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Sahar Khodayari imolou-se. Por não poder entrar num estádio de futebol, dizem. Mas não, Sahar escolheu morrer pelas chamas a aceitar ser encarcerada por um crime injusto: o crime de ser mulher no Irão.
Iria sofrer seis meses de prisão. Mas já havia sofrido outros tantos, a somar a sei lá quantos tantos sofrimentos pelo crime de desejar mais do que lhe permitia a lei dos ayatollahs, que não a Sharia. E não foi pelo futebol que se imolou. Foi por ser mulher.
Qual o limite que sentiu cruzado, para preferir a eternidade a seis meses? Quem o sabe não contará, deixando à imaginação os seus meses de cativeiro. Terá sido vencida pela força? Pelas ameaças? Pela humilhação? Talvez os seis meses tenham sido meros corolários de uma vida inteira de 30 anos. E o futebol apenas a face mais azul da vida em negras lutas.
Porque Sahar era uma adepta de futebol, a FIFA também se pronunciou. A mesma FIFA que colocou o Mundial de Futebol no Qatar, mas que por Sahar tentará levar o Irão a elidir uma das muitas leis não escritas mas inscritas na vida das iranianas. Inscritas na sua morte, também.
Talvez Sahar não tenha morrido em vão. Mas a morte é vazia, e todas as mortes são mais vazias quando assim.
Estas notícias, com raras excepções, vão oscilando entre a leviandade e o desconhecimento. É uma realidade tão distante do nosso maravilhoso mundo ocidental que se torna difícil de racionalizar. Tenho um respeito e uma admiração enormes por estas mulheres que não se vergam, não se calam, mesmo que isso lhes custe a vida. Não imagino, sequer, como se faz, como conseguem.
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