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Dura praxe, sed praxe

por Sarin, em 25.09.19

Têm sido habituais as vozes contra as praxes. Genericamente, e simplificando, uns argumentam contra a violência que se tem verificado, outros contra a humilhação gratuita, outros contra a hierarquização dos estudantes entre si.

Em comum, pedem o fim da praxe. A regulação ou a proibição da praxe.

 

A violência e a humilhação não resultam da praxe mas de quem a conduz - um imbecil será sempre um imbecil, numa praxe ou em qualquer lugar onde possa exercer autoridade, ainda que uma autoridade relativa. Portanto, o problema da praxe será, aqui, o de facilitar um palco aos imbecis.

Será isso motivo para a proibir? Penso que, já que gostam de proibir, seria mais produtivo proibir a imbecilidade, pois os que não se revelam na praxe revelar-se-ão assim que com subalternos - e nessa altura já será tarde para os responsabilizar. Mas adiante.

Excluídas assim, e liminarmente, as causas violência e humilhação porque não inerentes à praxe, resta a questão da hierarquização entre pares. Será grave, esta hierarquização? Toda a sociedade está hierarquizada: no trabalho, entre trabalhos, no lazer, na família... até num grupo de café há os que lideram as conversas, os que seguem a linha de conversa e os que aguardam que os primeiros se riam para rirem também... A hierarquia não é novidade, a sua dinâmica é que o poderá ser. Porque pertencer a uma estutura, qualquer estrutura, passa por ocupar um lugar definido e respeitar algumas regras, e no ensino superior, passados os períodos tradicionais de festa, não há efectiva hierarquia entre os alunos dos vários anos de frequência universitária. O que verdadeiramente interessa, parece-me, é que a dinâmica da praxe não seja abusiva e que a participação seja encarada como facultativa - uma opção pessoal e intransmissível.

Prova do que acima afirmo parece ser o entusiasmo com que todos estão a receber estas "praxes ecológicas", que levam os novos alunos a recolher lixo de praias ou ruas enquanto os alunos mais antigos vigiam os trabalhos. Existe uma hierarquia, os alunos continuam a agir sob odens de outros alunos. Portanto, a hierarquização dos estudantes também não será o problema.

 

Então, porque querem afinal proibir ou, pelo menos, regular as praxes?

Talvez porque se aligeira a demissão de responsabilidades por parte dos progenitores - proíbam as praxes porque falhei na educação dos meus filhos não é argumento para se orgulharem.

Ou porque disfarça a demissão de responsabilidades dos jovens adultos - proíbam as praxes porque sozinho sou boa pessoa mas em grupo ajo como imbecil; proíbam as praxes porque sozinho sou independente mas em grupo não quero ser diferente; proíbam as praxes porque em grupo divirto-me e talvez abuse mas quando sozinho envergonho-me e digo que fui obrigado... vários argumentos pouco dignificantes que ninguém quer usar.

Afinal, o problema da praxe está em permitir que as pessoas se revelem, assim logo à entrada da idade adulta.

E nada como infantilizar, proibindo a sua existência usando não se percebe bem que argumento quando todas as leis necessárias estão escritas. E moralizando, não convém esquecer a moralização subjacente a tal proibição. Porque, afinal, há praxes boas e praxes más.

 

 

postal sem imagem. porque estou de luto pelo espírito académico, pela cidadania, pela liberdade.

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

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lançado às 19:45

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



51 comentários

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De Sarin a 25.09.2019 às 21:46

Olá, Alala :)
Recusaste, e nada de mal te aconteceu por isso, suponho :)
Há os abusadores, os tais imbecis que estragam a festa; e há as pessoas, que querem integrar e ser integradas, que querem brincar e estabelecer laços e, até, exibir a cara pintada de "eu entrei, faço parte desta universidade" :) e mesmo os que recusam brincar têm esse direito - a praxe é um ritual opcional, não é obrigatório :)
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De Alala a 25.09.2019 às 21:50

 Sim...recusei e respeitaram. O ambiente não ficou "pesado" por causa disso. Pelo contrário... 

Lá está cada caso é um caso mas vê - se muita coisa má sim... 
Infelizmente. 
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De Sarin a 25.09.2019 às 21:58

Vê-se pelas pessoas, não pela praxe. A praxe ajuda a identificar as bestas.
Infelizmente, os jovens adultos têm sido infantilizados, desresponsabilizados - ao ponto de não conseguirem equilibrar-se em grupo sem proibições de terceiros :(
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De Alala a 25.09.2019 às 22:00

Tens toda a razão e a solução não passa de todo por proibir as praxes... 
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De Sarin a 25.09.2019 às 22:06

Penso que passa por educar as crianças e jovens (e talvez também os pais se reeducarem!) e por dar espaço para que crianças e jovens percebam os erros e se auto-avaliem e corrijam (amparar não significa substituir-se).
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De Alala a 25.09.2019 às 22:12

Sem dúvida Sarin. Não poderia concordar mais. Pais e filhos precisam sim de se reeducarem... Mas começa em casa pelos pais! 


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De Sarin a 25.09.2019 às 22:23

Subscrevo!
Defendo que deveria haver cursos de formação para pais - não para aprenderem O QUE ensinar, mas COMO ensinar.
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De Alala a 25.09.2019 às 22:28

Exatamente.
E mesmo assim Sarin é preciso haver vontade. 
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De Sarin a 25.09.2019 às 22:31

Haja cursos que a vontade surge... :)
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De Alala a 25.09.2019 às 22:31

Seria uma boa medida sem dúvida. 
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De Sarin a 25.09.2019 às 22:34

Um destes dias talvez lance uma petição ;)
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De Alala a 25.09.2019 às 22:40

Sarin conta cmg .
Posso assinar já? Ahaha

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