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Nuno Melo e o desplante da democracia

por Sarin, em 08.09.20

Vivemos em democracia. Ainda vivemos em democracia.

E um dos direitos que possuímos é o de questionar os nosso representantes. Está no Artigo 52º da nossa Constituição. E também no Artigo 44º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia

 

Ontem foi lançada a Petição Pública 102756 endereçada ao Ministério da Educação, na qual se solicita o esclarecimento de factos insinuados publicamente por um desses representantes, Nuno Melo, eurodeputado, bem como eventuais reclamações, e seu seguimento, sobre o caso aventado. Nada mais do que o exercício de um direito, sem resquício de ofensas, injúrias ou insinuações, apenas a exigência de esclarecimento sobre uma matéria que, a comprovar-se, exigirá medidas de correcção. A não se comprovar, exigirá outras medidas.

Chamo a atenção para três pormaiores:

* As insinuações lançam suspeitas sobre várias escolas, por não identificarem nenhuma, e acusam o universo Escola de violar o contrato de confiança entre esta, alunos e encarregados de educação;

* A objectividade do exemplo apresentado (a abordagem de 67 tipos de sexualidade), mas não confirmado, contamina o debate numa altura em que, encapotadamente, se discute a sexualidade como matéria de ensino obrigatório ou passível de objecção de consciência;

* Nuno Melo identifica-se como eurodeputado na conta pela qual publicou tais afirmações, o que o responsabiliza enquanto cidadão e enquanto representante dos cidadãos. Ao contrário do que alguns querem fazer crer, um representante dos cidadãos pago pelo bolso dos contribuintes não deve apenas explicações aos seus eleitores.

 

A reacção do  Nuno Melo foi um tuíte, mais um, a acusar os peticionários de "tiques inquisitoriais de tiranetes". 

É esta a noção que alguns políticos têm dos seus deveres. É, pelo menos, esta a noção que Nuno Melo tem.

1. Diz-se conhecedor de situações que considera abusivas e não as denuncia em tempo útil, não as reclama à tutela, não as coloca em debate.

2. Considera que o exercício de um direito de cidadania é um arrojo e uma fatuidade.

3. Sente-se imbuído de autoridade e credor de respeito, mas não a inversa.

4....

Poderia continuar, tantos os preconceitos por onde pegar. Ou poderia abordar o motivo de chamar à colação as crianças cujo pai espoletou o debate - que lhe motivou as afirmações cuja explicação se exige. Esmiuçar a motivação e a falta de vergonha, pois que as crianças são alheias a este debate. Mas continuar seria perda de tempo: interessa-me evidenciar as incompetências de Nuno Melo enquanto representante eleito, não enquanto indivíduo.

 

E, contudo, aplaudo este seu tuíte: quem o apoia não poderá dizer que o apoia por engano.

Nuno Melo.jpg

 

Para que fique claro:

Defendemos o que quisermos, não deixamos de ser cidadãos. E Nuno Melo continua a dever-nos respeito e explicações.

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

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lançado às 18:05

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



6 comentários

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De cheia a 08.09.2020 às 18:42

Todos devemos respeito uns aos outros, mas os políticos , para além do respeito, devem-nos explicações.
Seja bem-vinda, de regresso!
Boa semana
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De Não Identificado a 09.09.2020 às 14:43

Bom regresso, antes de mais!

Já vi que fizeste estragos, para não variar 😊) Daqueles estragos que fazem falta e que só faz quem pode, e não quem quer. Dizem que este leva ao outro, mas tenho muitas dúvidas.

Sabes que ando meio desavinda com o mundo e, com petições ou não, há um problema maior com os tais "factos": parece que há cada vez menos gente que quer saber disso; dá muito trabalho, exige paciência e espírito crítico e, o que é “pior”, às vezes, muitas vezes, os factos são avessos à nossa vontade. O mundo anda cheio de vontades em conflito (andou sempre, não é?). Ultimamente, até o que é um “facto” passou a depender de vontades. E é muito mais eficaz “mandar bocas” e deixar arder. A tragédia é que até os que se querem mais responsáveis, entre outras coisas, por ocuparem cargos políticos e nos deverem explicações (ser pago com o dinheiro dos contribuintes é uma chatice tremenda), até esses se habituaram à paródia.

Estes dois tuitezinhos de Nuno Melo e a sua reacção a esta petição é o exemplo da total falta de noção de serviço público e da forma como não se pode estar na política. Só por isso, a petição merece ser assinada.

O boato como forma de estar, inclusive, na política, mais do que banal, tornou-se inconsequente. Já (quase) ninguém quer saber. E a irritação deu lugar ao insulto como forma de argumento. À incompetência para ocupar cargos públicos e/ou políticos, junta-se a incompetência para distinguir o sofá lá de casa do palco das redes sociais. Aliás, às vezes, tenho dúvidas se no sofá lá de casa se atreverão a tanto.


O anónimo sou eu (https://https://outradecoisanenhuma.blogspot.com/).

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De João Silva a 10.09.2020 às 14:51

Por motivos maiores, há muito que não acompanho a atualidade pública e política. Por essas limitações mas também porque já me enoja tudo o que vai saindo e vai ganhando força graças a alguns meios de comunicação.
Importa-me, em vez disso, ajudar a criar uma "atualidade" com maturidade suficiente daqui a uns anos para perceber que ganhamos com a partilha de ideias e não con subterfúgios para impedir determinadas discussões na praça pública. Não é por se chutar para canto que o problema deixa de existir. 
Finda está divago, sê muito bem-vinda de volta, cara Sarin. Já sentia falta dos teus postais 😉😉 beijinhos 
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De /i. a 13.09.2020 às 18:11

Ai Sarin...
O Nuno Melo é o tal que percebe de tecidos... nas penúltimas europeias no pino do calor ele andava sempre impecável com as camisas sem manchas de transpiração. Os adversários eram só manchas de transpiração nas costas, debaixo dos braços... transpirariam mais? Não. O Nuno vestia sempre camisas de piqué. 
Isto para dizer que é só show off para ser falado, pois conteúdo ele não tem nenhum. 
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De José da Xã a 16.09.2020 às 20:37

Tu ainda dás para o peditório dele?É o que ele quer...
Costumo dizer entre amigos: só ligo a ... quando estou distraído!
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De Ana a Abelha a 26.09.2020 às 13:23

Sarin, volta! tudo de bom, beijinhos e abraços  tenho saudades tuas, caneco!

[a palavra a quem a quer]




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