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Este espaço nasceu em 2018. Sem objectivo que não o ter um ID para comentar, não nasceu para ser blogue e eu nunca soube a data em que se transformou. Caso tenham interesse, encontram pormenores sobre esta evolução em coisas cá do burgo, na coluna à direita (ou abaixo, se ao telemóvel) . 

Numa curiosidade arqueológica, resolvi procurar o primeiro texto que pudesse considerar apropriado a um blogue, coisa com cabeça tronco e membros e que não envergonhasse se lido em voz alta no café. Na altura nem sabia ilustrar postais - não me interessava saber, sequer; por isso chamar texto ao tal primeiro postal.

Fui ali à Cave do Tombo e comecei do princípio, que é por onde se deve começar estas coisas. Lidos alguns, nenhum que me envergonhasse num café, devo dizer, resolvi-me a encontrar o momento em que eu me considerei bloguista, alguém que escreve com a consciência de que os temas que aborda e os textos que publica serão lidos por desconhecidos.

Não continuei a pesquisa porque tropecei num texto que colava muito bem num postal que estava a escrever. Um texto que tristemente desenvolvi em torno de um assunto absurdo e quase marginal. Coisa de neófita. Ou talvez, e porque neófita nos blogues mas não no escrever e muito menos no observar a sociedade, coisa de quem atenta em pequenos sinais e os trata com maior relevo do que então merecem.

Resgato-o agora desse seu afinal não tão pequenino absurdo - e não tão pequenino porque preconizador de uma realidade que nos vem confrontando mais rapidamente do que o desinvestimento na educação e na cultura.

Há precisamente dois anos e vinte e cinco dias, escrevi a propósito de uma noticiazinha envolvendo um autarca luso,

Há notícias que me espantam por serem notícia. Não porque conteste o trabalho do jornalista mas porque o facto noticiado é absurdo.

Perante tal, questiono-me: devo contestar, ecoando assim o absurdo e dando-lhe mais um meio de projecção (vale o que vale) ou é melhor simplesmente ignorar e deixar a outros a função de debater (ou apenas abater) tal notícia, tais notícias?

Não sou jornalista, não sou justiceira... mas, caramba, há factos que ofendem a minha sensibilidade e a minha inteligência! Factos que não me espantaria encontrar em algumas terras dos EUA profundo, por exemplo, onde o ensino ministrado em casa aliado a abusos em nome da liberdade de culto podem eternizar resistências várias a outras interpretações que não as instituídas na comunidade. Certamente haverá exemplos destes em África, na América, na Ásia, na Europa e na Oceania, não se pense que acredito ser um exclusivo de alguns norte-americanos do Tio Sam.

O obscurantismo nasce e propaga-se enraizado nas certezas incontestáveis sem qualquer base científica - matéria de fé, de crença, portanto; e não necessariamente relacionada com um credo. E se não discuto as fés de cada um, permito-me questionar a matéria que as suporta. Por outro lado, o obscurantismo alimenta-se do silêncio, da não contestação - e chegada aqui acabo por descobrir a resposta para a minha dúvida inicial.

Suponho que as teorias da conspiração nascem exactamente neste meio-espaço entre o evitar o obscurantismo e o não divulgar toda a informação... como se os seus criadores precisassem desesperadamente de respostas. No fundo, a mesma necessidade que conduziu às várias religiões da Humanidade.

 

E depois, temos em Portugal, um País civilizado, com ensino obrigatório, com acesso não controlado à informação, onde a ciência tem espaço lado a lado com a religião... temos em Portugal, dizia eu, gente que, fazendo tábua rasa da genética e confundindo características somáticas com esta, gente que representa os seus concidadãos e que cria ONG para isto.

A evolução passou-lhes ao lado? Não tiveram aulas de Biologia? Ninguém lhes explicou a diferença entre fenótipo e genótipo e as regras básicas da hereditariedade?! Caramba, estas são perguntas de retórica - o nosso ensino não é assim tão mau!!! 

 

O título do postal era Deixem os nossos bebés em paz... e nos dois últimos parágrafos, muito específicos e debruçados no tema, questiono sarcasticamente os porquês de quem defende teorias que contrariam evidências científicas mais do que estudadas e sustentadas. 

Ainda não investiguei se este autarca se terá entretanto aliado ao Chega. Mas não me admiraria. 

Não, não estou a ser sarcástica: todos conhecemos as manhas do Ventura. Mas já ouviram o João Tilly? Procurem no You Tube. E tomem atenção às falácias a que recorre, às dúvidas que levanta, às respostas que insinua. E atentem no cuidado com que, após a omnipresente acusação "eles escondem" que nunca identifica quem esconde, logo acrescenta "atenção, que eu (ou nós) não tenho dados que me permitam afirmar" o que antes afirmou. Não, a mentira grada não é do agrado desta malta. Levantar dúvida é o seu método, destruir a confiança nas instituições é o seu objectivo.

Ventura continua a ser um oportunista que aproveita o caminho que lhe garanta notoriedade e poder. Mas o Chega já não é só Ventura, há quem trabalhe na sombra promovendo a dúvida nas instituições, nas ciências, nas leis, usando sempre o mesmo discurso: "eles ocultam". E agora eles, os do Chega, procuram financiamento

 

Se tenho medo do Chega? Não. Tenho é medo de que quem ouve os seus argumentos lhes não veja as falácias. Tenho medo de que quem se sente à deriva se enrede nos seus chavões. Tenho medo de que quem vê as instituições falharem acredite nas suas teorias da conspiração. Tenho medo de que quem os aplaude o faça por falta de outra explicação.

E tenho muito medo de que os partidos da nossa democracia não percebam neste oportunismo a consequência da falta de transparência, da falta de entrega à causa e à coisa pública, da falta de respeito pelos eleitores, da falta de investimento nos cidadãos.

 

Imagem: Capa do Charlie Hebdo no 4ª aniversário dos atentados.

Recolhida no Observatório da Imprensa

 

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

Autoria e outros dados (tags, etc)

lançado às 18:31

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



15 comentários

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De Vorph "ги́ря" Valknut a 09.06.2020 às 18:37

O Tilly é silly, um ganda maluco
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De Sarin a 09.06.2020 às 18:51

Que usa a técnica apuradíssima da desinformação, que é professor, que é dirigente do Chega...
Silly são eles todos, deles não tenho medo. :)
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De /i. a 09.06.2020 às 19:40

Sarin, ouviste o discurso de André Ventura no Parlamento no debate sobre o racismo? 

E tenho muito medo de que os partidos da nossa democracia não percebam neste oportunismo a consequência da falta de transparência, da falta de entrega à causa e à coisa pública, da falta de respeito pelos eleitores, da falta de investimento nos cidadãos.

Ora nem mais. 
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De Sarin a 10.06.2020 às 12:58

Olá, /i.
Não ouvi, ando algo arredada do que se passa na AR. Mas irei procurar, percebo no teu tom de voz que deve ter sido lindo...
Ora nem mais - se eles virem. Mas os gajos não lêem blogues de gente anónima que lhes dá no cocuruto, pá... :D
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De /i. a 10.06.2020 às 21:32

O vídeo é este javascript:nicTemp();


Alguns lêem, Sarin. E outros lêem por eles. Mas se levam a sério? Pois isso é outra história.
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De Luísa de Sousa a 09.06.2020 às 22:00

"Tenho medo de que quem se sente à deriva se enrede nos seus chavões. Tenho medo de que quem vê as instituições falharem acredite nas suas teorias da conspiração. Tenho medo de que quem os aplaude o faça por falta de outra explicação." - também tenho estes medos!!!



Gostei muito do postal, fazes-me reflectir (como sempre) e adoro isso
Beijinhos Sara
Boa Noite
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De Sarin a 10.06.2020 às 13:01

Para combatermos o medo temos de estar atentos, temos de expor os seus malabarismos, denunciar as suas manipulações... não só as deles, mas principalmente as deles, se queremos continuidade na democracia.
Obrigada, Luísa!
Beijos, tem um dia feliz
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De Margarida a 10.06.2020 às 00:21

"Tenho medo de que quem vê as instituições falharem acredite nas suas teorias da conspiração. Tenho medo de que quem os aplaude o faça por falta de outra explicação.

Também eu tenho medo...  
Beijinho Sara 
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De Sarin a 10.06.2020 às 13:03

Olá, Margarida.
Temos medo. Mas também temos garra para ir evitando a farra, ferrando o dente nas suas manipulações e expondo as fragilidades e perigos para a democracia que desejamos.
Beijos, tem um feliz dia
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De HD a 10.06.2020 às 10:41

Chega a uma altura que todos os apoiantes do partido, só se reúnem escondidos numa cave :-)
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De Sarin a 10.06.2020 às 11:02

Prefiro-os cá fora, onde possamos desmontar-lhes os argumentos :)))
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De JB a 10.06.2020 às 12:59

É isto mesmo, a maneira mais rápida e fácil de sentir ‘bem’ é mesmo mandar outros abaixo. Conheço pouco do João Tilly, mas encaixa no perfil ‘ressabiado’ que para mim é condição sine qua non para ser racista.
Ha muitos bem sei, mas em Portugal não passarão, somos um paìs velhinho e sábio. Não papamos esses grupos.


Beijinhos Sarin
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De Sarin a 10.06.2020 às 13:07

Para não paparmos estes grupos temos de os expor, de lhes esventrar os argumentos! Somos um país velhinho, sim - mas idade não é exactamente sinónimo de sabedoria. Já me contento com a resistência :)))
Beijos, JB, e que nunca falte a força para os travar
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De JB a 10.06.2020 às 13:10

Isso é certo. Direi então, somos um país velhinho e culto! Somos sábios. ;)
Ha muitos velhos que não sabem nada bem visto, não é o nosso caso.
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De Sarin a 10.06.2020 às 13:28

Oxalá, oxalá...
(E dizes tu que sou optimista!)

[a palavra a quem a quer]




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e uma viagem diferente



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