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Estou habituada a usar e a ler as palavras pelo que valem. Exactamente pelo que valem, não pelo valor que suspeito o Outro tenta atribuir.
Não incluo aqui, como é óbvio, a ironia e o sarcasmo, cuja tónica resulta do contexto mais do que da palavra usada.
Nem a Poesia. Mas essa depende da Alma, e como hoje falo de Prosa prometo desde já comportar-me.
Gosto de comunicar. Porque gosto de debater, de aprender, de ouvir, de rir, de pensar.
E gosto da nossa Língua. Rica, antiga, cheia! Mas temos tantos vocábulos e no quotidiano usamos em média apenas 3%... que desperdício!
Enfim, gosto mesmo da nossa Língua, e não me basta o vocabulário ser riquíssimo, ainda gosto dos sinónimos que temos para quase tudo. Muitos sinónimos!
Assim, perante tantas opções, não me é indiferente a escolha de um vocábulo em detrimento dos outros que se lhe assemelham em significado. Assemelham, não igualam… e é aqui, na subtil diferença, que reside a riqueza e, tantas vezes, a falta de compreensão.
Dou um exemplo que pode ou não ser espantoso, esperando que a explicação não seja considerada fantástica mas que contribua para despertar ou manter o gosto pela nossa admirável Língua.
Ser "espantoso" ou "admirável" não é exactamente o mesmo que ser "fantástico" – embora genericamente assim se use. Quase genericamente.
Espantoso causa espanto ou estranheza por ser diferente ou desconhecido ou inédito, admirável provoca admiração que pode ser espanto ou ser respeito e até veneração, enquanto o fantástico pode provocar tudo isto mas será sempre de outro mundo - do reino da fantasia, mais concretamente...
- Esse desenho é espantoso!
- Estás a dizer que é bom ou nem por isso?!
- Desculpa, esse desenho é fantástico!
- Então?! Fui eu que o fiz, não veio de Arrakis!!
- Pronto, esse desenho é admirável!
- Obrigada :)
- Mereces admiração por teres conseguido fazer dois rabiscos paralelos...
(Ok, não era o elogio esperado, mas sempre é um voto de confian… não?! Humm…)
Duas palavras serem sinónimas não obriga a que “sejam o mesmo”. Depende do contexto onde são usadas. E independentemente de os significados serem parecidos num dado contexto, a verdade é que ainda dependem de quem ouve.
A comunicação já tem tantos bloqueios e ruídos que não posso controlar, pelo menos que seja clara na escolha das palavras.
A palavra mais adequada a cada frase, a cada pessoa, a cada situação.
É mais fácil assumir responsabilidade pelo que digo quando o digo à medida do que sinto e penso.
Claro que à exigência que me coloco no que escrevo e digo tenho que aliar a tolerância ao que, por sua vez, os outros dizem e escrevem - na forma e no conteúdo.
Não para justificar pedir tolerância para com as minhas falhas.
Apenas porque seria insensato esforçar-me para me explicar e não me esforçar para entender.
Certamente que, sobre as que não são sinónimas mas usamos como se o fossem, arengarei outro dia. Provavelmente.
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