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As chamas azuis da discriminação

por Sarin, em 12.09.19

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Sahar Khodayari imolou-se. Por não poder entrar num estádio de futebol, dizem. Mas não, Sahar escolheu morrer pelas chamas a aceitar ser encarcerada por um crime injusto: o crime de ser mulher no Irão

Iria sofrer seis meses de prisão. Mas já havia sofrido outros tantos, a somar a sei lá quantos tantos sofrimentos pelo crime de desejar mais do que lhe permitia a lei dos ayatollahs, que não a Sharia. E não foi pelo futebol que se imolou. Foi por ser mulher.

Qual o limite que sentiu cruzado, para preferir a eternidade a seis meses? Quem o sabe não contará, deixando à imaginação os seus meses de cativeiro. Terá sido vencida pela força? Pelas ameaças? Pela humilhação? Talvez os seis meses tenham sido meros corolários de uma vida inteira de 30 anos. E o futebol apenas a face mais azul da vida em negras lutas

 

Porque Sahar era uma adepta de futebol, a FIFA também se pronunciou. A mesma FIFA que colocou o Mundial de Futebol no Qatar, mas que por Sahar tentará levar o Irão a elidir uma das muitas leis não escritas mas inscritas na vida das iranianas. Inscritas na sua morte, também.

Talvez Sahar não tenha morrido em vão. Mas a morte é vazia, e todas as mortes são mais vazias quando assim.

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

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lançado às 17:55

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



22 comentários

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De MJP a 12.09.2019 às 18:12

A crueldade da injustiça, num Mundo cada vez mais desumano e desigual! :(
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De Sarin a 12.09.2019 às 19:19

Mais que da injustiça, é a crueldade da prepotência dos deuses de pacotilha...
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De naomedeemouvidos a 13.09.2019 às 07:42

Não tinha visto esta notícia. É inacreditável, a repressão a que estas mulheres são sujeitas. E não só as mulheres, mas, elas, nós, principalmente. Um verdadeiro inferno em vida.
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De Sarin a 13.09.2019 às 09:19

Reza Pahlavi reprimiu a religião e mandou a polícia arrancar o véu das crentes - tinham de se expor mesmo contra vontade. A revolução islâmica trouxe-lhes o inverso. E trouxe-lhes muito menos.


E nesta história choca-me também que seja noticiada como "imolou-se por não poder assistir a jogos de futebol", quase como se fosse mero capricho... (também me irrita, embora por motivos bem menos importantes, que alguns tenham escrito "incendiou-se", como se o verbo correcto lhes fosse desconhecido ou o fogo lhe surgisse por artes...)
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De naomedeemouvidos a 14.09.2019 às 15:52

Estas notícias, com raras excepções, vão oscilando entre a leviandade e o desconhecimento. É uma realidade tão distante do nosso maravilhoso mundo ocidental que se torna difícil de racionalizar. Tenho um respeito e uma admiração enormes por estas mulheres que não se vergam, não se calam, mesmo que isso lhes custe a vida. Não imagino, sequer, como se faz, como conseguem.

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De Sarin a 14.09.2019 às 18:00

Ainda bem por nós que não imaginamos. Ainda bem por nós, ainda mal por elas - talvez que se todas nós ocidentais ainda nos lembrássemos de como era pudéssemos ser mais exigentes nas horas de comprar ou de votar...
E sim, muita leviandade e muito desconhecimento - compreensíveis nas redes sociais, abomináveis na comunicação social!
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De naomedeemouvidos a 14.09.2019 às 18:06

A comunicação social anda, cada vez mais, de cabeça perdida. Já viste a qualidade dos textos, dos trabalhos de reportagem, dos programas de informação, da condução de entrevistas...é de arrepiar.
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De Sarin a 14.09.2019 às 18:10

Responsabilidade da linha editorial ser decidida pelo conselho de administração.
Não há revisores, não há jornalistas, não há critérios - mas há caixas de comentários para haver visitas para haver publicidade, e por isso faça-se notícia com qualquer coisa. Qualquer um serve para fazer qualquer coisa.
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De naomedeemouvidos a 14.09.2019 às 18:31

E porquê? Há toda uma nova dinâmica que ninguém sabe bem como acompanhar. As notícias esgotam-se antes de se perceber bem a raíz ou a relevância do assunto. E o assunto é cada vez mais ditado pelas massas, e as massas parecem cada vez mais avessas à verdade dos factos, e damos por nós numa espiral alienada de que poucos saberão como sair.


O que podemos fazer para quebrar o ciclo exige mais do que vontade, e não está alcance de todos.
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De Sarin a 14.09.2019 às 18:46

Já o discuti com alguém, há uns tempos - espero não ter sido contigo, para não me repetir :)
Neste momento, os únicos que têm dinheiro para investigação de fundo em Portugal serão os da COFINA, muito graças aos crimes de faca e alguidar que o CM vendeu durante anos e que fizeram do consumidor exactamente o que queriam. É preciso coragem para dizer que as notícias não evoluem ao segundo. Que se algo relevante acontecer entre uma edição e outra lança-se uma edição especial.
O The Times limitou a publicação e actualização das notícias online a três vezes por dia. Outro só permite comentário a quem leu a notícia. É uma questão de ética. Não perdem clientes por isso, substituem-nos - até porque a maior parte navega gratuitamente entre jornais...
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De naomedeemouvidos a 14.09.2019 às 19:02

A discussão não foi comigo :))


Sim, sabia desses exemplos. É preciso encontrar soluções, de facto. A "informação" grátis é outro dos problemas. Ou talvez seja só outra face do mesmo. 


Beijos. 
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De Sarin a 14.09.2019 às 19:09

Ainda bem, então :)
As soluções estão encontradas, mas os conselhos de administração gostam de likes...
Enfim, isto vai mudar a bem ou a mal - e nem me refiro à selecção não-natural económica.
Beijos, bom final de semana
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De Sam Graphia a 14.09.2019 às 09:28

Há muitos anos vi um filme na RTP que tocava exactamente nesta questão - mas sem imagens tão extremas (custa-me sempre utilizar esta palavra para definir situações destas, pois sinto que utilizá-la é cair no vocabulário machista de que tudo o que se faça - façamos - em resposta é extremo. Enfim, uma reflexão que vou continuar a fazer sobre a palavra...). 
O filme intitula-se, em inglês, "Offside" (2006, de Jafar Panahi), e é mesmo iraniano, filmado lá e tudo... mas, óbvio, proibido de ser passado no Irão. Enfim, deixo a sugestão perante a tua reflexão e indignação que subscrevo totalmente e à qual não consigo acrescentar nada mais do que raiva e tristeza neste momento (e não apenas pela situação em si, mas também pela forma como a notícia é reportada em vários lados - as palavras têm um poder enorme e a imprensa continua a alimentar um mundo patriarcal com as palavras que decide usar para relatar factos, como bem constataste nos comentários... argh!). 
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De Sarin a 14.09.2019 às 17:47


É uma das minhas guerras aqui por este burgo, a forma como a comunicação social distorce o foco das notícias... é repulsivo, e neste caso... caramba, a notícia apareceu na secção desporto. Desporto! Como se não fosse, acima de tudo, uma questão de Direitos Humanos e uma questão Política! A prisão, as limitações, as humilhações... tudo branqueado, e à FIFA, tão ligeira neste caso, escaparam-se-lhe todas as questões levantadas a propósito da Arábia Saudita e do Qatar...


Obrigada pela sugestão, Samantha, vou procurar.E obrigada por teres passado :)
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De ossapossabembeijar a 14.09.2019 às 10:19

Fiquei estupefacto com esta cena 
Inacreditável como ainda há religiões e países onde a mulher está em último na cadeia de relevância ... 
Lindo post o teu 💋 
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De Sarin a 14.09.2019 às 17:49

São bem mais do que aqueles que imaginas. O Japão, meu amigo, é um deles...
Obrigada :**
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De Marta Elle a 14.09.2019 às 14:31


Qual será a lógica das mulheres não poderem assistir a jogos de futebol ?

Parabéns pelo destaque.
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De Sarin a 14.09.2019 às 17:57

Não podem ver nem futebol nem outros desportos desde que em estádios.
Tem tudo a ver com a tentação do pecado carnal - o corpo masculino em exibição, as hormonas, o espírito aguerrido... as meninas ficam em casa.


Obrigada, Marta :)
Beijos
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De José da Xã a 14.09.2019 às 18:12

Sarin,
Os fundamentalismos religiosos serem deram ao mundo maus exemplos.
A igreja católica, por exemplo, continua fechada à sociedade. Não admitem casamentos nos padres, não admitem que mulheres celebrem missa e olham para contracepção como um pecado mortal. E eu nem sou duvidoso por que sempre me assumi como católico.
Mas não concordo de todo com esta postura. De certeza que nenhum dos profetas antigos mandou os seus fiéis terem estas atitudes tão retrógadas.
Bom fds.
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De Sarin a 14.09.2019 às 18:24

Olá, José.
Não mandaram, e tudo depende das interpretações dos homens - neste caso, dos ayatollahs. Mas podemos falar dos padres, não há grandes diferenças históricas e ainda em Junho fiz um postal sobre a exploração de crianças por parte de congregações religiosas... E começa a notar-se de novo a miscigenação das igrejas na política dos estados ocidentais, vejam-se Brasil e EUA e o peso dos evangelistas. Não é uma questão "eles" vs "nós". É mesmo uma questão de Direitos Humanos, que queremos Universais. Mas nunca foram.
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De O ultimo fecha a porta a 14.09.2019 às 21:08

Tema muito importante. Há sociedade (e respetivas leis nacionais) que ainda são muito discriminatórias para com as mulheres. A propagação deste tipo de notícias é fundamental para que haja mudanças, sob pena de se continuar num obscurantismo silencioso.
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De Sarin a 14.09.2019 às 21:12

Mas esta foi muito mal noticiada - quase passou em branco, negra e azul como é. E surgiu nas secções de desporto, nos jornais de desporto. O que não será mal pensado de todo, se pensarmos que há países onde se pratica o tiro à mulher. Nem todos islâmicos, já agora. E não em todos os islâmicos, já agora também.

[a palavra a quem a quer]




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