Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]



900€ de Amor

por Sarin, em 13.11.19

AA49C550-1E76-4194-9EFA-E8102E51B5ED.jpeg

Estupefacta.

Assim fiquei ao ler que Joacine Katar Moreira defendeu ser o salário mínimo de 900€ um acto de amor.

Não podemos responsabilizar o  minuto e meio de tempo de antena, não podemos responsabilizar a gaguez, não podemos responsabilizar nada que não o próprio entendimento que Joacine faz da política: "política sem amor é comércio".

Não, não entrarei no trocadilho fácil que esta frase convoca. Até porque, no país do Presidente dos afectos, não deixa de ser uma novidade - confesso que já cansava o sexo frio e sem ternura com que os políticos nos têm feito a cama.

 

Seriamente, e apesar de constar do seu programa, gostaria de ver as contas do Livre. Porque não sei se devo admirar o optimismo ou a inocência de falar em 900€ de ordenado mínimo para 2020 quando temos 2/3 dos trabalhadores por conta de outrém a receber abaixo de 1000€ e a subida nominal de 19% em quatro anos foi uma verdadeira conquista.

Mas sei que fico admirada com a capciosidade de confundir justiça social com amor.

Cento e cinquenta anos de reivindicações laborais depois,  desembocamos nisto.

 

Cara Joacine, por amor nasceu a caridade, não o salário mínimo. A remuneração do trabalho é um direito, e exigir um salário mínimo condigno é um dever de quem o assume em programa. Mais uma vez, o amor nada tem a ver com o assunto.

Apelar às emoções é discurso populista, mas cada um saberá o rumo que escolhe e o ramo que representa. Apenas pergunto se é mesmo o caminho que quer seguir. Porque... e depois do amor? Aleluia?

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

Autoria e outros dados (tags, etc)

lançado às 19:55

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.



44 comentários

Sem imagem de perfil

De Rita a 14.11.2019 às 10:45

Olá Sarin, desde a primeira vez que ouvi a Joacine a falar não gostei do discurso. Senti-me interiormente constrangida porque toda a gente falava da gaguez e das origens e eu não queria aumentar a turba que berrava pelos motivos errados, mas não gostei do discurso populista. Para mim o Livre não era nada disso.
Eu tenho um pequeno negócio, com sócios mas sem empregados, que vive à custa da facturação e não de empréstimos bancários. Há meses em que nos vemos aflitos para tirar o ordenado mínimo. O mercado não está a crescer assim tanto como se apregoa na capital ou como apregoam essas empresas que vivem em bolhas de sabão coloridas com empréstimos a fundo que uns anos depois se dá como perdido. Os portugueses querem tudo muito barato e não fazem ideia do que está por detrás de um preço. Eu sou de esquerda. Claro que eu sei que não nos podemos nivelar por baixo. Claro que eu quero que o ordenado mínimo suba. Mas também quero conseguir pagar-me o ordenado mínimo. Com este país e um ordenado mínimo de 900,00 € eu fecho a empresa e vou para Lisboa ser empregada doméstica da Joacine. Rita
Imagem de perfil

De Sarin a 14.11.2019 às 11:04

Olá, Rita.
Esse é um dos problemas da questão, a forma como se "atiram" valores para a discussão. Mas já estava inscrito no programa do Livre, portanto não me choca assim tanto que Joacine tenha falado neste valor - apenas evidencia a fragilidade deste programa e deste partido.
O que me choca profundamente é o despautério do discurso a apelar ao sentimento, fazendo tábua rasa de direitos e deveres duramente conseguidos e acordados entre trabalhadores e patronato.
Percebo a tua situação, e concordo - tu tratas dos quartos e da roupa, eu fico com a copa e com a cozinha.
Sem imagem de perfil

De Rita a 14.11.2019 às 11:46

Obrigada Sarin, detesto cozinhar! Já para passar a ferro, dobrar e arrumar a roupa tenho formação em matemática e geometria que talvez me qualifiquem para o posto. Bjs
Imagem de perfil

De Sarin a 14.11.2019 às 13:54

Bom, apenas fico com a cozinha e com a copa por ter ali uns certificados com as palavras segurança alimentar - os outros de nada me serviriam para tais cargos :(
beijos 
Imagem de perfil

De João Silva a 14.11.2019 às 12:02

Opá como gostava de uma mesa redonda contigo para debater estes temas =) Porque vejo as coisas da mesma forma que tu. E não, a gaguez não pode servir de desculpa.
É uma característica. A partir daí é igual a todos e tem de ser "julgada" como tal.
Este discurso populista parece ser mesmo a chave para entrar no coração dos eleitores, porque as pessoas gostam é disso, não é de perceber que, para já, é impossível subir muito a barra do salário mínimo. Pura e simplesmente "não vai dar".
Detesto este tipo de areia para os nossos olhos, venha de que quadrante vier.
É uma lástima passarem-nos um atestado tão grande de estupidez e pior: querem sodomizar-nos de venda, nem nos deixam ver o ato...
Um bom dia para ti. =)
Imagem de perfil

De Sarin a 14.11.2019 às 14:05

Olá, João :)
Um debate que, assim sendo, nem seria bem debate pois que defenderíamos as mesmas perspectivas - mas há sempre pontos a acrescentar :))
Esta areia, como lhes chamas, já constava do programa do Livre - embora não o esperasse já assim de entrada, sabia que por lá passaria um destes anos.
Mas a minha profunda irritação tristeza desgosto fúria - aquilo que sinto, que é tudo o que disse e mais! - advém do argumento invocar "amor". Que é isto?! Apelar ao sentimento e ignorar os direitos laborais tudo de uma assentada e numa única palavra?! Four letter word aplicar-se-ia muito bem a este discurso de Jacine, não fosse o desrespeito da oradora. Não foi apenas discursos populista para encher chouriço - atacou o princípio da coisa. E o pior é que Jacine, naquela sua onda pia, talvez nem se tenha apercebido.

[a palavra a quem a quer]


Pág. 2/2




logo.jpg




e uma viagem diferente



Localizar no burgo

  Pesquisar no Blog



Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Cave do Tombo

  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2020
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2019
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2018
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D