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cabeçalho sobre foto de Erika Zolli
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Há uns dias, no Postal sem pressa, falei das vítimas esquecidas em nome de outras vítimas mais recentes, e mencionei o algum abrandamento nos esforços de reconstrução em Moçambique após as passagens consecutivas dos ciclones Idai e Kenneth, ideia reforçada pelos testemunhos constantes na notícia inserida numa das ligações.
Hoje deparei-me com a notícia de que Moçambique não recebeu ainda um terço das verbas orçamentadas na ONU, o que compreendo - entendo que as verbas devem ser libertadas gradualmente sob pena de, num cenário de crise como o vivido, não haver controlo suficiente e ocorrer desperdício ou desvio. Por outro lado, acredito que tal libertação não será aleatória, mas devidamente articulada com as intervenções no terreno. E desejo que o tempo prove que esta frase não resulta de ingenuidade mas de esperança.
Quase simultaneamente, deparei-me com um postal no qual jpt fala do estado crítico de uma capela em plena Ilha de Moçambique. E onde digo uma, devo esclarecer, conforme faz o autor:
* Tratar-se da primeira igreja cristã no Índico austral, com perto de 500 anos;
* Ser o único edifício manuelino naquela região moçambicana, talvez até em toda a África austral.
A reposição da normalidade, a recuperação do modo de vida, é também um esforço emocional e intelectual, não apenas biológico, e os símbolos revestem-se de especial importância. As obras são também parte da humanidade que se pretende preservar, embora perante a emergência, vital, haja dificuldade em perceber ou aceitar urgências que não claramente de sobrevivência. Mas Notre Dame de Paris provou-nos recentemente que não terá tanto a ver com as urgências mas com a sua divulgação junto da chamada opinião pública e, especialmente, nos meios onde se encontram autoridade e financiamento. A tal fama, a pesar quase tanto como as importâncias histórica e artística.
Abaixo insiro fotografia e transcrevo frases do postal " A capela manuelina da Ilha de Moçambique", que pode ser lido integralmente no blogue O Flávio.
"Este é o actual estado da Capela da Nossa Senhora do Baluarte na Ilha de Moçambique, devastada pelo ciclone que assolou a região no final de Abril. (...)
Não creio que o Estado moçambicano possa, na actualidade, repará-la. (...) as urgências e as emergências são gigantescas e os recursos muito escassos.(...) a história da Ilha, pelo menos de XVIII para a frente, é a das constantes reclamações do estado arruinado das edificações – crises económicas, abalos na administração, guerras. E, acima de tudo, as intempéries. (...)
Em 1996/1997 esta capela estava em muito mau estado, tal como toda a “cidade de pedra-e-cal”. A Ilha havia sido proclamada Património Mundial pela UNESCO e houve alguma atenção sobre os edifícios. Em Portugal, a Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses (...) promoveu a reabilitação desta capela, devido ao seu estatuto histórico e ao seu simbolismo. A intervenção não foi muito cara (...) com utilização suficiente de mão-de-obra local. Eu sei que os tempos são diferentes, que há menos disponibilidades financeiras no Estado português.
(...) espero que haja nas autoridades portuguesas pessoas com a suficiente atenção para Moçambique e para a questão do património cultural tangível para disponibilizar a ajuda necessária para uma intervenção nesta capela, de importância única. E que o Estado moçambicano possa e queira acolher esse contributo."
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