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(fonte da imagem aqui)
O genoma do trigo foi descodificado.
"Para que raio me interessa isso?!" perguntarão muitos. Na verdade, por agora não interessa. Nada, mesmo: afinal, ainda não entrámos em escassez de alimentos na Europa. Aquilo das quotas da sardinha é só por causa da preservação da espécie...
Agora, a sério: "Para que raio me interessa isso?!"
Aos outros não sei, mas a mim interessa-me e muito: o trigo é alimento básico para mais de um terço da população mundial, significa um quinto das calorias e proteínas ingeridas, é cultivado em vários climas e em várias estações do ano... ou seja, é um dos alimentos mais importantes do mundo.
[Faço um parêntesis para relembrar que o genoma é o conjunto de toda a informação hereditária, aquela que permite que um indivíduo de uma espécie se desenvolva com determinadas características próprias dessa espécie. Está codificado no ADN, que mais não é que uma sequência realmente muito longa de aminoácidos agrupados - também conhecidos como genes. As características do indivíduo dependem do gene, i.e da informação transmitida, mas também da posição que cada gene ocupa na cadeia, pois esta determina a forma como a informação genética será traduzida. Por aqui ter-se-á uma ideia da dificuldade sentida pelos 200 investigadores ao longo destes 13 anos de investigação: foram mais de 100.000 os genes identificados. O que permitirá também um vislumbre da importância atribuída ao assunto]
Terem descodificado o genoma do trigo traduz-se na possibilidade de, no curto prazo, as cultivares (variedades criadas pelo homem) serem manipuladas geneticamente para aumentar a produtividade do trigo diminuindo o consumo de outros recursos produtivos, aumentando a resistência da planta às doenças e a resposta às condições ambientais de desenvolvimento, e até a melhorar a dimensão e a qualidade nutricional do grão.
E isto é uma excelente notícia para quem deseja ver minorado o problema da alimentação da população mundial. População que já ultrapassa os sete biliões e que se prevê aumentar mais de dois biliões até 2050 - pouco mais de 20 anos. 20 anos!
É nestas horas que eu adorava ver apenas uma perspectiva...
Porque, do outro lado da balança, deparo-me com a questão dos Organismos Geneticamente Modificados (OGM). Tenham segmentos de ADN de outros seres (passando a denominar-se transgénicos) ou sejam resultado de manipulação exclusiva do próprio ADN, a verdade é que os OGM não se distinguem dos outros indivíduos da mesma espécie a não ser em laboratório e desde que tenham os marcadores genéticos a que estão obrigados. [Que foram introduzidos para, e se destinam a, identificar proveniências e níveis hereditários]
Mais fortes e resistentes, mais homogéneos, aparentemente melhores.
Mas ninguém sabe exactamente de que forma a ingestão de tais cadeias manipuladas terá ou não influência no organismo humano. [Além de o nutrir no curto prazo.] Ou como serão as interacções com outros organismos vivos que possam ser ou tornar-se focos de doenças resistentes. [Além do que se sabe sobre indivíduos humanos devidamente nutridos terem mais resistência à generalidade das doenças.]
De momento minoramos um problema. Um problema grave e que urge solucionar! Só não sabemos quantos ou quais problemas criamos...
Esta tem sido a constante nestes dois séculos de revolução industrial, mas pelo menos agora estamos muito mais preparados para vigiar as consequências - ou, no limite, teremos uma classe política mais alertada, uma classe investigadora mais centrada nos riscos e uma classe consumidora mais informada... o que, na ausência de regulação, não nos servirá de muito perante interesses corporativos. Na alimentação, como em tudo.
Face a tal solução e a tais incógnitas, impõe-se procurarmos respostas em todas as frentes - demografia e fenómenos migratórios, alimentação, agricultura, ambiente, saúde,... em toda e qualquer disciplina que omiti por falta de espaço ou por esquecimento e não por desmerecimento.
De nada nos adiantará fechar as fronteiras a terceiros - fechadas à entrada de gente, fechadas estarão também à entrada de alimentos. Não temos área que nos permita a subsistência, a todos os que cá somos e estamos; mas talvez com a política do filho único que condenámos à China consigamos controlar a demografia. E talvez expulsando "os que não são de cá", como defendem alguns... Teremos menos gente e talvez a comida chegue... isto se não nos devolverem também os nossos que por lá andam nesses outros continentes, claro. E mesmo que não, seremos velhos... as máquinas trabalharão por nós, mas quem nos cuidará, quem nos continuará?
Sejamos ponderados nas análises e nas políticas.
Ou isso, ou os que vierem depois que segurem a porta. E que siga a marcha e que toquem as trumpetas.
Deixo um filme, cuja tradução lamentavelmente não encontrei nem apeteceu fazer, sobre Aritmética, População e Energia - uma aula do Prof. Dr. Albert Allen Bartlett, professor emérito do Departamento de Física na Universidade do Colorado que dedicou parte da sua carreira a estudar o crescimento populacional. Quem não apreciar números que pense em Shakespeare e chame-lhe Pesadelo de uma noite de Verão.
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