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cabeçalho sobre foto de Erika Zolli
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Não faltam temas para abordar.
Mas falta-me o tempo de estar bem, que isto de ter doenças crónicas numa altura de confinamenteo é uma chatice e maior chatice quando o desconfinamento coincide com a pior época para a crónica - a doença e as que escrevinharia se esta deixasse...
E escasseia-me o ânimo ao ler incongruências e absurdos e atropelos escritos como vividos - sem pasmo nem alarme porque normais. As notícias destes dias... sempre soube a História cíclica, nunca a supus em ciclos tão curtos. Revivemos a corrida ao Espaço, revivemos os tumultos raciais, revivemos a nova alvorada do fascismo e do nazismo em países que supúnhamos - que se supunham! - bastiões da democracia. Os outros, enfim, os outros continuam iguais, as lentas conquistas continuando lentas, muito lentas - mas, ainda assim, sendo mais conquistas do que retrocessos.
Muito menos lentamente, a actividade costumeira aqui no burgo será retomada - mas tardará ainda um pouco. E incialmente estará a cargo da Almoxarife, preocupada que anda com os compromissos pelo Rasurando e pelo SardinhaSemLata... mas a Bobo e a Menestrel tentarão aparecer, irrequietas que são.
Em jeito de agradecimento pelo vosso apoio e preocupação, deixo-vos um vídeo original de Peter Gabriel com uma música cujo conceito urge recuperar: Games without Frontiers.
Tenho sono.
Um sono lento, ferido pela noite mal dormida e que me foi companhia todo o dia, correndo-me numa estafeta que nenhum dos dois ganhou, nas horas o testemunho deste nada que me madrugou e anoiteceu. Nada me apetece, de nada tenho vontade... durmo já, terei talvez dormido o dia de olhos entreabertos, afundando-me nas olheiras do estar-me nas tintas para as cores do hoje que mal vi. Deixarei as palavras para outros sóis e vou-me ao remanso de silêncio sem lua para que amanhã me seja um dia inteiro. Ou eu inteira.
Boa noite, cama.
Boa noite, quarto.
Boa noite, noite.
Boa noite.
De nós saem fitas que se enlaçam nas fitas de outros, e assim nos ligamos. Assim encontramos pessoas, assim as conhecemos, assim construímos relações. Assim construímos famílias - de sangue e de peito, que o sangue por si nada entrelaça mas o carinho sim, e não menos família os amigos que escolhemos. Cada fita uma pessoa, intransmissível, e única.
Em tempos de confinamento, haverá quem se confine em si mesmo e no pequeno universo onde em clausura. Mas a vida continua lá fora, na vida dos outros encapsulados também. Há que manter, alimentar os laços que nos unem, mesmo que doa romper o confinamento em nós.
Não se podem adiar, estes laços. Não se podem arrumar numa prateleira porque agora não apetecem - do outro lado, os outros continuam a estar, a nutrir este mesmo laço.
Há que manter, alimentar os laços que nos mantêm inteiros e conscientes dos outros. Até uma breve conversa é sinal de que estamos aqui, em nós, mas também ali, com eles. Continuamos com eles. Mesmo que não apeteça, tão mais doce o nosso silêncio!, em algum dia teremos de relembrar o laço e vencer a falta de apetite - porque as traças rompem os laços arrumados até das fitas restarem apenas traços de pó.
Ou então desatemos tais laços, para que não se dissolvam na espera. Um laço bem desatado não rompe as fitas nem as deixa de pontas soltas, pois que as enlaça num outro nó ou as enrola até outro presente.
Um laço dissolvido na espera não deixa fitas. E só temos uma fita para cada outro.
Qual a resistência de laços traçados?
Não há vacas sagradas.
Mas há muitas vacas fustigadas.
Que se fustiguem vacas que atacam, compreendo. Mas nunca perceberei os que fustigam as vacas só por serem vacas.
Menos ainda perceberei os que ao atum chamam vaca para poderem fustigar a vaca - por ser vaca.
Hoje é o Dia da Poesia
e não me apetece o verso.
Tenho desfeito o peito,
sem rima mas com reverso
e o verbo foge
triste
porque todos os dias
são dias de poesia
mas nem todas as noites
adormecem no poema.
é assim, vazio e longo e à espera de acontecer. como esta página em branco.
que te sintas beijado. que te sintas acarinhado. nunca a distância foi maior prova de carinho.
Escrevo a tinta pensada e com desditadas palavras imprimo longas páginas em branco.
Dia virá que as escreverei por aqui. Mas ontem não foi a véspera desse dia.
Boa semana.
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