Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]



Vejo as hostes agitadas com o novo papão que aí vem, a grande questão fracturante deste ano: Eutanásia.

 

Ocorrem-me duas grandes questões nesta matéria:

1. Para ser fracturante seria necessário que se discutisse. Mas apenas vejo a) certezas nos que a imoralizam e b) dúvidas nos que a defendem - dúvidas por exemplo com a posição dos Bastonário e Ex-Bastonário da Ordem dos Médicos que parecem querer travar com o código deontológico aquilo que na Assembleia estão com vontade de deixar passar.

 

2. Porque insistem alguns sectores da sociedade em querer referendar matéria de direitos e liberdades individuais e não se preocupam com a regulação da coisa comum.

 

Hoje fico-me pelos direitos e liberdades individuais. E respondo aos dois pontos em simultâneo...

 


O meu corpo é meu. 

É meu para o prostrar nos altares que entender; para o deitar nas camas que eu fizer, quando e com quem me apetecer; para fazer e parir os filhos que eu desejar e conseguir; para o desligar quando eu quiser.

 

Vivemos em sociedade, é certo, e as nossas acções afectam os outros – a saúde pública, a demografia e a segurança pública à cabeça, do lado do Estado; as emoções e as interdependências, do lado das Famílias.

E ainda assim somos um conjunto de corpos individuais que pensa e sente individualmente mesmo que em grupo.

 

Mas estou a falar de me permitirem fazer o que quero ao meu corpo. Ao meu corpo vivo, ao meu corpo morto e ao meu corpo assim-assim. À minha vida, a mim!

Não de obrigar os outros a fazerem o que eu quero ao corpo deles, à vida deles, a eles. Não de obrigar os outros, definitivamente NÃO!

 

Quando fiz o meu Testamento Vital preenchi o formulário no local, fui entrevistada, identificada e assinei. Voltei à Delegação de Saúde para o voltar a preencher: entre as minhas instruções várias, não me autorizaram a instrução para me desligarem a vida, só autorizaram desligarem-me máquinas.

O facto de eu, lúcida e na plena posse das minhas faculdades, não poder dar todas as instruções que queria deveu-se a um abuso legal: o Estado não manda no meu corpo vivo nem manda no meu corpo morto, mas manda no meu corpo moribundo independentemente do meu desejo. Se eu, lúcida, posso decidir tudo – incluindo o que fazem ao meu cadáver e aos meus órgãos e aos meus bens – porque tenho que deixar o limbo nas mãos dos meus familiares ou do acaso?! Só porque aos meus concidadãos lhes dá para sentir de forma diferente?! Eu quero decidir por mim e preferia não ter que decidir por ninguém: é doloroso, é devastador, é violento.

 

Entretanto aproxima-se a data de revalidação do meu Testamento – podemos mudar de ideias a qualquer momento, e para o caso de nos esquecermos de o registar, de cinco em cinco anos temos que renovar os nossos desejos. Está quase na altura de o meu ser renovado, e espero desta vez poder deixar os meus desejos registados.

 

Caramba, se há processo cuidado que exija atenção e certeza é este!
Se alguém se sente inseguro ou se recear mudar de ideias quando chegr a hora da verdade, então nitidamente esse alguém não deve fazer um Testamento Vital - apesar de o Testamento permitir deixar algumas ou todas as decisões à família...

 

Porra, e é uma pessoa destas que em sede de referendo querem pôr a decidir sobre o fim da minha vida?!

 

Sobre os médicos e enfermeiros: senhores Bastonários, objectores de consciência sempre houve. Anjos da morte também. Que tal aligeirarem o fardo e clarificarem o papel do eutanasiador – não é um homicida, é um profissional de saúde que atende aos desejos devidamente expressos pelo seu doente já não paciente. Comecem por rever o Código, caso seja aprovada a Eutanásia – manter determinadas expressões será contraditar a lei em cada leitura, e invocar a nulidade do parágrafo para “tornar desnecessária qualquer alteração” é manobra nada inocente por parte de quem assumidamente objecta a eutanásia. Haja decência!

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

Autoria e outros dados (tags, etc)

lançado às 21:03

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



5 comentários

Imagem de perfil

De HD a 23.05.2018 às 22:25

Como dizes, é o nosso corpo... :-)
Imagem de perfil

De Sarin a 23.05.2018 às 22:36

É tão simples, não é? Porque raio será difícil de aceitar?... :)
Imagem de perfil

De HD a 23.05.2018 às 22:36

Como de costume... parecem haver sempre interesses instalados... :\
Imagem de perfil

De Sarin a 23.05.2018 às 23:01

Acho que no caso os interesses são mais fundamentalismos de matriz religiosa - ainda agora numa notícia do i online (sobre Cristas e a eutanásia) estive, via Disqus, a rebater argumentos vários sobre o tema. O problema não está na crença de cada um sobre o significado da Vida (alinho na dos Monty Pithon) e na existência ou não da "vida eterna" (que não se suporta no "do pó viemos e ao pó voltamos", apesar de dizerem que sim); o problema é a tentativa de doutrinação do outro. Até à morte, literalmente! :/
Imagem de perfil

De HD a 23.05.2018 às 23:05

The meaning of life... esse é o meu verdadeiro Holy Grail ;-p

[a palavra a quem a quer]:

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.




logo.jpg




e uma viagem diferente



Localizar no burgo

  Pesquisar no Blog



Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Cave do Tombo

  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2020
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2019
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2018
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D