
Perdi-me, confesso, nas nuances da audiência; ou melhor, perdi a voz e encontrei o eco seguido de A mensagem, esse goodbye fellas gingão caído alhures.
?
De Einsturzende neubauten a 17.06.2018 às 17:51
Construímos o Valor nunca despegando os olhos do abismo.
O Silêncio Maestro, que nos ensinou primeiro a cantar, depois a declamar e finalmente a falar.
Quando falamos, mais que convencer os outros , preocupamo-nos em nos convercermos a nós mesmos. Talvez só assim consigamos que os outros nos ouçam, convencidos.
Quanto ao outro burgo uma cambada de gentios fascizóides...o tempo a convencerá...."podes expulsar a natureza com uma forquilha que ela sempre retornará "Horácio. ...o pai de um dos dignos mentores era alto funcionário do Estado Novo. Daí que ele pregue a democracia com tanto fervor, e com tanto disfarce.
De Sarin a 17.06.2018 às 18:19
Falamos para procurarmos no outro, mais do que comunhão, a certeza de que vale a pena falar. Antes o silêncio que o eco da palavra vazia de humor de argumento de empatia. Que tormento!
Sobre o outro burgo, sei-o de há muito. Por isso ser tão interessante o debate com alguns e tão desnecessário com outros. Colecciono na memória os revoluteios e contorcionismos, que me ensinam mais sobre os meus semelhantes do que as suas próprias opiniões... chame-lhe o meu segundo prazer em tal mister. O primeiro é o debate, sem dúvida.
E o meu caro Ruentis (o meu alemão é menos que sofrível) não considera que também alguns deles possam ter desconstruído e reconstruído o seu ideário natal? Não seria inédito. De todo; e por alguns meus ancestrais falo, entre sacristias e mordomias que pelo menos com a segunda república (assim mesmo, com r minúsculo) não me deslustraram o coiro :)
De Einsturzende neubauten a 17.06.2018 às 19:35
É possível, Sarin. Talvez para alguns a natureza lhes sirva sobretudo como aviso sobre os caminhos a evitar. Um "Não quero ser como naturalmente seria". Um combate que não admite tréguas connosco
De Sarin a 17.06.2018 às 19:42
E sabe que, mais tarde ou mais cedo, terá de clarificar de quem falava...
Mera curiosidade. Porque de alguns conheço o percurso (e o posicionamento) mas não dos familiares; e seria mais um dado, apaixonada que sou pelo Estado Novo via obras de, entre outros, Irene Flunser Pimentel :)
De Sarin a 17.06.2018 às 15:18
A comunicação existe entre os animais, nas outras espécies há também quem tal defenda.
Comunicamos porque somos seres sociais, impulso genético sustido por raras mutações. A forma como o fazemos depende da espécie - da espécie de gente que somos, também.
De Einsturzende neubauten a 17.06.2018 às 17:53
Quero acreditar que o que temos de mais nobre não é fruto de uma qualquer vantagem material,ou utilitária.
Aprendemos a falar porque não suportavamos o nosso silêncio. Alguém que factualmente me desminta!
De Sarin a 17.06.2018 às 18:27
Foi a procura de vantagem, sim, mas não a material. Em bebés choramos de fome mas primeiro choramos de saudade - não do conforto mas da comunhão permanente com outro ser. Como ensinar-nos crianças a dormirmos sozinhos se fomos feitos a dois, entre nós e as nossas mães fomos gerados, e mal entrados na adultícia procuramos com quem partilhar o toque, primeiro do corpo depois da alma? Se isto não o prova, não será por isso menos verdadeiro. :)
De Einsturzende neubauten a 17.06.2018 às 19:38
Sim, nascemos chorando. Tem razão
De Sarin a 17.06.2018 às 19:46
É um bocadinho triste, ter-se razão pelo choro de nós... porque é que a malta das ciências naturais não se fica naturalmente pelas ciências?!
De Einsturzende neubauten a 17.06.2018 às 19:54
Todas as ideias, todos os sistemas depois de nascidos pretendem a Soberania. Outrora Deus e a Igreja. Hoje o gene e a Ciência, com as suas Teorias Unificadoras. As ideias são como os animais no seu instinto de auto-preservação. Para quando um livro sobre a Biologia da Ideia?
De Sarin a 17.06.2018 às 20:07
Mas.... o gene não é ideia, e a ideia de comunhão não se esgota numa harmonia de iguais, antes abre espaço à partilha.
A dominância mendeliana dos genes submeteu-se à pluralidade de influências, desde loci a aminas. Uma democracia onde até o mais fraco se pode manifestar perante determinadas condições - o voto dos factores. Unificadora, apenas a bioquímica básica que nos une. Bioquímica, essa biologia que nos condiciona cérebro e ideia...
Talvez haja. Nós é que ainda o não encontrámos.
De Einsturzende neubauten a 17.06.2018 às 20:32
É o instinto que se esconde na ideia. Tal como é a emoção que instrumentaliza a razão. Que nos convence,mentirosamente, da liberdade do nosso agir ( a razão sublima "nobremente"os mais baixos instintos ex: sexo e amor; violência e justiça )
A bioquímica depende de proteínas, que são as hormonas e neurotransmissores, codificadas pelos genes.
Provar que somos escravos dos nossos genes seria a demolição do nosso sistema que assenta na ideia do livre arbítrio, mérito, responsabilidade, julgamento e castigo.
Somos estrangeiros de nós mesmos
De Sarin a 17.06.2018 às 20:42
Somos condicionados pelos genes, escravos da nossa bioquímica. O livre arbítrio está nas condições com que afagamos a incerteza da mitose. Os aminoácidos são 20, estamos por eles agrilhoados. Mas não repita o que eu disse, tiraria o chão a muita leveza de pensamento...
De Corvo a 18.06.2018 às 22:34
Não o desminto. Provavelmente terá sido essa a razão para insistirmos na comunicação oral através dos tempos até razoavelmente a dominarmos, mas não a primordial
Não nascemos mudos e todos sem excepção vêm ao mundo a vocalizar. Logo, por que não limitarmos-nos aos grunhidos comuns a todas as espécies? Mesmo porque estou persuadido de que a condição silenciosa não é a que mais deprime o homem, mas sim a solidão.
Em meu entendimento, e só na minha opinião, - outros provavelmente também a terão, - aprendemos a comunicar simplesmente por interesse. Para conseguirmos alcançar aquilo que desejamos, para convencermos os outros que aquilo que nos convém é nosso e se dúvidas se levantam então ouçam a nossa brilhante argumentação. Exemplificando: não interessa de quem é, interessa é ter um bom advogado que consiga mostrar, e "provar!" que aquilo é nosso. Argumentação, portanto. Ou seja: saber-se comunicar.
Uma excelente noite para si, e todos/as.
De Sarin a 18.06.2018 às 23:05
Quero acreditar que essa necessidade é desviante, um azar do caminho; começamos por comunicar para sentirmos os outros mais do que para nos darmos a sentir.
E só depois surge o querer mais.
Obrigada, Corvo, boa noite também por aí
De Corvo a 18.06.2018 às 23:45
Olá, Sarin; boa noite.
Poderíamos encará-la assim. Uma necessidade desviante, se excepções nos mostrassem outro comportamento na condição humana, mas se bem atentarmos é precisamente o contrário e essa necessidade desviante é a que verdadeiramente espelha a essência humana. Talvez a culpa nem seja nossa mas de Deus que libertando a inteligência deu azo a que quem poderia proteger é precisamente quem destrua.
Em toda a história da humanidade, dos primórdios à actualidade a real força que sempre o homem motivou foi respeito e admiração.
Por essa realização objectiva e única se submeteram nações, se aniquilaram civilizações, se anexou território, se escravizaram povos, se roubou e matou indiscriminadamente.
Não seria nada de mais, todos os animais na natureza se impõem pela força, não fosse que nenhum deles humilha e submete a sua própria espécie.
Mas também não desenvolveram o dom da comunicação. :)
Quem és tu, estranha criatura
Que semeias tamanha devastação
Serás tu porventura
O Anjo da aniquilação?
Dobra o teu orgulho meu filho
Por cima de ti está Ela
Nunca terminarás teu trilho
A mesma foice pelos outros te nivela.
E este mundial está a ser uma miséria de futebol. A continuar, afiguram-se-me grandes probabilidades de trazermos o caneco.
:)
De Sarin a 19.06.2018 às 01:19
Grande gargalhada agora, caro Corvo! C'um caneco!
Mas comungo da sua opinião quanto a isso :)
Não comungo a sua fé em Deus - mesmo aceitando que existisse e nos tivesse criado, não acha que já teria abdicado da omnipotência que, afinal, O impedia de desistir de Si - já que nós, a Sua maior criação, saímos isto??
Se a comunicação nasceu da necessidade de granjear respeito e admiração, belas plumagens teriam sido suficientes :)
De Corvo a 19.06.2018 às 13:40
Bom dia, Sarin.
A minha fé não é relevante e nada tem a ver com Deus. É a fé de todos e Deus só vem por acréscimo, por habituação, figura de retórica.
A fé nada mais é do que a expectativa de probabilidade de concretização de um objectivo.
Deus, o que penso ser Deus, o conceito que Dele faço, o significado de Deus para mim é algo que, talvez, um dia me apraza discorrer.
Um excelente dia para si.
De Sarin a 19.06.2018 às 13:49
Discorramos então um dia sobre a matéria :)
Boa tarde, e até breve
De Einsturzende neubauten a 19.06.2018 às 18:31
Corvo, é por a maldade ser natural que o Bem tem tanto valor. Também a crueldade existe noutros animais (veja o que sucede às crias de um Leão alfa caído em desgraça). Dirá que essa crueldade bestial visa um propósito de Poder, mas também a crueldade humanitária tem esse fim, mesmo quando não parece. Assim também a nossa ferocidade nunca é gratuita
De Corvo a 20.06.2018 às 02:28
Einsturzende neubauten, boa noite...agora bom dia :)
Antes de mais desculpe o atraso da resposta, mas não pensava que tivesse interagido comigo. Daí o motivo.
Não concordo que, exceptuando o homem, a crueldade exista em qualquer outra espécie.
Colocou a questão sobre o que sucede a uma família de leões, concretamente às crias quando um novo leão destrona o ancião e lhe usurpa o lugar. É verdade, mas não é crueldade.
O que predomina, o que instiga o comportamento animal na natureza, qualquer que ele seja e local habite; terra, mar e ar. Todos sem excepção querem comer. Essa é a motivação que os alavanca. Comer.
A vida normal de um leão, já que esse nos serve de exemplo, na sua plenitude de pujança e poderio não ultrapassa os dez anos. A partir daí entra em declínio por comparabilidade com outro mais jovem que só esperava a ocasião propícia. Entra em confronto com o ancião, derrota-o e com a morte ou a fuga desse, assume a chefia do clã e trucida as crias existentes. Mas não por crueldade. Simplesmente porque sem crias as fêmeas tornam-se receptivas. Afinal foram quatro, cinco, seis oito ou mais anos de abstinência sexual. Para ser crueldade teria de ser considerado tal procedimento à luz da inteligência.
Uma cobra pode picar-nos, não por crueldade mas porque o instinto de lhe ditou que a nossa presença era uma ameaça à sua sobrevivência. O mosquito pica-nos não para nos causar dor, mas porque o sangue lhe é necessário à postura.
Todas as espécies agem de acordo com o instinto inerente a cada uma delas, mas nunca por maldade premeditada.
Crueldade deliberada, ódio, vingança, maldade pura é privilégio da nossa espécie. Nenhuma outra conhece esses sentidos.
Resto de uma boa noite.
De Einsturzende neubauten a 19.06.2018 às 18:23
Atenção, que existem formas de comunicação muito complexas, não humanas (ex: golfinho ). Corvo, falar para enganar a solidão tem, em última análise, uma origem para o nosso próprio interesse. A saber, enganar a solidão. Porventura , através da linguagem, foi necessário um qualquer auto-convencimento e só mais tarde o convencimento dos outros. Sendo também, o ritmo do dito , apaziguador quero crer que, tanto como o seu som , apaixonamo-nos pelo ritmo da palavra. E voilà começamos a cantar antes que falar, como outrora a poesia antecedeu a prosa na tradição bárdica.
Sobre a Palavra:
Depeche Mode - Enjoy The Silence
https://youtu.be/-_3dc6X-Iwo
De Corvo a 20.06.2018 às 03:16
Penso que a comunicação através da palavra emergiu por necessidade de sobrevivência. Quando o macaco, por acaso, levantando as mãos do chão descobriu que afinal com um pouco mais de insistência conseguia na mesma manter o equilíbrio, paralelamente também descobriu que conseguia ver mais longe.
Descoberta importantíssima, vantagem que permitiu, talvez aos seres mais inábeis e vulneráveis daqueles selvagens habitats de então, sobreviverem. A presa via-se melhor. Sinal de uma espécie de inteligência.
Mas não era suficiente. Então outro acaso surgiu, este providencial. Literalmente. O instinto foi-se gradualmente arredando comprimindo-se pela inteligência que chegava, e daí à comunicação oral foi um passo
Tu vais por ali, tu e tu cercam o bicho por ali, tu cercá-lo por além que o gajinho perde o tino sem saber para onde se virar, escapule-se por aqui e cá estamos nós para lhe dar sumiço.
Não propriamente assim explicitado, mas de sentido muito semelhante.
Resultou e como o essencial era arranjar comida, nada como uma boa motivação para aguçar o engenho.
E assim se desenvolveu a comunicação oral. E se não foi assim poderia perfeitamente ter sido, ora essa :)
De Einsturzende neubauten a 20.06.2018 às 10:35