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cabeçalho sobre foto de Erika Zolli
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(fonte da imagem aqui)
Ontem foi dia 8 de Dezembro, dia importante entre amigos que se fizeram na Universidade e que ao dia 8 lá tornam. Com saudades, ouço os discos de O Trovante porque "Trovante, Praça de Toiros de Évora, 3 de Maio de 1991" fomos nós, uma pesada e louca empreitada para segundanistas caloiros de meio ano, que o outro meio fora-se nas greves dos professores e nos exames adiados. Mas queríamos e acontecíamos, entre alecrim e mangerona as nossas guerras assim também.
Ouvia a Linha das Fronteiras, e os primeiros acordes "Não se espantem se eu não fico aqui, Há sempre outro ver para o que vi" a pesarem-me nos coletes amarelos, sobre quem tenho vadiado por postais alheios.
Há. Há sempre outro ver para o que vi, mas não gosto quando olho, abomino quando vejo: como podemos ficar serenos, quiçá a sorrir do passado, enquanto apontamos o dedo ao teclado e nele pisamos e repisamos a dor duma democracia arrastada pela turba na lama onde a deixámos merdar, lentamente medrando o desprendimento até vicejar desprezo em cada um absentista, por cada assembleia em que não fomos ouvidos por nela não sermos, em cada projecto que ignorámos expectantes desses alguéns que o foram burilando nos nossos ossos? Expectantes, não, despejantes. Habituámo-nos a despejar nos partidos, nos políticos - em itálico porque todos o somos, os nossos gestos políticos por consciência ou a rogo, mas os daqueles pensados por carreira. Despejamos neles o voto, a responsabilidade e a irresponsabilidade. São eles que a assumem, é certo, e nela se aninham - primeiro em ninhos, depois em cóios de onde assaltam os feudos instalados. E nós, desligados, abstinentes ou votantes, deixamos a impotência fingir-se grito no teclado porque alguém há-de fazer algo mas não hoje ou não eu.
E depois aguém faz: pega nas redes e enleia os descontentes que querem soluções simples e imediatas para os problemas que todos deixámos acontecer, que se lixe o futuro, e os princípios, se os há, por ferro e por fogo feridos no fundo do monturo a que ainda chamam consciência. Nós, humanos, somos bichos sociais, senhores, quando sós procuramos iguais, quando no mesmo espaço agimos em manada. Se os líderes, os alfas, não reflectirem, quem segurará o tropel reflexo do impensado gesto, da impulsiva afronta?
Vejo a exaltação por contágio, pandémica na sua vontade de mudança. Mas que mudança? Quem a pede apenas a quer, não a pensou nem pensa; e quem a oferece tem objectivos definidos onde só cabem uns quantos eleitos, os outros condenados à exclusão ainda antes da partida.
Chegou a hora de dizer Basta! Basta de alienação, basta de falar para desaturdir a mágoa, basta de teclar para esfiapar consciência aqui e acolá. Desafio-vos a pensar, a discutir, a propor correcções à nossa Democracia, ao nosso sistema eleitoral, ao nosso futuro enquanto Portugueses e enquanto Europeus. Sem partidos, sem acusações, sem invectivas - têm certamente o seu espaço, enorme!, mas não cabem na discussão que vos proponho.
Quero gritar Paremos o retrocesso! (*)
Não quero murmurar Porra, o passado é hoje!
Fica o modesto apelo.
Edição a 29 de Abril de 2019
(*) Frase editada. Originalmente, era Basta de retrocesso!
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