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[Tema #12: Aqueles pássaros não se calam]
Os rouxinóis da noite
O frio caiu aos rebolões pela alma da gente.
Começou por um gelo fino
na superfície de águas turvas.
Lama, lodo em cada cais,
e a neve a tapar-nos os olhos
e um calor de fogo-fátuo a queimar-nos,
um fogo preso de artifícios que,
distraindo-nos,
nos gelava.
Congelava.
Cristalizava.
Os dias ganharam sombras.
As gentes ganharam sombras,
espessas,
em cada esquina,
por cima de cada ombro.
E o desassombro do frio invadiu o país,
gelando-nos a raiz,
ceifando-nos o pão
que quiseram de outros, nosso não.
E foi na noite,
mais amena,
que outras sombras nasceram
claras
quentes
prenhes de poesia.
E escreveram
E cantaram.
Trinados de esperança
A resistência pipiada em cada senha
Em cada curva da letra que fugia ao azul
E nascia na noite
Sempre a noite…
Mais clara que o dia frio.
Dias chegaram em que o frio se foi
E as sombras claras da noite ganharam forma
E os rouxinóis saíram de palavra em punho
De guitarra em punho
E encheram as gentes com a alma
Que haviam esquecido ter:
Esperança!
Cantam ainda na memória.
Aqueles pássaros não se calam.
Não se calarão na minha história.
Nota de roda dentada: também os oponentes do AO90 não se calam
Cantilena (1969)
letra de Sebastião da Gama
música de Francisco Fanhais
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