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Vivemos em democracia. Ainda vivemos em democracia.
E um dos direitos que possuímos é o de questionar os nosso representantes. Está no Artigo 52º da nossa Constituição. E também no Artigo 44º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.
Ontem foi lançada a Petição Pública 102756 endereçada ao Ministério da Educação, na qual se solicita o esclarecimento de factos insinuados publicamente por um desses representantes, Nuno Melo, eurodeputado, bem como eventuais reclamações, e seu seguimento, sobre o caso aventado. Nada mais do que o exercício de um direito, sem resquício de ofensas, injúrias ou insinuações, apenas a exigência de esclarecimento sobre uma matéria que, a comprovar-se, exigirá medidas de correcção. A não se comprovar, exigirá outras medidas.
Chamo a atenção para três pormaiores:
* As insinuações lançam suspeitas sobre várias escolas, por não identificarem nenhuma, e acusam o universo Escola de violar o contrato de confiança entre esta, alunos e encarregados de educação;
* A objectividade do exemplo apresentado (a abordagem de 67 tipos de sexualidade), mas não confirmado, contamina o debate numa altura em que, encapotadamente, se discute a sexualidade como matéria de ensino obrigatório ou passível de objecção de consciência;
* Nuno Melo identifica-se como eurodeputado na conta pela qual publicou tais afirmações, o que o responsabiliza enquanto cidadão e enquanto representante dos cidadãos. Ao contrário do que alguns querem fazer crer, um representante dos cidadãos pago pelo bolso dos contribuintes não deve apenas explicações aos seus eleitores.
A reacção do Nuno Melo foi um tuíte, mais um, a acusar os peticionários de "tiques inquisitoriais de tiranetes".
É esta a noção que alguns políticos têm dos seus deveres. É, pelo menos, esta a noção que Nuno Melo tem.
1. Diz-se conhecedor de situações que considera abusivas e não as denuncia em tempo útil, não as reclama à tutela, não as coloca em debate.
2. Considera que o exercício de um direito de cidadania é um arrojo e uma fatuidade.
3. Sente-se imbuído de autoridade e credor de respeito, mas não a inversa.
4....
Poderia continuar, tantos os preconceitos por onde pegar. Ou poderia abordar o motivo de chamar à colação as crianças cujo pai espoletou o debate - que lhe motivou as afirmações cuja explicação se exige. Esmiuçar a motivação e a falta de vergonha, pois que as crianças são alheias a este debate. Mas continuar seria perda de tempo: interessa-me evidenciar as incompetências de Nuno Melo enquanto representante eleito, não enquanto indivíduo.
E, contudo, aplaudo este seu tuíte: quem o apoia não poderá dizer que o apoia por engano.
Para que fique claro:
Defendemos o que quisermos, não deixamos de ser cidadãos. E Nuno Melo continua a dever-nos respeito e explicações.
Bom regresso, antes de mais!
Já vi que fizeste estragos, para não variar 😊) Daqueles estragos que fazem falta e que só faz quem pode, e não quem quer. Dizem que este leva ao outro, mas tenho muitas dúvidas.
Sabes que ando meio desavinda com o mundo e, com petições ou não, há um problema maior com os tais "factos": parece que há cada vez menos gente que quer saber disso; dá muito trabalho, exige paciência e espírito crítico e, o que é “pior”, às vezes, muitas vezes, os factos são avessos à nossa vontade. O mundo anda cheio de vontades em conflito (andou sempre, não é?). Ultimamente, até o que é um “facto” passou a depender de vontades. E é muito mais eficaz “mandar bocas” e deixar arder. A tragédia é que até os que se querem mais responsáveis, entre outras coisas, por ocuparem cargos políticos e nos deverem explicações (ser pago com o dinheiro dos contribuintes é uma chatice tremenda), até esses se habituaram à paródia.
Estes dois tuitezinhos de Nuno Melo e a sua reacção a esta petição é o exemplo da total falta de noção de serviço público e da forma como não se pode estar na política. Só por isso, a petição merece ser assinada.
O boato como forma de estar, inclusive, na política, mais do que banal, tornou-se inconsequente. Já (quase) ninguém quer saber. E a irritação deu lugar ao insulto como forma de argumento. À incompetência para ocupar cargos públicos e/ou políticos, junta-se a incompetência para distinguir o sofá lá de casa do palco das redes sociais. Aliás, às vezes, tenho dúvidas se no sofá lá de casa se atreverão a tanto.
O anónimo sou eu (https://https://outradecoisanenhuma.blogspot.com/).
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