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Os factos agonizam

por Sarin, em 15.04.20

B24.jpg

Passeava pelos Últimos Posts, e deparei-me com isto:

China “deve ser processada sob a lei internacional” por causa dos seus perigosos hábitos alimentares

O mundo não pode continuar a ignorar o risco das exóticas (para ser subtil) práticas alimentares dos asiáticos. Sopa de morcego é um dos pratos mais comuns na China, mas nos hábitos alimentares orientais consta o cão, o rato, o cérebro de macacos vivos, insectos, aranhas, (...)

 

Li este bocadinho e pensei se valeria a pena comentar ou não.

Como explicar que exótico nada tem de subtil porque exótico significa estrangeiro?

Como explicar que sopa de morcego não apenas não é comum na China como nem sequer chinesa é?

Como explicar que ratos e ratazanas são comidos nos mesmos países que a sopa de morcego, ou seja, Vietname, Tailândia e atéTaiwan mas não China?

Como explicar que o cérebro de macacos vivos assim que retirado do crânio passa a ser de macacos mortos - e que o vapor que se vê no Indiana Jones e o templo perdido é do gelado e não da respiração do macaco decapitado?

Como explicar que em algumas regiões da China comem o cérebro de macacos tal como por cá comem a mioleira do cabrito e do borrego? Ou que as aranhas estão para eles como o camarão para nós? 

Como explicar que o consumo de carne de cão está para muitos chineses como as touradas estão para muitos portugueses - uma tradição a eliminar? Ou que muitos de nós comemos vacas - que na Índia são sagradas ?

Como explicar a alguém tão cheio de certezas...

... a alguém que nem verifica aquilo que publica

... que os chineses e os vietnamitas e os tailandeses e os indonésios e os japoneses e os filipinos vivem todos para aquelas bandas do Mundo, têm todos culturas milenares mas não são a mesma cultura, não são a mesma cultura, não são a mesma cultura?!

 

Aquele título e o pequenino exemplo são um amontoado de preconceitos. Mas dei o benefício da dúvida, poderia tratar-se de um pobre crente que come tudo o que lê e vê nas redes sociais, mesmo que alguns jornais desmintam e voltem a desmentir tais "notícias". Por isso, abri o postal e fui ao blogue. Para me deparar com a continuação:

(...), o Pangolim. Enfim um conjunto repugnante de "iguarias", que são uma verdadeira ameaça para toda a humanidade.

Enquanto não houver um tribunal que julgue as consequências das práticas alimentares asiáticas que se têm revelado perigosas para o mundo, estaremos sempre à mercê do surgimento de vírus que matam milhares de pessoas e destroem economias.

Em meados da década de 2010, os morcegos foram a origem de outra doença respiratória semelhante à Sars: a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, que afectou menos pessoas mas foi mais letal. 

Quanto a este novo coronavírus - baptizado de Covid-19-19 (..)

 

Porra! Que entenda que as práticas alimentares chinesas e as práticas alimentares asiáticas são tudo a mesma coisa, vá, eu ainda aceito a tacanhez e a confusão. Que tenha a opinião de que são perigosas para o mundo e que seja necessário um tribunal para julgar os hábitos alimentares de cada país, entre pezinhos de coentrada, tripas à moda do Porto e percebes eu ainda engulo. Mas estava capaz de jurar que a Equipa do SAPO teve, durante semanas, um texto pespegado na área de gestão de blogues a dizer algo parecido com

Como autores, temos o dever de ser rigorosos com a informação que veiculamos sobre a Covid-19

Porque falará esta gente com poupa e circo estância daquilo que aparentemente não sabe, que não se dá ao trabalho de verificar, que não tenta sequer avaliar antes de publicar?!

Em 2009 a Pandemia foi de Gripe A, Gripe A, causada pelo vírus H1N1, vírus H1N1, que não é um coronavírus. Mas a Gripe A é uma zoonose - ligada aos suínos, suínos, não aos morcegos. E surgida na América do Norte, América. A SARS (Síndrome Respiratória Aguda Severa) é uma zoonose ligada a morcegos, morcegos que não são alimento, e surgiu em 2002 na China. Já a MERS (Síndrome Respiratória do Médio Oriente) é uma zoonose ligada aos dromedários, dromedários, e surgiu em 2012 em países do Médio Oriente - mas não por os comerem.

Este novo coronavírus chama-se SARS-CoV-2, SARS-CoV-2; Covid-19 é a doença, Covid-19 é a doença  provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2.

Irra!

A uns dá para pararem na estrada para ver os acidentes, a mim dá-me para ler textos cheios de contradições, incorrecções e alegações absurdas. Com um desprazer mórbido, continuei a ler, talvez que este texto nada tivesse com aquilo dos Prognósticos antes do jogo. Talvez.

Mas a pedra-de-toque do argumento e que me apeteceu atirar à cabeça do autor de tal texto foi

Tudo isto [os excertos acima e mais um conjunto de frases sobre "o mercado de Wuhan", animais selvagens, pangolins e morcegos] são mais do que evidências que é preciso julgar a China nos tribunais internacionais, entre outras responsabilidades por não controlarem as práticas alimentares que violam o Regulamento Sanitário Internacional (...)

 

Terá quem isto escreveu alguma vez lido o Regulamento Sanitário Internacional, ou saberá para que serve e ao que se refere?! Se leu, para que escreve um absurdo destes? Se não leu, porque menciona sequer tal diploma?! Não há pachorra! 

No parágrafo seguinte tinha um aplauso à Índia por apresentar queixa contra a China por crimes de guerra, um aplauso caído assim do nada pois todo o texto cirandava pelos hábitos alimentares e, subitamente, um parágrafo inteirinho retirado daqui. Sem umas aspas, sequer. Não percebi onde passou do garfo à baioneta, mas percebi a necessidade de visar a China, de acusar a China, de atacar a China fosse como fosse. E depois de tudo isto nada mais li - antes comer miolos de macaco vivo

 

Opinião é um conjunto de ilações sustentadas pela interpretação de factos, e se as interpretações podem variar, os factos são imutáveis. No entanto, postais como este são violação de factos, são adejar de falsas informações, são atentados à análise e ao raciocínio - em suma, são atentados à Opinião.

E o problema de postais como aquele de que falo nem é estarem cheio de falsidades nem é arvorarem ilações que não podem resultar daquilo que apresentam como factos, pois que deles desconexas. O problema de postais como aquele é serem o portentoso reflexo da mistura de falta de esclarecimento com a vontade de alardear certezas - reflexo, portanto, dos que, de crença em crença, acabam por aniquilar o rigor, desprezar o raciocínio e, finalmente, adorar quem gritar mais alto durante mais tempo.

Cada vez acredito mais que não aprenderemos grande coisa com esta pandemia.

 

Nota final: Já depois de ter escrito este texto, e em plena busca de ilustração, fui tentar perceber quem era o autor do postal. Diz que é jornalista. Do Económico. Maria Teixeira Alves. Tenham dó, porra!

 

imagem de Chema Madoz

 

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

Autoria e outros dados (tags, etc)

lançado às 01:53

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



34 comentários

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De imsilva a 15.04.2020 às 10:36

É um prazer (ou um gosto como agora se diz) ler os teus postais e a garra com que os escreves. A informação,  a indignação,  e o desenvolvimento são sempre certeiros. Gabo-te a paciência e tempo gastos, mas também os agradeço. Não tenho mais para dizer (já disseste tudo). Beijinho 
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De Sarin a 15.04.2020 às 11:13

Olá, im.
Não consigo ficar impávida perante trituradores dos factos. Se cada verdade resulta da interpretação, os factos são basilares - e não tenho tempo nem paciência para deixar comentários a tanta carnificina!
Mas o choque veio quando descobri que a autora é jornalista! Se esta gente não está a soldo de alguém, e nesse caso vale tudo para atacar, então só pode ser alguém sem ética nem método - não são coisas que apenas se usem em horário de trabalho...
Obrigada, im :) Defender os factos e a liberdade de expressão é paixão. Espero que a paixão nunca me cegue :D
Beijos, tem um bom dia :**
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De amarquesademarvila a 15.04.2020 às 11:59

Estou maravilhada com a lucidez das tuas palavras!... li todas as letras, pontuações e tudo com a máxima atenção e deslumbramento. Fiquei que tempos a olhar para o teclado a pensar no que comentar... escreveste exactamente o que penso e que nunca consegui pôr em palavras escritas de forma tão clara a lúcida! Obrigada pela fantástica reflexão! 
São perigosas estas pessoas que debitam assunto que desconhecem com o único objectivo de justificarem o seu preconceito. 
Beijinho
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De Sarin a 15.04.2020 às 12:44

São muito perigosas! E depois elegem Trumps e Bolsonaros e Órbans e Abascals...
E esta, vi depois, diz-se jornalista!
Obrigada, Marquesa. Há situações que me tiram a brandura e a serenidade - felizmente, ainda consigo raciocinar friamente perante coisas assim. Mas até quando? ;)
Beijocas, cuida-te :**
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De Luísa de Sousa a 15.04.2020 às 12:17

Mais um texto que faz um bem danado à lucidez!!!!
Quanto aos hábitos alimentares chineses, como portugueses e culturais, são tudo crenças.


Beijinhos Sara
Feliz Dia!
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De Sarin a 15.04.2020 às 12:39

É mesmo esse um dos problemas, Luísa - os aspectos culturais são incompreendidos como tal, há gente que acha que o mundo tem de ser como o querem e tudo o mais é nefasto e fruto de teimosias de seres atrasados ou perigosos.
E é a autora de tal texto uma jornalista, caramba :(
Beijocas, Luísa, e obrigada :****
Um bom dia para ti também
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De Não Identificado a 15.04.2020 às 12:25

Comentário apagado.
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De Sarin a 15.04.2020 às 12:32

Está, sim. Sempre houve, mas a tecnologia permitiu que malabaristas, imbecis e crédulos tivessem mais palco - a democratização da falsidade.
Mas, qual olho sobre os miolos do macaco, a fulana que escreveu tal desarrazoado diz-se jornalista! É duplamente deprimente!
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De Isa a 15.04.2020 às 14:10

Aquela característica arrepiante da espécie humana, de ser mais rápida a apontar o dedo do que ponderar sobre a informação que recebe 😑 e também de procurar um culpado à força toda...


Mais depressa os surtos de influenza têm origem em explorações de aves e de suínos, do que de mercados de "exóticos"... ainda por cima, exóticos que são "cultivados" para alimentação humana há décadas. 


Li algures que 65% das doenças dos animais são transmissíveis para humanos, basta termos azar no germe contraído e temos uma epidemia...
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De Sarin a 15.04.2020 às 14:31

É isso mesmo, Isa :/
Agora imagina o que senti, depois de tudo o que escrevi, ao descobrir que a autora diz ser jornalista!


Há quem papagueie o que lê a outros, mas verificar informação e raciocinar parece ser arte mais difícil do que equilibrar pratos chineses em cima do monociclo em pleno arame!
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De Isa a 15.04.2020 às 16:30

Com exemplos destes, não admira que credibilidade dos média esteja em declínio. São os próprios profissionais da área que estão a contribuir para tal. Tanta desinformação, tanta manipulação de opinião, tantos factos errados e mal fundamentados, tanta narrativa orientada ao sensacionalismo. Depois admiram-se da malta não querer pagar para ler jornais.

O que me preocupa, é que eu - tal como tu, consigo detectar a bullshit nas noticias sobre a pandemia do coronavírus, assim como noutras áreas que tenho conhecimento. Que razões tenho para acreditar nas notícias, quando não domino o tema ou tenho tempo para investigar? Quem me diz a mim que não são tanga também?
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De Sarin a 15.04.2020 às 16:39

"Quem me diz a mim que não são tanga também?"
Por isto não vejo noticiários. Leio as notícias. E ou tenho tempo para cruzar informação ou é como se não as tivesse lido, que isto de acreditar em apenas um jornal - ou em vinte que começam com "segundo o jornal X" - é coisa de menina da primária e já nessa altura eu procurava num jornal o que lia noutro.


Não, não se admiram. Sabem. Mas se a arte vende, então também venderá o fazerem-se de vítimas. Conforme o jeito que lhes dá. (No postal sobre a pirataria falo desses piratas ;))
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De Mia a 16.04.2020 às 00:41

E mais isa, pelo que li, esta possibilidade já era conhecida. Que iria acontecer, que havia probabilidade de ocorrer uma pandemia. Eu sinto-me um bocado palerma, pois sempre pensei que uma grande crise haveria de chegar em forma de guerra e nunca por uma doença.
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De Isa a 16.04.2020 às 01:19

Não tem faltado avisos de cientistas e da comunidade médica sobre esta possibilidade, agora mesmo acabei de ler um relatório de Setembro de 2019, intitulado "Preparedness for a High-Impact Respiratory Pathogen Pandemic", que parece que foi elaborado com uma pandemia deste género em vista. Não era uma questão de "se" acontecer, mas "quando". A malta é que anda demasiado ocupada com outros assuntos...
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De Sarin a 16.04.2020 às 01:35

E bingo!
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De Sarin a 08.05.2020 às 15:35

Será o relatório daquela comissão que por acaso (foi mesmo acaso) reuniu no dia em que surgiram atletas infectados com uma mui estranha gripe? Talvez não seja, este de que falo é o Event 201, de 18 de Outubro.
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De Maria a 15.04.2020 às 15:10

É  sempre com deleite que leio os teus postais.
À medida que a leitura avançava ia pensando, que cretino será  este que debita tanta tolice.
Qdo dás a conhecer o autor de tamanha verbosidade nem queria acreditar.
A sra deve ter faltado a todas as aulas de Ética  e Deontologia. 
Enfim, triste imagem do jornalismo. 
Beijo
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De Sarin a 15.04.2020 às 16:58

Olá, Maria, e obrigada pelas tuas palavras :)
Acho que sim, que faltou a todas essas aulas e a mais algumas, como verificação de factos e de fontes... Se o texto já era vergonhoso, tendo a autoria que tem tornou-se bem mais desprezível.
Enfim, é o que há por aí.
Beijos, Maria, cuida de ti (e da tua horta :))
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De cheia a 15.04.2020 às 23:34

Gostei muito! Muitos parabéns.
Boa noite
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De Sarin a 15.04.2020 às 23:48

É uma pena haver necessidade de postais assim, passaríamos melhor com um postal de dança; para outro dia ficará.
Obrigada, José, e boa noite.
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De Mia a 16.04.2020 às 00:36

Sim concordo, já tinha percebido o que é o covid19, mas tive que ir á procura de informação. Temos que ler tudo ainda com mais cuidado, mesmo ao ouvirmos as noticias, já me habituei a filtrar. Muito se diz e muitos disparates têm sido feitos. O unico reparo que faço em relação á china, foi não terem lançado o alarme mais cedo, e se o fizeram não foi pelos canais correctos. Em Janeiro eles já estavam no lodo, mas nós na Europa não. Pelo menos em Fevereiro lembro-me de ter ouvido a graça freitas dizer que éra mprovavel chegar cá o virus. Eles sabiam? A OMS e a nossa ONS saberiam ? é que a dimensão da coisa, os custos em vidas e na economia são inimagináveis. Não ficas com pele de galinha? eu fico e muito e nem te conto as vezes que já chorei. 
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De Sarin a 16.04.2020 às 00:52

Sou de risco, mas sou também serena e, espero, ponderada. Choro a ausência e calo muito mais o que me dói do que o que me irrita - sobre a irritação posso fazer algo :)


Sobre a China, espreita o postal Prognósticos depois do jogo e depois diz-me o que pensas.
Já sobre a desinformação... cada vez mais filtros, Mia! Se uma jirnalista escreve textos daqueles, imaginamos o que ficará na cabeça de quem os não usa.


Beijos, bem voltada :)
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De José da Xã a 16.04.2020 às 18:08

Acho que os chineses vão-nos acusar de muita lentidão...~
Sabes porquê?
Porque comemos caracóis e eles odeiam.
Fantástico texto. Parabéns.
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De Sarin a 16.04.2020 às 18:18

Não sabia - mas sei que um amigo polaco ficou enjoado e às cores quando, na primeira vez que por cá, o levei à marisqueira e lhe dei camarões. Para que não ficasse triste, num outro dia levei a um tasco e viu na mesa do lado moelas e caracóis... :D
Se for só por isso que nos chamam lentos, boa ;)


Obrigada. Acredita que preferia não ter sentido necessidade de o escrever - ou melhor, que não houvesse motivo para o escrever. E, hoje, o que lhe deu origem lá está, pespegado no Corta-Fitas... a sério, José, como é que gente desta tem carteira profissional?! A ética é coisa que se use só nas horas de trabalho? Ca...nojo!
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De Ricardo Nobre a 17.04.2020 às 22:27

Bem sei que não foi a sua intenção, mas ainda me ri um bocado com isto. Porque a ignorância tem graça, senão não havia piadas de loiras, que no Brasil são de portugueses (pensarão certamente em jornalistas como a nomeada).
Depois do momento da piada, lembrei-me do tempo em que na Europa — e neste civilizadíssimo rectângulo ajardinado — iam a julgamento nos tribunais competentes todos os que não professavam uma religião. E que, antes da Inquisição, já os hitlers portugueses matavam judeus. Os argumentos são muito Maria Teixeira Alves: não fazem o que eu faço.
Houve ainda a preocupação climática: a quantidade de gases bovinos que se lançariam na atmosfera se a China e todo o Oriente começassem a comer bitoques (e que desinteressantes se tornariam os restaurantes chineses…).
Os jornalistas portugueses devem ter cadeiras de plágio na faculdade, tantos são os que a praticam, em todos os meios de comunicação social. Que seria deles sem um código de ética?
E temos, claro, a COrona VIrus Disease nascida em 2019*, que nos mupis das farmácias portuguesas também aparece no masculino. Não há-de ser comum falar do/da/dos/das diabetes.
Por fim, lembrei-me do Presidente Bolsonaro e dos twits (é assim que se escreve?) apagados pelo Twitter por divulgar erros grosseiros sobre o coronavírus e a Covid-19. Que anda o Sapo a fazer sem ser mendigar responsabilidade?


* Perto de onde fica (ficava? não sei, não vou agora ver) a redacção desse pasquim Económico, passando a linha do comboio para cá do Pingo Doce, fica a do pasquim Público, que anda, desde que isto começou, a dizer que a Covid-19 é a doença provocada pelo coronavírus. Só não lê quem não quer. Ou não sabe.
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De Sarin a 18.04.2020 às 01:04

Código de métrica? Sim, com o copiar e asneirar a metro, acho muito bem que tenham tal código.
"A China e todo o Oriente". Então mas não é a mesma coisa? 
É deprimente, Ricardo. Porque dei por mim a ler e a ter vertigens com o novo Grande Pogrom de Lisboa enquanto vislumbrava os dentes risonhos de um moderno Bruegel pintando o Triunfo... 
Felizmente as vertigens não me dão para ficar sisuda, mas penso que me meteram óxido nitroso nos miolos do macaco vivo - seria outra justificação para o vapor, e há ali umas expressões pelo meio que me parecem demasiado bem-dispostas para o sufoco em que estava. Ou isso, ou fui dando o benefício da dúvida. Confesso, a invocação do Regulamento Sanitário foi o que me deixou furibunda e remeteu para o sério, porque a quem não filtra basta falarem-lhes num qualquer diploma e a conversa  ouvem-na como se letra de lei.


O Sapo... penso que não se quererão meter a retirar postais, e não apenas pelo risco de acusações de censura - afinal, a xenofobia e a desinformação podem ser intencionais ou podem ser apenas imbecilidade, e não sendo a imbecilidade crime torna-se difícil provar a intencionalidade.
E, no pior dos casos, ainda lhes poderia acontecer como a alguns...
... patetas que, de quando em vez, cá vêm despejar a bílis e, sendo delicadamente varridos pela Menestrel, coram e apagam as figuras tristes que fazem - mas mal sabem que a Almoxarife se irrita a sério com essas criancices e a Bobo, para a acalmar, repõe tudinho.
... ou seja, acabaria por andar a Equipa a apagar de um lado e a Maria a republicar pelo outro. Sim, porque ela, como os vírus, replica as suas próprias palavras: no dia seguinte foi pespegar o desarrazoado num outro blogue :s 




Há por aí quem lhe chame O Covid, mas como o sarampo também é doença não insisto muito pois não domino a regra. E com esta coisa do não sei quê de género é melhor não me meter nisso :))
Pelos mesmíssimos motivos que o Ricardo apontou, para mim COVID é menina - e o vírus usa coroa cor-de-rosa, pronto! [sendo um acrónimo, poder-se-á escrever com minúsculas? Mas, sendo o nome de uma nova doença, dever-se-á considerar nome próprio e grafar com inicial maiúscula ou não? Ah! Pensava que se escapava? Vá, agradeça a sugestão para um postal, que a coisa é nova e merece tratamento como hobi - harmonizar objecto bastante intrigante ;)]
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De Ricardo Nobre a 18.04.2020 às 10:46

Oh, que saudades da Maria dos blogues! Pois, não se pode tirar textos só porque eles revelam ignorância, mas há aqueles casos em que, sendo apologia do ódio, se poderia censurar… não sei, é uma ideia. Mas o Sapo nem deve ter gente suficiente para monitorizar (e confirmar) tudo o que se escreve, cá continuaremos a corrigi-los e a aplicar-lhes uma camada de verniz de bom senso por cima.
Quanto à grafia, sendo um acrónimo, é comum maiuscular tudo, de facto; mas, se há Laser e Sida, também pode haver Covid apenas com a primeira letra maiúscula, como tenho lido em vários meios de comunicação de diversas línguas. O sarampo é uma doença, mas, ao contrário de Sida e Covid, não tem na sua formação um elemento (síndrome e doença) que lhe atribua género, que se depreende da terminação -o, normalmente masculina em português. (Já tinha pensado em escrever sobre isso, de facto, mas o confinamento não me tem deixado tempo para tanta coisa… — apenas gostaria de escrever sobre o «ensino a distância», que, sendo português mais do que legítimo, tem sido perseguido por pessoas que «estudaram linguística», a começar pelo famigerado Ciberdúvidas).
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De Sarin a 18.04.2020 às 14:58

Ensino a distância ou ensino a a distância? Porque se em vez de determinada for desconhecida, será ensino a uma distância ou continuará a ser ensino a distância? Nunca pensei nisso senão agora... Vê? Os seus postais, por favor! :)


Não sei se conhece, mas se conhecer não será mau revisitar - o Inquieta(a)titude e o artigo que destaca. Ambos :)
[o a fora dos parêntesis está a mais, mas no telemóvel o cursor não obedece...]




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De Sarin a 18.04.2020 às 14:58

Ensino a distância ou ensino a a distância? Porque se em vez de determinada for desconhecida, será ensino a uma distância ou continuará a ser ensino a distância? Nunca pensei nisso senão agora... Vê? Os seus postais, por favor! :)


Não sei se conhece, mas se conhecer não será mau revisitar - o Inquieta(a)titude e o artigo que destaca. Ambos :)
[o a fora dos parêntesis está a mais, mas no telemóvel o cursor não obedece...]





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De Ricardo Nobre a 19.04.2020 às 07:22

Obrigado pela referência; na verdade, não conhecia, mas a ignorância é facilmente curada em casos destes!


Hei-de escrever… só não sei se será nesta ou na próxima quarentena!
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De Sarin a 19.04.2020 às 08:58

Desde que não me faça ansiar pela próxima quarentena....
Entretanto, espero que vá passando bem esta.


Já agora, uma piada: os linguistas que, no início da COVID19 em Portugal, ficaram loucos com o chamar-se quarentena ao confinamento de 14 dias, devem estar apaziguados com estes 3 estados de emergência seguidos... estão quase atingidos os 40 dias.
Mas quarentena e quaresma não são a mesma coisa... e no entanto parecem. Oxalá ficássemos lavados de pecados :)
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De Ricardo Nobre a 19.04.2020 às 18:57

Sarin, acho que não foram linguistas. Devem ter sido «pessoas que estudaram linguística», porque quem está atento ao uso da língua já tinha percebido, há largos anos, que «quarentena» era um termo que apenas guarda em si a memória de este ter sido um período de quarenta dias. É o que se chama «por extensão de sentido», aproveitando uma palavra que já existe sem ser preciso inventar outra (como agora se faz — por ex., eu digo auto-retrato, não preciso de «sélfi»).


Estou a passar bem, como espero que a Sarin também. Sou dos privilegiados que pôde vir para casa sem corte no salário, e com mais trabalho do que tinha antes. Mas ainda mais privilegiado por viver sozinho — sem cão para passear, tenho de ser eu a ir à rua (satis)fazer necessidades básicas. E não tenho dúvidas de que vou ter saudades deste tempo, embora não o possa reconhecer em público nem dizer porquê. Até vou inserir agora aqui um boneco: . Dois: .
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De Sarin a 19.04.2020 às 19:46

Certamente não será por não ter de fazer a barba todos os dias :D:D:D
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De Sarin a 19.04.2020 às 09:02

Reparei agora que lhe falei no Inquiet(a)titudes e o remeti para o Misucartes. Não faz mal, a autora é a mesma :)
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De Sarin a 19.04.2020 às 09:03

Musicartes, desculpem-me o Ricardo e a Ana, a autora.
O artigo sobre García Marquez e os dicionários não foi engano :)

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