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cabeçalho sobre foto de Erika Zolli
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Partilhamos o Tejo, o Douro, o Guadiana e mais uns quantos rios com os nossos vizinhos espanhóis. Nunca foi uma partilha pacífica, a gestão das águas a funcionar ao abrigo de planos independentes que comprometem ambos os países. Ora são as cheias provocadas pela abertura de comportas do lado de lá, ora são as falhas pelo incumprimento dos caudais mínimos ou, até, as contaminações vindas do outro lado da raia... mesmo o Alqueva, construído com fundos afectados a Portugal, tem sido mais aproveitado pelos espanhóis do que por nós. Abuso deles? Sim, sem dúvida. Mas, acima de tudo, falha nossa. Nunca tivemos um verdadeiro Plano Nacional da Água, que olhasse os recursos hídricos com a importância que efectivamente têm e que nestes vissem uma questão de soberania nacional e de coesão territorial.
Soberania, pois que sem água não há agricultura, não há indústria, não há saúde pública - e pouco sobra para não haver.
Coesão territorial, porque sem uma eficaz redistribuição das águas pelas populações, e sem a vigilância da sua potabilidade, aumenta o risco de desertificação. Parte da população está ainda sem acesso a água do serviço público, 7% no norte, 9% no Alentejo e outro tanto no Algarve. Estes são os primeiros, também, a terem acesso condicionado à água quando esta escasseia - enquanto em Serpa as torneiras só abastecem x horas por dia, em Lisboa as rotundas continuam a ser regadas.
Isto para dizer que não basta gerir as Regiões Hídricas, há que pensar a organização do aproveitamento, do tratamento e do abastecimento como um todo, pois que a coesão passa também por aí.
Enfim, é este postal apenas um lembrete. Porque os espanhóis se preparam para, oficialmente, desrespeitarem a garantia dos caudais mínimos nos rios que também são nossos, mas não estarão isolados na responsabilidade pelas consequências que sofreremos.
Os título e sub-título são uma usurpação desta canção. Nem Manuel da Fonseca, que lhe escreveu os versos, nem Adriano Correia de Oliveira, que a musicou e cantou, me levariam a mal pelo seu uso. Acredito, até, que tristemente aplaudiriam.
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