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Demos kratos ou demos cabo?

por Sarin, em 09.12.18

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Ontem foi dia 8 de Dezembro, dia importante entre amigos que se fizeram na Universidade e que ao dia 8 lá tornam. Com saudades, ouço os discos de O Trovante porque "Trovante, Praça de Toiros de Évora, 3 de Maio de 1991" fomos nós, uma pesada e louca empreitada para segundanistas caloiros de meio ano, que o outro meio fora-se nas greves dos professores e nos exames adiados. Mas queríamos e acontecíamos, entre alecrim e mangerona as nossas guerras assim também.

 

Ouvia a Linha das Fronteiras,  e os primeiros acordes "Não se espantem se eu não fico aqui, Há sempre outro ver para o que vi" a pesarem-me nos coletes amarelos, sobre quem tenho vadiado por postais alheios.

Há. Há sempre outro ver para o que vi, mas não gosto quando olho, abomino quando vejo: como podemos ficar serenos, quiçá a sorrir do passado, enquanto apontamos o dedo ao teclado e nele pisamos e repisamos a dor duma democracia arrastada pela turba na lama onde a deixámos merdar, lentamente medrando o desprendimento até vicejar desprezo em cada um absentista, por cada assembleia em que não fomos ouvidos por nela não sermos,  em cada projecto que ignorámos expectantes desses alguéns que o foram burilando nos nossos ossos? Expectantes, não, despejantes. Habituámo-nos a despejar nos partidos, nos políticos - em itálico porque todos o somos, os nossos gestos políticos por consciência ou a rogo,  mas os daqueles pensados por carreira. Despejamos neles o voto, a responsabilidade e a irresponsabilidade. São eles que a assumem, é certo, e nela se aninham - primeiro em ninhos, depois em cóios de onde assaltam os feudos instalados. E nós, desligados, abstinentes ou votantes, deixamos a impotência fingir-se grito no teclado porque alguém há-de fazer algo mas não hoje ou não eu.

 

E depois aguém faz: pega nas redes e enleia os descontentes que querem soluções simples e imediatas para os problemas que todos deixámos acontecer, que se lixe o futuro, e os princípios, se os há, por ferro e por fogo feridos no fundo do monturo a que ainda chamam consciência. Nós, humanos, somos bichos sociais, senhores, quando sós procuramos iguais, quando no mesmo espaço agimos em manada. Se os líderes, os alfas, não reflectirem, quem segurará o tropel reflexo do impensado gesto, da impulsiva afronta?

 

Vejo a exaltação por contágio, pandémica na sua vontade de mudança. Mas que mudança? Quem a pede apenas a quer, não a pensou nem pensa; e quem a oferece  tem objectivos definidos onde só cabem uns quantos eleitos, os outros condenados à exclusão ainda antes da partida.

 

Chegou a hora de dizer Basta! Basta de alienação, basta de falar para desaturdir a mágoa, basta de teclar para esfiapar consciência aqui e acolá. Desafio-vos a pensar, a discutir, a propor correcções à nossa Democracia, ao nosso sistema eleitoral, ao nosso futuro enquanto Portugueses e enquanto Europeus. Sem partidos, sem acusações, sem invectivas - têm certamente o seu espaço, enorme!, mas não cabem na discussão que vos proponho.

Quero gritar Paremos o retrocesso!  (*)

Não quero murmurar Porra, o passado é hoje!

 

Fica o modesto apelo. 

 

 

Edição a 29 de Abril de 2019

(*) Frase editada. Originalmente, era Basta de retrocesso!

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

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lançado às 17:27

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



38 comentários

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De júlio farinha a 11.12.2018 às 19:56

" Despejamos neles - políticos de carreira - o voto, a responsabilidade e a irresponsabilidade". " Alguém há-de fazer algo mas não hoje ou não eu". Em França fez-se algo, mas foi obra do "tropel do impensado gesto". Certo. Queremos mudança. Mas "que mudança?", pergunta. "Quem a pede apenas a quer, não a pensou nem pensa (sublinhado meu). É preciso mudança? Sim. Consegue-se tal transformação com anarquia e arruaça dos de direita e da esquerda? Não. É preciso que a mudança se faça sob uma ideologia humanista e igualitária onde caiba a diversidade.
O ser diz-se de muitas maneiras. Isto pede um Estado transitório que não represente uma só classe ou a simples média aritmética das classes. Pensar numa democracia baseada no voto de indivíduos que valem todos o mesmo, ou pensar que só pela educação se consegue uma democracia perfeita é ilusão. Para se atingir uma boa democracia alguém tem que perder privilégios e poder. É preciso não esquecer que a economia anda de braço dado com a política.
O tipo de democracia real. e não aparente (Platão),terá que elevar ao poder um conjunto de almas próximas da Ideia (verdade) onde a Razão seja rainha. Tecnicamente, e na sua essência, uma real democracia não se alcança com eleições viciadas à partida. A verdadeira Democracia terá que abandonar o mundo cópia da Verdade platónica e contactar com o supremo Bem. Este rompimento com o mundo das trevas referido em A República, transposto para a nossa temática equivale a uma revoluçao. Esta, dar-se-á quando os de baixo já não quiserem (lucidamente) viver como até então e os de cima estiverem, prestes a cair de podre, impossibilitados, mergulhados nas suas irremediáveis contradições, de governar.
Às tantas, pensarão que estive para aqui a escrevinhar utopias e impossibilidades históricas em desuso. Se assim for, "naomedeemouvidos". É uma hipótese, Sarin.
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De Sarin a 11.12.2018 às 22:38

Acredito que também aderirá... já envio o email :)

[a palavra a quem a quer]




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e uma viagem diferente



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