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Esclarecimento: Human Lives Matters

por Sarin, em 10.06.20

 

O mote Black Lives Matters foi o mais largamente usado nas manifestações que ocorreram nos últimos dias.

No meu postal Manifestações e confinamento III, enquadrado numa sequência de 3 em que analisei manifestações, racismo e confinamento, parti de Black Lives Matters para, em poucas palavras, chegar a Human Lives Matters.

Num comentário, foi-me apontado que estaria a relativizar a importância da mensagem e do movimento Black Lives Matters e, pelo que percebi, a ecoar um mote usado como contraponto às reivindicações deste movimento.

Mortifica-me tal interpretação, agonia-me ser associada a tal tentativa! 

Esclareço que não recordo alguma vez ter ouvido ou lido tal frase, e se ouvi ou li não me apercebi do seu contexto nem retive o seu conteúdo. Jamais serviria de caixa de ressonância para mensagens que combato.

Por saber que, depois de emitida, a mensagem está sujeita à interpretação de quem a recebe, e porque o assunto me é demasiado sério e demasiado caro para permitir subjectividades ou relativismos, esclareço o objectivo do postal e a minha posição:

 

É-me lógico que tais cartazes sejam empunhados em qualquer país onde o racismo cerceie os direitos e as liberdades de qualquer indivíduo por causa da cor da pele, sua ou de ascendentes. É-me lógico que sejam empunhados por indivíduos negros que sofrem na pele o racismo e que sejam empunhados por indivíduos brancos que não sofrem racismo mas que se indignam revoltam agoniam com o racismo que vêem os negros sofrer.

Mas Eu, branca, nada e criada num país onde o racismo não tem contornos definidos, vivendo neste país e vendo o racismo claramente assumido por dois partidos, um dos quais com assento no Parlamento, não sinto legitimidade para empunhar tal cartaz e não sinto justiça ao empunhar tal cartaz. E não sinto porque nunca sofri racismo mas vejo racismo de muitas cores, aqui, no meu país: brancos contra negros de várias etnias e contra brancos ciganos, negros contra negros de outras etnias e contra brancos de várias etnias, ciganos contra brancos de outras etnias e contra negros de várias etnias.

Sem qualquer rebuço mas com muita garra, ergueria bem alto um Black Lives Matters numa manifestação de pesar pela morte de Floyd e de outros negros vítimas de violência sancionada pelo estado ou pela sociedade. Mas estas manifestações de dia 6, embora desencadeadas pela morte de Floyd, não foram uma homenagem: foram manifestações contra o racismo, contra a violência policial, contra as desigualdades sociais.

Não desvalorizo a mensagem Black Lives Matters, tão legítima e tão importante. Mas em actos de luta contra o racismo tenho, em consciência, de me colocar ao lado de todas as vítimas do racismo do meu país. Black Lives Matters. Gipsy Lives Matters. Human Lives Matters.

 

Esclareço, justifico e recuso qualquer associação do postal, da sua intenção, da minha visão, a algo menos do que a luta pela abolição do conceito de raças humanas, pela condenação do racismo, pelo reconhecimento intrínseco e universal dos Direitos do Homem conforme declarados pela ONU e assinados e ratificados pelo Estado Português.

 

 

E não, não coloco um White Lives Matters: os direitos dos indivíduos brancos não estão ameaçados por motivos racistas. Xenófobos, talvez, religiosos, idem, mas racistas não. 

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

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lançado às 15:05

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



8 comentários

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De JB a 10.06.2020 às 20:50

Sim, com este esclarecimento percebo o sentido que pretendes dar. Partilho dele. Contudo nunca adotaria a expressão, penso ser usada quase sempre para desvalorizar as black lives e não por causa de uma preocupação genuína com all lives. Sei bem que não é o teu caso. Ainda assim, não aprecio nem aprovo. 
Beijinhos!
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De Sarin a 10.06.2020 às 20:56

E eu não teria feito a extrapolação de Black para Human se soubesse do contra-movimento All.
Fi-lo em consciência, cf este postal, e por isso não o retiro. Mas também não o repito - encontrarei alternativas que não permitam tal associação, certamente.
Obrigada pelo alerta.
Beijocas
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De JB a 10.06.2020 às 21:35

Compreendo perfeitamente. Ninguém discorda do ‘all lives matter’, mas já percebeste o meu ponto! Beijinhos
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De Sarin a 10.06.2020 às 22:00

Percebi, sim.
E eu discordo de qualquer contra-movimento que queira desacreditar ou fragilizar a luta pelo cumprimento dos direitos de um grupo de indivíduos claramente discriminados, pelo que, se confirmar ser essa a intenção, talvez seja eu esse alguém que discorda do All Lives Matters :/
Levo mesmo muito a sério aquela coisa dos meios e dos fins :))


Beijos
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De /i. a 14.06.2020 às 13:30

Devia-se isso sim usar a "tua"frase " human lives matters". Sermos apologistas dos direitos humanos sem olhar às raças, credos....
A "black lives Matters" não faz mais do que escavar o fosso entre brancos e pretos. Potencia e agudiza o separatismo, o isolamento de cada raça. E o que se pretende, julgo eu, é a coexistência entre pretos e brancos respeitando as diferenças mas sempre evitar todo o tipo de discriminação de parte a parte. (Também existe discriminação desta raça com a raça branca).
Acusaram-te disso... Não quero ser rude... Mas é porque o que se quer verdadeiramente é promover as raças e esquecer o ser humano. Para mim o que importa é o ser humano, a raça é acessório. E se calhar é por a luta estar invertida se continua no mesmo marasmo de luta entre raças! E nunca saíremos disto: black lives matters, gipsy lives matters....
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De Sarin a 17.06.2020 às 16:04

Olá, /i.
Desculpa só agora responder. O movimento Black Lives Matters pretende dar visibilidade aos negros num país onde estes foram longa e duramente segregados, onde continuam a sofrer não apenas com o preconceito mas com uma discriminação que se traduz em números e, pior, em mortes. Lá, onde o conceito de raça parece sistemicamente assimilado, parece-me que cada minoria tem de falar por si dadas as muitas diferenças de tratamento - os nativo-americanos têm programas específicos, têm territórios fora da soberania do estado onde se localizam, têm quotas dedicadas,... 


Cá, as minorias sofrem o preconceito mas a violência vem de grupos muito restritos, não é nem tradição, nem História.
E sim, para acabar com o racismo, há que acabar com conceito de raça - e escrevi alguns postais sobre este quando se colocou a questão dos censos. Porque nenhuma definição é cabal, como podem sequer defender um conceito vago?
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De /i. a 17.06.2020 às 22:19

Exactamente, Sarin!
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De José da Xã a 19.06.2020 às 19:34

Eu costumo dizer e escrever que sou responsável por aquilo que escreve e não por aquilo que interpretas.
Se alguém achou algo diferente do que escreveste... problema dela.
Como diria um amigo meu há muuuuuuuuuuuuuitos anos: não há palavras ordinárias, há mentes ordinárias.
Sou pela vida. Pelo direito a viver-se em harmonia e em paz. Seja de que cor de pele for, estatuto social, cultura, etnia, religião ou tendência sexual.

[a palavra a quem a quer]




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