Imagem do blog - Gaffe
cabeçalho sobre foto de Erika Zolli
Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Lia num postal opinião sobre a opção de um café que passara a disponibilizar paletinas de madeira em vez de colheres de metal. Pelo texto e pelos comentários, percebi que todos preferiam as colheres de metal às paletinas de madeira por questões ecológicas.
Será mesmo melhor optar pela colher de metal?
Uma paletina de madeira é usada uma única vez. Tem apenas madeira. É reciclável e sofre degradação natural.
Uma colher de metal é reutilizável. Para ser reutilizada precisa de ser lavada com detergente vendido em embalagens plásticas que, para ser detergente, tem de conseguir emulsionar a sujidade recorrendo normalmente a compostos tensio-activos que obrigam a tratamento das águas antes de devolvidas aos mares; tem de ser lavada a 55-60•C, temperatura de desinfecção, para o que exige um equipamento que consome electricidade e aquece o ambiente envolvente seja Verão ou Inverno. A colher é geralmente constituída por ligas de metais, o que torna a sua reciclagem difícil. Se se perder, não se degrada no meio ambiente.
Se formos analisar o processo de reciclagem, os custos ambientais são ainda maiores: as paletinas podem ser recicladas enquanto madeira (para combustível ou serradura para camas animais, por exemplo) ou podem ser recicladas com outras matérias celulósicas na produção de pasta de celulose para uso na produção de papel e de outros produtos, incluindo objectos utilitários ou de decoração. A colher de metal ou pode ser fundida numa amálgama que mantenha características metálicas suficientes para moldagem resistência e adequação ao uso, ou tem de passar por um processo de separação dos metais que nem sempre é viável, o que leva ao seu depósito em aterros onde ficará séculos até se degradar.
E, claro, temos a questão a montante: a produção.
A produção florestal, se devidamente organizada, contribui para a manutenção da biodiversidade, combate a erosão e a desertificação, promove o aproveitamente paisagístico, aumenta as quotas de carbono, além de ser uma actividade económica que promove trabalho ao ar livre e contribui para a função fundamental da fotossíntese. A transformação da árvore em paletina é um processo mecânico.
A extracção de minério fere a paisagem, é uma actividade de elevado risco para os trabalhadores e recorre a elevado consumo de energia podendo os processos extractivos ser altamente poluentes, pois vão da perfuração mecânica à dinamitação e à fracturação hidráulica. A transformação do minério em colher exige processos físicos (fracturação, fusão a altas temperaturas), químicos (lavagens e depurações) e mecânicos (moldagem).
Nem sempre o que parece ser mais ecológico o é.
Mas nós, cidadãos, não temos de conhecer todos os processos produtivos, certo? No entanto, para fazermos escolhas ecologicamente conscientes devemos mesmo conhecê-los. Porque em produção florestal, uma árvore abatida significa uma nova árvore plantada. Significa renovação florestal. Significa sustentabilidade.
Adenda: em comentário, é sugerida a partilha de ligação para o postal que, contrariamente ao indicado, não citei, pois nem transcrevi nem usei como referência, mas que mencionei por, em conjunto com os comentários, me ter levado à escrita deste. Não o liguei por não ter sido o conteúdo do postal a espoleta, antes a unanimidade da opinião. A omissão foi, assim, natural e não intencional; mas porque a sugestão é boa, fica a ligação para o postal d' O último fecha a porta.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.