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Na sexta-feira li de Alexandra Lucas Coelho um artigo de opinião no qual estranha a quase inexistência de alunos negros numa escola de artes cénicas sediada numa zona onde costuma "ser das poucas pessoas brancas, ou mesmo a única, numa carruagem, sobretudo à noite."
Não concordarei com tudo o que diz ALC, até porque no texto defende a inclusão da tal pergunta, mas percebo onde quer chegar. Nomeadamente, à inexistência de dados que sustententem ou rebatam a sua percepção quanto à desproporção entre o número de alunos negros e a população envolvente.
Algures no texto, indica o racismo como uma das causas para a falta de representatividade de negros numa escola inserida num meio proeminentemente negro.
Não argumento - como ela, não conheço os números. E não tenho a sua percepção, pois não vivo na Grande Lisboa. Mas também noto a quase inexistência de professores negros, bancários negros, jornalistas negros, actores negros, médicos negros, empresários negros. E interrogo-me porquê.
Ontem mal consegui ler fosse o que fosse, mas passou-me pelos olhos um artigo lido agora com calma, que refere que Milton Gonçalves, actor e presidente do brasileiro Sindicato dos Artistas, vai processar Paulo Betti, actor e concorrente à direcção do mesmo sindicato, por racismo. Porque este terá dito que a actual direcção tem "uma forte representação negra e isso pode confundir as coisas" - presumindo eu que "as coisas" sejam a luta sindical e a luta contra a discriminação, esta muito activa no Brasil.
E pergunto-me que mundo é este, onde uma fotografia e o seu negativo são declarados racistas mas pelos motivos inversos: haver poucos negros numa instituição é racismo, dizer que há mais negros do que brancos numa instituição é racismo. Assim. E em português.
Esta madrugada, Ricardo Araújo Pereira, Pedro Mexia e João Miguel Tavares falaram também da pergunta recusada pelo INE. JMT ficou-se no nim, ao recusar o endosso de "raça" mas ao ser sensível ao argumento da necessidade de quantificar a população das várias comunidades (sim, a pergunta já vai com esta interpretação), PM apontou a necessidade de tal quantificação mas também a importância de clarificar a recusa do INE, pois com a recusa ficou no ar a ideia de um inquérito autónomo e mais aprofundado sobre a questão (também assim li, e a ele aludo no meu postal quando digo responder mas não ao Gabinete dos Censos), e RAP, o mais parco em explicações na matéria, teve a frase da noite, que tento citar de memória "No meu tempo, os racistas é que falavam em raça. E digo 'no meu tempo' porque o que antes era racismo agora já não é, e o que hoje é racismo na altura não era."
Os seus tempos são também os meus.
imagem colhida no Mercado Livre
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