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Num artigo de opinião publicado na Visão, leio no cabeçalho que a tolerância nem sempre é tolerável. (As)saltam-me visões de revoltas populares, extremismos, convulsões sociais... e depois leio o artigo. Que logo nas primeiras linhas me demonstra apelar não à intolerância mas antes à aceitação da diferença, e continua tal mensagem a luzir-me no texto enquanto eu leio entre agradada e desconfortável porque crente no fim mas descrente do meio.

 

É importante aceitar que a diferença é um direito tão válido como a igualdade, e que nisso devemos mesmo ser iguais, os indivíduos. E que a concórdia na sociedade e entre sociedades vem desta aceitação, não apenas da não-agressão - e muito menos da condescendência ou da indiferença, como bem escreve José Brissos-Lino, doutorado em psicologia, professor universitário, pastor protestante, articulista.

 

Sim, tolerar é suportar, é aguentar. Mas se suportar se pode ler sofrer, e com este toda a repulsa e inacção, também se pode entender como ser suporte, e por aqui pensar a segurança e a força, a acção de retirar obstáculos.

Porque Tolerância é, também por definição, aceitar a liberdade de expressão da diferença e reconhecer-lhe o direito equânime de existência.

Que, em bom rigor, diverge de aceitar a diferença, já que aceitar pode ser lido como aprovar,  contrariando implicitamente a desejada liberdade individual de escolha e o direito ao seu exercício; ou poder-se-à entender como receber, abraçar, aderir  à diferença em causa, substituindo a coexistência de diferenças pela uniformização de pensamento/sentimento.

Ser tolerante não é, assim, exactamente o mesmo que ter tolerância.

Ser tolerante não admite condescendência nem resulta de indiferença ou inércia, pois que parte da premissa mais básica: o outro existe, logo é por direito próprio e não carece de aprovação ou validação para ser, para existir.

Ser tolerante não compreende imposições ou limites nem tampouco gradientes: é uma tolerância sem escala, ao contrário da tolerância à dor.

 

E por tudo isto, concordando com a mensagem do artigo, "coexistência harmoniosa das diferenças religiosas" (e ideológicas e morais, acrescento eu), discordo do argumento usado.

Não, caro Doutor J. Brissos-Lino, não me parece que a tolerância seja "um conceito enganador, uma vez que não significa aceitação da diferença" - pelo simples facto de que, conforme aduzi, não pretende significar tal. 

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

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lançado às 00:44

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



61 comentários

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De Vorph "ги́ря" Valknut a 14.11.2018 às 21:58

A Afd é possível devido ao revisionismo histórico e da moral que em última análise concluem que o mal é relativo, assim como equiparam a informação "informada" a mera opinião. As pessoas perdem a vergonha de serem bichos pois ser chimpanzé é tão digno como ser Homem. Tudo uma questão de gosto. A Afd não pode tomar conta do Poder e mudar a constituição alemã pois existe oposição,  tribunais independentes do Poder político ...ao contrário das teocracias e regimes ditatoriais 
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De Sarin a 14.11.2018 às 22:14

Apenas te falei da AfD porque disseste que matarias Hitler :)


O mal ser relativo? Não, o mal não é relativo, o mal é universal porque inato - matas para comeres, se fores guloso matas mais; e aprendes a matar para te vestires e para te calçares e por confortos vários. A fêmea selvagem mata para defender a cria, e deixa a cria ao abandono se a sentir inviável. Há fêmeas humanas que idem.
A razão é o contrapeso da maldade, a insensibilidade transforma o mal em Mal.


Confundes dignidade humana com direito animal à vida não antropocêntrica? Ena! Chimpanzé, chimpanzé, chimpanzé...

[a palavra a quem a quer]




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