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desafio de escrita dos pássaros #16

texto primeiro

por Sarin, em 04.01.20

[Tema #16: Sobre a vida adulta: Ainda não entendi o que é para fazer ] 

Adultecer

O tema desta semana, sei-o já, é a vida adulta. Os Pássaros acrescentaram-lhe um "ainda não entendi o que é para fazer". Desnecessariamente: se alguém entender o que é para fazer, provavelmente terá esquecido que fazer pela vida não é o mesmo que viver, olvidará talvez que fazer e ser são verbos distintos - e não por acaso.

Se não nascemos com destino determinado, como creio, então apenas poderemos ter nascido para ser o que a vontade e as consequências, nossas e terceiras, nos possibilitarem. E nascer para ser não é fácil, há que aprender todos os dias pois todos os dias nascem  possibilidades. Possibilidades boas, possibilidades más, impossibilidades... e as escolhas são consequência de outras aprendizagens, em continuidade porque a vida não se interrompe vivendo. E, por mais abruptos que sejam os ressaltos, por mais longe que possamos aterrar, partimos sempre do ponto em que estávamos: quem somos.

Não somos adultos por opção. Não somos adultos por decreto.

Adultecemos.

 

Um dia, não há muito, perguntaram-me quais as minhas maiores realizações pessoais. Sorri e pensei que nada estava realizado, encerrado. Porque a vida pode ser feita de muitos capítulos, mas nenhum inconsequente. Então, como considerar realização o que em permanente construção, destruição, reconstrução, desconstrução e, de novo, construção?

"Ter um filho, escrever um livro, plantar uma árvore". Metaforicamente, tudo fiz antes de a lei me dizer adulta. Metaforicamente, ainda tudo faço. E faço-o por ser, e por ser vou aprendendo a fazer em cada tempo. Porque adultecer é tarefa para muitas vidas - a nossa e a dos outros.

 

Prometi dois postais sobre o tema para as 15 horas de hoje. Este será o primeiro sobre o tema e será o único a ser lançado a essa hora. Porque a inspiração não obedece a ordens. Nem a desordens.

Ontem adulteci de forma diferente. Chegada de ausência prolongada, descubro que me assaltaram a casa, violaram a minha privacidade, conspurcaram o meu castelo. Lidar com as perdas não é fácil, desinfectar a casa também não - a lixívia destrói-me o verbo.

Paradoxalmente, ao promoverem brechas num bastião revelaram-me a existência de outro, que desconhecia. Definitivamente, adultecer não traz manual de instruções.

 

Nota de rodapé: o AO90 tem 30 anos. Como é possível um acordo ortográfico chegar a esta idade sendo um nado-morto gramatical?

 

[Desafio de Escrita by Pássaros]

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

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lançado às 15:00

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



1 comentário

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De Maria a 04.01.2020 às 16:11

Nunca me aconteceu,  mas deve der uma  sensação horrível ver as nossas coisas mexidas.  Deitar fora algumas, tipo bebidas e restos de comida e desinfetar tudo. 
Beijocas  

[a palavra a quem a quer]:

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