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Tejo que não levas as águas

O que talvez explique os novos crimes fome terror

por Sarin, em 15.11.19

Partilhamos o Tejo, o Douro, o Guadiana e mais uns quantos rios com os nossos vizinhos espanhóis. Nunca foi uma partilha pacífica, a gestão das águas a funcionar ao abrigo de planos independentes que comprometem ambos os países. Ora são as cheias provocadas pela abertura de comportas do lado de lá, ora são as falhas pelo incumprimento dos caudais mínimos ou, até, as contaminações vindas do outro lado da raia... mesmo o Alqueva, construído com fundos afectados a Portugal, tem sido mais aproveitado pelos espanhóis do que por nós. Abuso deles? Sim, sem dúvida. Mas, acima de tudo, falha nossa. Nunca tivemos um verdadeiro Plano Nacional da Água, que olhasse os recursos hídricos com a importância que  efectivamente têm e que nestes vissem uma questão de soberania nacional e de coesão territorial.

Soberania, pois que sem água não há agricultura, não há indústria, não há saúde pública - e pouco sobra para não haver.

Coesão territorial, porque sem uma eficaz redistribuição das águas pelas populações, e sem a vigilância da sua potabilidade, aumenta o risco de desertificação. Parte da população está ainda sem acesso a água do serviço público, 7% no norte, 9% no Alentejo e outro tanto no Algarve. Estes são os primeiros, também, a terem acesso condicionado à água quando esta escasseia - enquanto em Serpa as torneiras só abastecem x horas por dia, em Lisboa as rotundas continuam a ser regadas.

Isto para dizer que não basta gerir as Regiões Hídricas, há que pensar a organização do aproveitamento, do tratamento e do abastecimento como um todo, pois que a coesão passa também por aí.

Enfim, é este postal apenas um lembrete. Porque os espanhóis se preparam para, oficialmente, desrespeitarem a garantia dos caudais mínimos nos rios que também são nossos, mas não estarão isolados na responsabilidade pelas consequências que sofreremos.

 

Os título e sub-título são uma usurpação desta canção. Nem Manuel da Fonseca, que lhe escreveu os versos, nem Adriano Correia de Oliveira, que a musicou e cantou, me levariam a mal pelo seu uso. Acredito, até, que tristemente  aplaudiriam.

 

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

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lançado às 12:23

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



13 comentários

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De Ricardo Nobre a 16.11.2019 às 06:54

Só depois de enviar o texto me lembrei de que é benfiquista, mas há uma parte da população (espero que reduzida) que pensa: «O que é o Benfica?» (não resisti à piada; sei perfeitamente o que é porque já fui ao Colombo algumas vezes).
Mas volto à água. O discurso público é desfavorável à água. Quando chove, na televisão diz-se «mau tempo», mesmo quando estamos em seca. Tudo o que é associado à chuva é mau, quando a chuva é o contrário de mau. Dos caudais dos rios só se fala quando há esses problemas de que o seu texto trata: demasiada água ou seca.
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De Sarin a 16.11.2019 às 13:35

É uma questão cultural, sim.
Tal como é cultural esperar que troveje para recordar Santa Bárbara: nunca vi uma estratégia para os recursos hídricos, à esquerda ou à direita. Não apenas para os rios e aquíferos, mas para a Água. Continuamos a não aproveitar as águas pluviais, continuamos a não desimpedir linhas de água... nem sequer se limpam caleiras e esgotos. Por isto a chuva ser má, coitada da chuva.

[a palavra a quem a quer]




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