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Não me apetece falar da COP25, nem de Greta Thunberg ter defendido (ou vendido?) o verde na sua breve passagem por terras lusas, nem da poupança política do esbanjador Marcelo. Nem sequer quero falar do facto de Portugal ter caído oito posições no ranking do desempenho climático mas continuar a liderar no desempenho das políticas ambientais, o que apenas provará quão pouco fazem os outros países.

 

Quero falar do que nós fazemos. Nós, cidadãos que escrevemos e publicamos umas coisas giras sobre o Ambiente, nós cidadãos que nos manifestamos motivadíssimos pela jovem Greta - e ainda bem, mesmo que não creia, como ela crê, nas alterações climáticas como resultado único e exclusivo da acção do Homem, mesmo que não defenda, como ela defende, que não vale a pena estudar já que não há futuro, mesmo que as minhas grandes preocupações sejam as interferências desproporcionadas nos ecossistemas (invasão, sobre-exploração de recursos, poluição). É bom estarmos assim motivados em prol do Ambiente!

Mas é mau fazermos desta questão uma matéria de fé... em ambos os extremos.

E é péssimo termos arroubos ambientalistas e chorarmos de emoção ao ouvir Greta Thunberg mas corrermos para uma black friday , num ataque feroz ao modo de vida menos consumista que a jovem nos implora. Porque a televisão está boa mas já é velha, porque convém ter uma chaleira de reserva não vá esta avariar, porque se quer um telemóvel com mais capacidade para jogar ou só porque sim, porque a roupinha está em saldo e não se precisa de nada mas nunca se sabe, não é, mais vale aproveitar... Compramos porque é barato, não porque precisemos. E só a definição do verbo "precisar" neste contexto daria para três postais.

É bom abolirmos os sacos de plástico e defendermos a reciclagenzinha doméstica, mas é péssimo nem pensamos na outra, naquela que muitos não fazem quando produzem e trazem à nossa porta todas as coisinhas que adquirimos, incluindo os ecopontos domésticos que orgulhosamente enchemos. Isto enquanto corremos a arranjar miniaturas de produtos. Que colocaremos na bagagem que levaremos nas viagens que comprámos na black friday e cujo destino provavelmente estará menos típico porque sobrelotado com turistas como nós. Assim como o Algarve ou o centro de Lisboa.

Viajar é bom e faz bem, poupar também, reciclar idem - mas haja coerência. Ajamos com coerência.

Sempre achei um desperdício de produto e de embalagem as miniaturas oferecidas nos hotéis. Mesmo apreciando a delicadeza de uns ou a genialidade de outros, considerava e considero tais miniaturas um mau hábito de consumismo, e fiquei fascinada a primeira vez que entrei num hotel com dispensadores - durante muitos anos uma das poucas cadeias a recorrer a tal opção. Conheço quem coleccione  ou junte frasquinhos, cujos conteúdos perdem validade numa feia prateleira onde o bolor lhes traça os rótulos. Mas adoram-nos, e não passam sem os trazerem, "são de borla" e os dispensadores "o roubo de um direito, malvados unhas-de-fome!" As marcas, que durante décadas ignoraram o mercado português (não, as miniaturas comerciais não surgiram agora nem sequer neste milénio), sabem disto e começam a inundar os nossos hipermercados. Não para fazerem face a uma necessidade, como diz este artigo, mas porque o stock tem de ser despachado - e o português compra. Sem questionar, pois que isto de ser amigo do ambiente funciona com bandeiras da época balnear.

Tal como da maré são as viagens que se fazem, pois que importa salvar o Mundo mas, pelo sim pelo não, melhor será visitá-lo antes que rebente. Para nos ajudar em tal desidério, temos este tipo de artigos, em que de uma assentada se apontam os santuários da vida selvagem e se convidam os leitores a visitá-los. Parece-me um brutal paradoxo. O frágil equilíbrio de que tais santuários ainda usufruem é ameaçado por cada grupo de turistas, gente que tem todo o direito de visitar e observar mas não tem o direito de invadir, não tem o direito de poluir - e são tantas as formas de poluição que levamos a tais espaços! Se os governantes de cada um destes, e de outros, santuários não percebem a delicadeza da questão, então que a percebamos nós, potenciais turistas. Mesmo que calcemos botas de cauchu, vistamos linho e algodão, façamos a viagem a pé e apenas comamos vegetais locais da época, há santuários que merecem que os deixemos para os que os habitam, eventualmente para alguns estudiosos da vida natural. Por muito que os gostássemos de visitar.

Já agora, aproveito a viagem e relembro que andar, ou adquirir bens transportados, de e por barco também pode ter elevadíssimos custos ambientais

 

Não abdiquemos de viajar, de visitar, de conhecer - mas sejamos ponderados na forma como o fazemos e sejamos coerentes com a nossa defesa do Ambiente. Pensarmos como e para onde viajamos será mais uma forma de ajudarmos a salvar o planeta. Afinal, é sobre isso que andamos a escrever por aí, certo?

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

Autoria e outros dados (tags, etc)

lançado às 14:35

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



30 comentários

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De Sarin a 10.12.2019 às 23:53

Já passou, já passou... ;)
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De Rui Pereira a 11.12.2019 às 00:05

"Fouzan"... :))
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De Sarin a 11.12.2019 às 00:06

Issooo! :))

[a palavra a quem a quer]




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e uma viagem diferente



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