Sarin - nem lixívia nem limonada

 [escrever um texto sem uma única letra "a", no máximo, em 100 palavras]

Recordo o doce gesto que me estremeceu, o teu corpo no meu, envolvidos.

Começou num lento peso doble, lento beso doble, lento, e logo eu estendendo-me no teu seio, entregue nesse ir e vir dolente que foi o teu. Tremi sentindo-te forte, duro, o meu corpo derretendo-se sob o teu peso, premido, premente... Nisto minutos esquecidos, tu e eu e os sussurros perdidos entre corpos, entre nós. 

De súbito, o frio que me quedou inerte e informe. Ergueste-te e foste-te, e nem um último vislumbre, os meus sentidos sem norte, o meu corpo sem sorte estendido sem rumo.

Fiquei, só.

[100]

imagem de Chema Madoz

uma resposta ao meu desafio, solicitada pela Ana de Deus

é, também, um desafio da abelha

o meu está aberto a todos os que visitam este burgo. a Almoxarife, a Menestrel e a Bobo agradecem a participação. eu agradeço ainda mais.

[Desafio: uma história em exactamente 10 palavras]

I

procurou-a. nunca o encontrou. morreram como viveram: abraçados de costas.

II

quente sol no solo chão, neve semente e foice: pão.

III

fugiu dele e fugindo encontrou-se onde nunca tinha estado: nela.

IV

cada dia em branco era-lhe uma história acontecida por tecer.

V

foi e voltou sem nada ver. era cego de mundo.

VI

não tinha barriga. comia pratos cheios de fome bem passada.

VII

aniversariante, soprou as velas - foi um ar que lhe deu...

VIII

roendo o rabo, rodou, rodou, roendo o chão. adeus, cão.

XIX

- saia ou não volte!

não voltou, preferia calças de ganga.

X

era uma vez uma pena que nasceu poeta. morreu solta.

Imagem: Chima Madoz

um desafio da abelha, para me ambientar.

dez histórias, pelo tempo que estive ausente.

cem palavras, porque dez eram poucas.