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cabeçalho sobre foto de Erika Zolli
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Bolsonaro, homem atento por indicação divina e sábio por decisão própria, decidiu em Janeiro (re)criar o Conselho da Amazónia, que para trás fica o passado. Este Conselho inter-ministerial, criado por decreto em 12 de Fevereiro, parece que, e perdão pela gramática mas outra não é possível, estará a preparar-se para preparar um plano que incluirá acções repressivas contra a desflorestação da Amazónia. Ou assim se depreende do que foi dito em Março pelo Vice-Presidente Hamilton Mourão, que é também chefe do Conselho. Enfim, reuniram finalmente na semana passada - mas a preparação para prepararem um plano continua.
Bolsonaro, homem crente na protecção da sua igreja, desde o dia 6 de Abril que se sentirá defraudado por ver que, afinal, o SARS-CoV-2 é um ateu inveterado e não liga a rezas nem a ordens de homens santos.
O que, na verdade, até poderá ter sido uma bênção, já que se o incréu e desrespeitoso vírus tivesse obedecido, agora este Messias feito Presidente de tolos os cidadãos que nele votaram e também dos outros, este heróico lutador contra a loucura do coronavírus, ficaria sem argumentos para justificar o aumento de 51% de desflorestação na Amazónia face ao primeiro trimestre de 2019, o seu primeiro também.
Com um vírus pouco inteligente, desobediente e absolutamente alheio a poderes divinos ou messiânicos, Jair e seus capangas, perdão, colegas, sempre poderão dizer que esta subida se deveu ao empenho do governo nas medidas de combate ao coronavírus, como sugeriu Mourão.
É, o governo bem que se empenhou... Mas foi o governo regional, não o federal. E, ainda assim, Bolsonaro deve ficar feliz: o Grande Irmão está em acção, e é brasileiro!
Quem chega ao aeroporto, automaticamente entra em quarentena. Temos um aplicativo que monitora essa pessoa. No momento em que ela desembarca ela tem a temperatura medida, nossas equipes fazem uma entrevista com essa pessoa, baixa um aplicativo no celular dela e ela vai sendo monitorada com georreferenciamento. Ela dá o endereço dela e temos condição de saber no sistema se está em casa ou se está saindo.
imagem: Peso Muerto, no Blog do Esmael
Peça, Se me agiganto
Intérprete, Linda Martini e Ana Moura
Letra e música, André Henriques (letra) e Linda Martini (música) (2018)
Motivo da dedicatória: Se for necessário explicar... Talvez seja melhor um desenho
Não me apetece ler textos motivadores, não tenho riso para as piadas, não me interessa saber como vai a vossa vida dentro de quatro paredes. Hoje não quero saber do quotidiano para nada!
Porque ontem ouvi Bolsonaro desautorizar os Governos Estaduais e dizer que os centros comerciais e as escolas e os parques só fecharão quando o Governo Federal decidir. E o Governo Federal está a levar a COVID19 como leva todas as outras matérias: com o samba no pé e o Credo na boca. Literalmente, o Credo na boca, que o Messias crê que os pastores são os mais sábios no orientar os seus rebanhos. E nos EUA iria parecido, mas vão arrepiando caminho, uma no cravo e outra na cavalgadura que é Trump. E pela Europa temos alguns que bem os tentam igualar, e oxalá as gentes que os defendem abram os olhos e percebam o calibre de tais milagreiros.
Porque ontem ouvi um padre português dizer que não podia nem iria deixar os fiéis sem missa, depois de a Conferência Episcopal Portuguesa ter suspendido as missas com fiéis e o Papa Francisco ter vedado a Praça de São Pedro às celebrações da Páscoa. E não me espanta que com tais catequistas cada um faça o que lhe apetece, como na Póvoa do Varzim, onde as gentes passeavam como se Primavera em 2019, as autoridades de segurança a meterem-lhes o calendário e os números dos infectados pelos olhos dentro tendo bem mais o que fazer.
Porque ontem ouvi o responsável por uma empresa de floricultura, das 5 grandes que há no Algarve, lamentar a perda total da produção que se avizinha, estufas enormes que exportavam tudo quanto produziam. E lembrei-me que quase somos auto-suficientes na produção de batata, com uns redondos 70% contra menos de metade de quase tudo o resto.
Porque ontem ouvi e continuei a ouvir a inércia de uma União que ainda recentemente chamei Comunidade Económica, e que hoje já nem isso. E, agora, que cada Estado-Membro faça o que quiser e no fim veremos o que sobra.
Porque ontem vi, todos vemos, todos os dias, os números da COVID19, e desculpem que vos pergunte: se é com palavras bonitas e desenhos fofinhos que esperamos ultrapassar esta crise, para que raio haveremos de a ultrapassar pois se iremos cair no mesmo?
Não me entendam mal, por favor: é fundamental manter a sanidade mental, e todos teremos os nossos mantras, entre desenhos e palavras e sei lá. Mas se há altura em que nós, os que agora estamos em casa, nada podemos fazer além de inventar uma nova normalidade, é esta. Nada podemos fazer, mas muito podemos pensar. Podemos ler. Podemos discutir. Podemos reprogramar-nos e podemos preparar o que queremos exigir - enquanto indivíduos, enquanto cidadãos, enquanto sociedade. Nunca o tempo esteve tanto a nosso favor.
Por isso, não, hoje não me apetece mesmo nada saber como está a correr a vossa vida entre o quarto e a cozinha nem quero saber quantas tranças conseguem fazer em cada perna ou o que disse alguém muito citado sobre qualquer coisa muito íntima e muito genérica. Hoje quero saber quantos de vós estarão a perguntar-se o que terão feito pelo SNS e pelas empresas de sectores estratégicos, como energia e telecomunicações, os deputados em quem votaram. Ou porque terei falado nestes sectores e não noutros. Ou que pensem porque nem votar foram, agora que sentimos na pele o que são as políticas estruturais. Sentimos na pele, não apenas na carteira, e sentir na pele belisca mais. Quero saber quantos de vós se interrogam o porquê de termos tanta empresa dedicada ao Turismo e tão pouca dedicada à produção alimentar, e quero que indaguem, que leiam, que tentem seguir as políticas que têm sido definidas onde e por quem, e quero que pensem nas implicações das nossas decisões e indecisões na hora de votar, de exigir, de facilitar.
Hoje só quero isto. Querer não custa, não é?
Boa continuação.
imagem de WILMARX
O PSOE ganhou as eleições. Mas dizem que ficou pior do que antes, que a Sanchez será mais difícil formar governo agora que a direita sai reforçada.
Antes de tudo, convém dizer que a direita está praticamente onde estava, apenas ganhou 3 deputados (o mesmo número que o PSOE perdeu) tendo passado por um processo autofágico: o Ciudadanos cedeu 47 dos seus deputados, dos quais 28 ao Vox (passa de 24 para 52) e 19 ao PP (passa de 66 para 88)
Ao contrário dos analistas, desde os especialistas a todos os outros mais bem ou mais mal informados, penso que Sanchez terá condições para formar governo mais facilmente.
O Podemos perdeu o papel de fulcro, a governabilidade já não depende apenas de Iglesias - que, se antes poderia ter a pretensão de dominar quatro ministérios, neste momento não estará em posição de exigir muito. A menos que não se aperceba dos sinais de instabilidade no reino, o mais notório o esvaziamento do Ciudadanos para os partidos à direita.
Por outro lado, os partidos autonómicos têm tudo a ganhar e talvez consigam trazer a debate a revisão constitucional que as revisões dos estatutos autonómicos de 2006 evidenciaram necessária. Não terão deputados suficientes para a aprovar e levar ao Senado, já que o PP e o Vox nunca votarão a favor de mais autonomia, mas poderão colocar na rua a discussão "Mais autonomia vs Independência".
E, entre todos estes, Sanchez pouco mais poderá fazer do que gerir e tentar manter a governação à esquerda.
Tenho por improvável a coabitação prolongada do PSOE unificador com os independentistas - acordos pontuais visando afastar a direita, ser-lhes-à fácil; mas Sanchez quer uma Espanha coesa e não acederá a quaisquer medidas que robusteçam independências no médio prazo.
Ainda assim, suponho que o novo governo esteja em funções tempo suficiente para que o debate sobre maior autonomia ganhe força. Talvez que se dominem os ímpetos independentistas e, por equilíbrio de forças, também a extrema-direita.
E não, não é apenas por ser meu desejo - em 2006 a Catalunha apenas queria mais autonomia. E se o terrorismo independentista basco atemorizou e devastou famílias durante anos mas não enfraqueceu os governos, estes 13 anos de braço-de-ferro com a Catalunha provaram que os governos ficam muito mais vulneráveis quando tentam minar os processos políticos.
O mundo tem acontecido enquanto eu fora daqui.
Não me quero esquecer de escrever sobre a desigualdade salarial entre mulheres e homens em Portugal, 16,7% a ser muito dinheiro de diferença. O que até nem parece mau quando sabemos que o Japão continua a ser notícia pelas múltiplas posturas discriminatórias dos empresários para com as funcionárias, incluindo em questões de saúde.
Nem sobre os problemas associados à exploração de lítio, entre eles o poder colocar em causa a classificação do Douro como património mundial da Unesco - e, não tardará muito, desconfio que também a própria certificação da mais velha região vitivinícola demarcada do Mundo. [Esta última é conversa minha, não li em lado algum. Calma, posso ser apenas pessimista, até porque não há nenhuma potência internacional ansiosa por ganhar este nosso mercado mundial]
Fica a nota.
Boris Johnson prometeu encontrar um acordo para o Brexit sem comprometer o Acordo da Sexta-Feira Santa, garantindo assim sair da UE sem criar fronteiras físicas entre as Irlandas.
E cumpriu. Pegou no acordo conseguido por Theresa May que ele mesmo havia contestado e eliminou-lhe a união aduaneira do Reino Unido com a UE, garantindo a Londres liberdade para negociar os acordos comerciais que entender.
O problema é que Boris tirou a fronteira da Ilha da Irlanda e colocou-a ali mesmo ao lado, no mar que também se chama da Irlanda. Que é como quem diz, tirou as fronteiras da soleira e colocou-as dentro de casa. Porque, com a proposta de Johnson, a Irlanda do Norte fica sujeita às regras da União Europeia mas integrada no espaço aduaneiro do Reino Unido, que será o único responsável pelos controlos alfandegários. Confuso? É.
E os nacionalistas irlandeses, até aqui apoiantes de Johnson, não estão confortáveis com a solução encontrada... um reino, dois sistemas?
O Parlamento Britânico terá ainda de aprovar este acordo. Se conseguir.
Entretanto na União Europeia Comissão e Conselho aplaudem aprovam aplaudem e já só esperam que o divórcio se consuma sem nos consumir de cansaço ou de outra coisa qualquer.
imagem: Estudo Prático
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