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Decorre uma petição pública para que os centros comerciais encerrem ao Domingo.
Ainda não me consegui habituar a esta mania de proibir ... há 45 anos conquistámos a Liberdade, ultimamente parecemos empenhados em usá-la para nos restringirmos.
Faço questão de não ir a centros comerciais ou a supermercados ao Domingo. Aliás, evito quaisquer compras ao Domingo. Opção minha. Não por dever de resguardo cristão mas por política social: todos temos direito ao descanso e ao gozo de tempo em família ou entre amigos. Quero-o para mim, faço ver com o meu gesto que o quero para os outros - nem o perceberão, mas as lojas que frequento sabem-no. Principalmente, eu sei porque o faço.
Há serviços básicos que, obrigatoriamente, têm de ser mantidos, e por isso entendo que a remuneração de tais serviços devia ser condigna à importância de tal obrigação, desde os funcionários dos piquetes dos serviços de água e saneamento aos auxiliares em hospitais lares de idosos orfanatos, de todos os que asseguram os serviços básicos para a nossa segurança e conforto mínimo.
E, depois, há aqueles serviços que podem ser prestados e aqueles produtos que podem ser vendidos em qualquer outra altura sem prejuízo do consumidor, e que a liberalização permitiu que pudessem ser prestados e vendidos ao Domingo. Nada contra tal liberalização, usa quem quer. O problema, porque é realmente um problema, é que não presta o serviço quem quer, não coloca à venda quem quer.
Os grandes centros comerciais, pertença de grupos económicos vários, obrigam contratualmente as lojas a cumprir os horários por si estabelecidos, instituindo coimas para os faltosos e prevendo, até, a resignação de contrato em caso de incumprimento reiterado. As grandes cadeias comerciais, muitas delas franquiadas, terão facilidade de resposta, quer pela solidez da estrutura quer pela rotatividade de funcionários, muitos deles estudantes e recém-licenciados. As lojas independentes, quase familiares, têm mais dificuldade em garantir a resposta: o seu lucro depende daquele ponto de venda, a sua margem diminui com os turnos que é obrigada a garantir e pagar, o seu orçamento não tem folga para pagamento de multas à entidade dona do centro comercial. Claro que estes lojistas podem optar por ter lojas fora de tais centros, mas nem todas as lojas têm boas localizações e nem todos os regulamentos municipais permitem horário livre ao comércio fora dos centros comerciais.
Então, qual a solução?
Talvez uma harmonização de regulamentos facilitasse a vida às lojas e às famílias. Ou talvez uma Lei da Assembleia da República, que obrigasse à liberalização dos horários em todos os municípios que acolham centros comerciais e que impedisse estes de lucrar com eventuais falhas dos seus inquilinos.
Depois, caberia às lojas definir os seus horários em função dos locais onde se instalassem, sem receio de multas e com liberdade para encerrar nos dias que entendessem.
Centros Comerciais abertos ao Domingo? Nada contra - desde que as lojas tenham liberdade para fechar se assim o entenderem, e desde que as lojas fora dos centros comerciais tenham liberdade para funcionar.
Continuo a pensar que o ideal seria não haver comércio de todo, as pessoas precisam de tempo para se ligarem a elas mesmas e aos outros... mas não tenho o direito de impor a minha visão da vida. No entanto, exorto-vos: pensem nisso como opção pessoal. O 25 de Abril de 1974 trouxe-nos a liberdade de expressão a liberdade de opção a liberdade de ser. Usêmo-las todas. Os mais pequenos actos são políticos, se assim os pensarmos.
Nota: Num pequeno inquérito de rua sobre este tema, um prestável cidadão manifestou-se contra o encerramento porque "gosta de passear com a família ao Domingo e se os centros fechassem não teria onde ir". Podia apontar a limitação cultural, a ausência de perspectivas e até o egoísmo na abordagem da questão, e daqui partir para a comparação da sociedade que somos hoje e da que éramos há 45 anos. Mas tenho mais que fazer, e de qualquer maneira já estou há demasiado tempo em frente ao monitor. Refiro apenas que, desde então, ganhámos muito, muitíssimo! Mas poderíamos ter ganho muito mais, assim não nos tivessemos demitido enquanto cidadãos. Pensemos nisto também.
Feliz 25 de Abril!
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