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opiniões sobre Opinião

por Sarin, em 18.06.19

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Não me canso de o dizer: o jornalismo é fundamental para a democracia.

A propósito deste meu postal, um comentador também ele bloguista afirmou que "o foco não deve ser o jornal público" mas sim as actuações do regulador e dos seus responsáveis.

Discordei parcialmente mas, porque o digo tanta vez, não expliquei porquê. Talvez seja bom relembrar. Genericamente.

 

A Democracia assenta em 3 pilares: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judicial. Ao qual se junta um outro, o chamado quarto poder, informal mas muito importante porque escrutina e questiona os outros três: a Comunicação Social.

Supõem-se e desejam-se independentes uns dos outros, e espera-se que sejam transparentes e auto-regulados, com o quarto poder a ter especial papel nesta regulação por acompanhar, investigar, registar, divulgar e cruzar as actuações de todos, trazendo transparência a processos mais obscuros.

 

Sabemos, no entanto, que estamos longe da tal transparência e da tal auto-regulação dos poderes, e todos os dias notamos (e uso o plural porque a muitos o leio) que os jornais, qualquer que seja o canal usado, pouco têm contribuído para o tal escrutínio e para a tal transparência que se espera da sua acção.

Portanto, se notamos e apontamos as falhas na definição ou no desempenho do papel de um dos três poderes formais, porque não devemos questionar as falhas no desempenho do quarto, o jornalismo?

Até porque as falhas que apontamos aos outros três são-nos trazidas por este, quantas das vezes com a informação fragmentada, truncada, omissa... manipulada pelo vocabulário usado, pela estrutura dada, pelo posicionamento da própria notícia.

 

Questionar a forma da notícia, o quarto poder, não invalida questionar a notícia em si mesma, no caso os restantes poderes. Mas resulta sempre mais delicado quando não conhecemos nem sequer percebemos a dimensão do que nos é omitido - e as várias comissões parlamentares de inquérito que o digam.

 

Portanto, sim, continuarei a atentar na forma das notícias tanto quanto no seu conteúdo. Talvez até mais, pelos motivos expostos.

E não por ser mais seguro ou menos melindroso, não por simpatia ou preferência, mas porque mais objectivo: a forma da notícia está ali, à frente dos meus olhos. O conteúdo, porque incerto, exige-me muitas vezes cruzamentos de notícias várias em canais diversos - trabalho que deveria ser do jornalista, que não sou, e para o qual nem sempre tenho disponibilidade. Para quem nisto vê parcialidade, paguem-me e eu cruzarei elementos suficientes para escrever sobre o que quiserem - embora não como quiserem.

 

Já agora, porque a propósito, acrescento que tenho por princípio evitar discutir matéria em investigação - não porque não tenha opinião, mas porque suspeito da parcialidade da informação que me chega e, por extensão, da opinião que formo, que talvez queiram que forme. Mas tendo mais perguntas que respostas, o que me é normal em casos assim, posso chegar a ter suspeitas, ideias, mas nem lhes chamo opinião - e admiro aqueles que opinam com poucos dados. Admiro, não necessariamente respeito.

Assim, com uma opinião que nem o chega ser, esburacada por perguntas e alicerçada em omissões e factos fragmentados, discute-se o quê? Desconfio que apenas a opinião pública formatada à medida de insondados desígnios. E como considero que os investigadores e os juízes podem, sim, ser condicionados, influenciados, pela pressão da opinião pública, evito fazê-lo - por questões meramente de consciência, pois que não tendo voz fraca sei que pouco ou nada ecoa. Posso discordar das sentenças, mas creio nos mecanismos - e quando deles descreio, questiono a sua definição, o seu desenho, pelas falhas do mecanismo e não por me desagradar um resultado em particular.

 

Aparentemente, defender a regulação dos poderes também pelo escrutínio da comunicação social e depois advogar o silêncio para não condicionar a actuação dos escrutinados pode parecer paradoxal; mas não convém confundir os papéis de cada um: a justiça investiga e julga crimes, a comunicação social investiga e denuncia acções, não as julga, e o cidadão não julga as acções dos seus concidadãos mas sim as dos agentes do poder enquanto no desempenho dos seus cargos - para os julgar convém conhecer os factos e é aqui, exactamente neste ponto, que o postal inverte a cadência e volta aos parágrafos anteriores.

 

Estarei, com esta minha atitude, a rolar pedra montanha acima? Pelo menos não será castigo - e tenho consciência de que, se nada fizermos para a travar, é nas nossas costas que cai. Na nossa espinha, se por acaso não lhe sentem já o peso.

 

 

imagem de O castigo de Atlas, colhida no CulturaMix.com

 

Observação: notei, depois de publicar, que um dos parágrafos está destacado. Não foi propositado, não sei  sequer como aconteceu; mas como ao telemóvel e o editor não tem função que me permita formatar a letra, fica indevidamente destacado até o corrigir ao pc. Ignorem, sff. Grata.

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

Autoria e outros dados (tags, etc)

lançado às 16:33

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



25 comentários

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De imsilva a 18.06.2019 às 17:50

Tenho que vos dar o devido valor, enquanto eu só consigo publicar sobre as pequenas coisas que me acontecem no dia a dia, alguns de vocês,  fazem dissertações (e muito bem) sobre altas questões com relevância na nossa sociedade, vida política e afins. Sim, porque eu não tenho tempo para escrever, mas tento ter para vos ler, e muito vos agradeço,  porque às vezes consigo estar a par das situações através das vossas publicações. 
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De Sarin a 18.06.2019 às 18:06

Todos os blogues ocupam o seu próprio espaço, e o melhor é que podemos ter acesso a mundos distintos em cada um deles. O quotidiano é o que constrói a História, e olha como os investigadores deliram quando encontram tais registos dos que nos antecederam.


Tem a ver com apetência - acho que não me sairia grande coisa se tentasse partilhar o meu quotidiano... nunca tive paciência para manter um diário pessoal, de menina me vem esta coisa da comunidade :) Mas gosto de ler blogues diferentes, e divirto-me francamente com alguns episódios que tu e quem partilha o seu quotidiano me dão a ler :))
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De Sarin a 18.06.2019 às 18:10

Deixo-te um alerta: lê-nos, mas nunca aceites o que dizemos como facto. São opiniões, umas fundamentadas em várias fontes, outras nascidas de leitura breve e apressada, e outras ainda criadas para manipular. Há de tudo. Lê-nos, mas tira as tuas próprias conclusões ;)
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De imsilva a 18.06.2019 às 18:23

Não há o perigo de isso acontecer, sou muito senhora das minhas opiniões. Gosto muito de ler as vossas, e quando concordo, digo, quando não concordo, a maioria das vezes não comento, o que para mim é uma forma de respeito. A minha admiração vai para a vossa paciência de dissecarem questões para as quais, para além de eu não ter tempo, também já não tenho pachorra. Daí ser muito bom ter a papinha feita por vocês,  e depois é só ler as vossas conclusões e tirar as minhas ilações.
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De Sarin a 18.06.2019 às 18:38

Assim está bem :)
Mas peço-te: pelo menos aqui, quando discordares comenta. Porque gosto do diálogo, e as muitas perspectivas ajudam à evolução - de nada servem opiniões individuais e avulsas quando os temas  nos são comuns, certo?  
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De Luísa de Sousa a 18.06.2019 às 18:23

Sarin, concordo com o que escreveste, e acrescento, embora já o tenhas dito ....  cada vez mais exige-se espírito crítico para podermos ler as notícias, com a capacidade de questionar, analisar, reflectir sobre tudo o que nos "cai no colo" gratuitamente.
Gostei muito do post!
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De Luísa de Sousa a 18.06.2019 às 18:37

Tenho uma curiosidade Sarin ... És jornalista?
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De Sarin a 18.06.2019 às 18:50

Não sou jornalista, nem de humanidades sou. Ciências Naturais, base engenharia agrícola com algumas especializações e formações intensivas em gestão, em gestão de sistemas e em recursos humanos. Sou uma gaja curiosa que gosta de escrever e está habituado ao rigor e aos métodos científicos, e depois faço-vos gramar com postais cheios de ligações e referências a leis e regras e o camandro ;)
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De Luísa de Sousa a 18.06.2019 às 19:07

Ah ... Uma curiosa!!!
E olha que gosto muito do teu espírito crítico!!!
Continua nos "chocalhar" com os teus posts!!!
Beijinhos
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De Sarin a 18.06.2019 às 19:11

Obrigada, Luísa!


Enquanto puder, e sempre que puder, por aqui e por ali me apanhas - que eu escrevo e comento e navego... sou uma vadia, quando posso :)))
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De Luísa de Sousa a 18.06.2019 às 20:34

Beijinhos
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De Rui Pereira a 18.06.2019 às 23:10

Primeiro pensei que fosses cirurgiã, depois anestesista... Enganei-me! ;)
Quando à publicação, nada a acrescentar.
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De Sarin a 18.06.2019 às 23:19

Se foi pela precisão do golpe na enxertia, primeiro, ou depois pelos vapores dos fitofármacos, devo dizer que as alergias me afastaram do campo há muito :)))


Obrigada.
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De Sarin a 18.06.2019 às 18:54

O espírito crítico, incluindo o auto-crítico, é fundamental, Luísa! Não apenas para formarmos opinião mas também para procurarmos fontes e filtrarmos o que for válido em cada uma delas. Há ferramentas que nos auxiliam, mas de nada servem se não tivermos os filtros como método :)
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De Luísa de Sousa a 18.06.2019 às 19:08

Nem mais!!!
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De MariaLi a 18.06.2019 às 19:28

Também gosto de ler os teus posts, e, no geral percebo e concordo. Quase nunca comento. Eu sei que gostas que argumentemos, e que até discordemos, mas falta-me essa aptidão e, depois, fica tudo dito, tudo explicado. 
Parabéns por abordares temas tão pertinentes, para mim, claro. Que o país saiba estimar-te como de verdade mereces.
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De Sarin a 18.06.2019 às 19:48

Obrigada, Mariali. :)


Tento escrever como penso, nem sempre sou entendida, por vezes arranjo brigas por questões de princípio... mas não passo de uma anónima com um raio de acção reduzido e sem pretensões a mais. Fico feliz se levar aqueles que me lêem a pensar que há perspectivas e há princípios, e que os de cada um são mais uns, não os :))
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De Lobos disfarçados de cordeiros a 18.06.2019 às 20:11

Às vezes há coincidências pois eu também estou a falar sobre este assunto e outros parecidos, e espero fazer grandes revelações.

Disse que o jornalismo é fundamental para a democracia, eu digo que o jornalismo é fundamental para a civilização.

Com tanta diversão fala-se pouco no que é essencial. O foco deve ser tudo o que é importante e está errado.
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De Sarin a 18.06.2019 às 20:47

Não será coincidência pois o tema é-me recorrente :)


Penso que o Foco deve ser tudo o que é importante - o que está errado e o que está certo e o que não sabemos como está. Devemos louvar o que está bem feito, divulgar o que é bom dá ânimo e também educa - da mesma forma que devemos questionar e denunciar o que está mal. Acima de tudo, devemos criar os nossos próprios filtros e não nos arvorarmos em defensores da verdade única- não existe. ;)


Estou ansiosa pelos seus postais, já fui espreitar... boa sorte :))
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De Lobos disfarçados de cordeiros a 26.06.2019 às 11:52

Ontem à noite tinha um comentário seu por moderar num post meu. Começava por algo parecido com "Disse que ficava à espera dos seus posts". Mas como já era tarde não fiz nada. Hoje fui ver e não o encontro. Assim presumo que o apagou pois como eu disse não fiz nada. Caso não o tenha apagado, não vejo outra solução a não ser comentar novamente. Caso o tenha apagado é porque queria alterar algo e também pode comentar novamente :)).
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De Sarin a 26.06.2019 às 11:59

Olá :)
Não pretendia alterar nada no meu comentário, apenas entendi que o comentário crítico se destinava unicamente a si - presumi, erradamente vejo agora, que receberia alerta dos comentários via email, ficando assim com o registo :)


Se disponibilizar email, enviar-lhe-ei oportunamente os pontos principais.
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De Lobos disfarçados de cordeiros a 26.06.2019 às 13:28

Embora sem perder muito tempo eu cheguei a ler o comentário, e nele foi "mais papista que o Papa", por isso e por outras razões não percebi.
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De Sarin a 26.06.2019 às 14:29

Se me enviar email com o seu (o meu está na página de perfil) apontar-lhe-ei os pontos indicados anteriormente.


Nenhum investigador define o que vai investigar, seja jornalista, físico, bioquímico ou astrónomo. Segue pistas, que o poderão levar a descobertas distintas das que pretendia. Um investigador ou, no caso, grupo de investigadores, apenas pode definir regras de conduta, códigos que se compromete a respeitar. Se não partir desta premissa, arrisca-se a limitar, a cercear, a sua liberdade de investigação. A partir daqui nenhuma investigação avança.
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De Vorph "ги́ря" Valknut a 19.06.2019 às 10:48

Para quem gosta de cavar com as unhas:


https://linkurio.us/
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De Sarin a 19.06.2019 às 10:59

Não conhecia, obrigada.


Cavar com as unhas tem o problema das onicomicoses; por outro lado, permite o contacto com a terra. Mas as enxadas dão muito jeito.

[a palavra a quem a quer]




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