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Um padre não se deveria meter na vida partidária, segundo defendem alguns também padres. Penso o mesmo, até pelo ascendente moral que um pastor tem sobre o seu rebanho.
Não significa isto que não possa tecer considerações sobre algumas políticas ou sobre as actuações de alguns políticos, mormente naquilo que considere estar em ruptura com a moral da confissão que representa. Afinal, apesar de terem vários direitos restringidos, ainda assim gozam de uma certa liberdade de expressão, e eu prezo muito tal liberdade.
Como a que goza no Observador o padre Gonçalo Portocarrero de Almada, que até lhe permitiu chamar hipócrita e fariseu a um deputado do BE que se diz católico e que defende a eutanásia. Deve ser por ser do BE, pois faz parte dos 67,9% de católicos da Grande Lisboa que admitem a eutanásia, e duvido que este padre se ponha a gritar "hipócritas" em pleno púlpito - afinal, cerca de 81% dos portugueses diziam-se católicos no último Censos...
Chamou fariseu e hipócrita, chamou está chamado e é a sua opinião... podia relembrar-lhe, por exemplo, a veneração das estátuas de N.ª Sr.ª de Fátima quando em peregrinação, quais bezerros de ouro, mas deixo isso para os católicos dirimirem entre si. Os católicos e o tal deputado, o único nomeado em todo o texto.
Mas não se ficando por aí, "É sabido que a ética do Bloco de Esquerda deixa muito a desejar: recorde-se, entre outros, o caso do ex-vereador bloquista" diz esta sumidade em banha-da-cobra que aparentemente entrou em hibernação no final do séc. XIX e acordou hoje ao bater com os olhos na entrevista que um tal Manuel Pureza deu ao Público na véspera do Natal passado.
Sobre a falta de ética que apenas vê no Bloco de Esquerda, deixo para os bloquistas ou para quem se quiser dar ao trabalho de comprar um jornal para o pobre padre ter o necessário e irrevogável banho de ética. Só vê com um olho, e aparentemente não será nenhum dos ramelosos, mas isso é com o triunvirato.
Mas um padre que num texto publicado escreve "Na Igreja católica, em que o formalismo da lei judaica deu lugar a uma moralidade mais verdadeira e racional, não existe o conceito de impureza legal." ou "Assim, por exemplo, um fiel que pertença a um partido político de extrema-esquerda, ou nacional-socialista, está, por professar alguma dessas ideologias ateias, impossibilitado de receber a comunhão eucarística" está mesmo a pedir para ser expulso do Templo, vendilhão que é...
... e ainda dizem que não há extremismo religioso em Portugal!
Embora eu, democrata militante, pasme sobremaneira perante a sua análise "O mesmo deputado ‘católico’ não tem, pelos vistos, muita consideração pela vontade do povo, democraticamente expressa pelo voto dos seus representantes", isto assim escrito com todo o descaramento de quem só esteve hibernado para o que lhe deu jeito e não viu a imposição de disciplina de voto por parte de alguns partidos - disciplina essa que é tudo menos democrática. Um luxo de contradições, tal verborreia, e pena tenho de me estar a dar o sono...
Ateia e não bloquista que sou, confesso que fiquei muito enojada com o extremismo e com a hipocrisia que o texto deste indivíduo exsuda. Texto que me surgiu perante os olhos enquanto buscava matéria para um outro postal, vejam bem a minha sorte e o vosso azar... Enfim, são estes pastores de homens assim hipocritamente armados em políticos que me fazem gostar de Henrique VIII.
E apenas tornam mais sólida a admiração por Francisco, fadado que está a aturar tais gentes que assim ignoram os cristãos desígnios de bom entendimento entre os homens e os povos.
Nota: As citações têm negrito para sublinhar os pontos que me pareceram impertinentes no texto - e por isso pertinentes para o postal. O original está imaculadamente branqueado, quero dizer, sem qualquer negrito.
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