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os baixos salários em Portugal

por Sarin, em 19.11.19

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Numa altura em que se discute o salário mínimo, talvez seja interessante tentarmos perceber um pouco do porquê de o salário mínimo ser baixo e de o salário médio ser quase mínimo.

15% dos trabalhadores portugueses são sindicalizados -  é provável que esta baixa sindicalização seja parte do problema, digo eu.

Não está em causa o funcionamento dos sindicatos, está em causa a perda de poder representativo e reivindicativo. Um trabalhador isolado, não organizado, não tem força para negociar o seu contrato, estará sempre em risco de ser ultrapassado pela dinâmica reivindicativa do seu colega, temerá pelo seu posto e deixa de ser solidário com o colega que recusa condições menos dignas.

Não está em causa a avaliação de desempenho - que, actualmente, não passa de anedota, fruto da cultura de gestão que prolifera nas nossas empresas - mas a definição de funções, condições e remunerações.

Seria uma análise simplista, esta de dizer que a responsabilidade é apenas de cada trabalhador, colaborador, recurso humano. Não, as políticas de emprego em Portugal e as próprias disciplinas da matéria têm contribuído para esta perda de representatividade. Motiva-se o colaborador para que contribua com alegria e empenho, noticia-se a greve pelos aumentos mas omitem-se todas as outras condições reivindicadas, flexibiliza-se o trabalho pseudo-temporário e criam-se ofertas de mão-de-obra barata via estágios profissionais (não os estágios de que falei ontem, que esses são caríssimos) e contratos de emprego-inserção, e mais um ror de recursos legais mas pouco legítimos.

 

Sou contra os sindicalistas profissionais - entendo que não se podem nem devem eternizar no cargo. Também me decepcionam os sindicalizados que apenas pagam quotas na esperança de que alguém decida por eles, mas estes ainda confiam a alguém esse papel, pelo menos entendem que a união faz, efectivamente, a força. Os que apenas contam consigo, e que são 85% dos trabalhadores portugueses, continuarão a vender o seu esforço, o seu tempo e o seu bem-estar por um salário mínimo ou por um salário médio cada vez mais mínimo. E, agradecidos, ainda dirão ser uma sorte ter trabalho. Não é! As empresas precisam tanto do esforço dos trabalhadores como os trabalhadores precisam das empresas, e apenas quando ambos os lados aceitarem esta realidade, só então, os sindicatos serão obsoletos.

 

Claro que temos o outro lado, o das empresas - PME asfixiadas com exigências que na prática nada acrescentam, a baixa competitividade fruto de desorganizações sectoriais, as políticas que colocam as pequenas empresas nas mãos das grandes (recordo, por exemplo, os agricultores dependentes das grandes cadeias de distribuição, os contratos de empreitadas dominados por grandes empresas que depois recorrem a subcontratadas). Mas é para isso que existem associações de produtores e associações de comerciantes e associações industriais. O problema continua a ser, também deste lado, a falta de organização.

 

imagem recolhida no Google. sem identificação de autor

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[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

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lançado às 13:10

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Obrigada por estar aqui.



31 comentários

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De MJP a 19.11.2019 às 13:37

Olá, Sarin! :)
Excelente reflexão... não poderia estar mais de acordo com o que escreves... subscrevo cada palavra! :)
Beijos
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De Sarin a 19.11.2019 às 13:51

Foi apenas um lamiré, que há muito por onde desenvolver o debate - mas, sem dúvida, a perda de peso das organizações sindicais junto dos trabalhadores é um dos factores que contribui para os baixos salários.
E o pessoal nivela por baixo, "olha para isto, têm emprego e só querem regalias", dizem os infelizes contentes...


Beijocas, MJP :)

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