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Alerta: Phishing PayPal

por Sarin, em 26.03.20

Quem me lê há algum tempo sabe que costumo brincar com os emails fraudulentos que recebo.

Mas este está muito bem feito, e numa altura em que nos dizem para usarmos, preferencialmente, os mecanismos electrónicos de pagamento, prefiro alertar claramente - até porque a PayPal costuma enviar alertas de movimentos.

Por favor, VERIFIQUEM A PROVENIÊNCIA DOS ALERTAS ANTES DE CONFIRMAREM QUALQUER INFORMAÇÃO.

Seja alerta da PayPal ou de outra empresa qualquer.

Este caiu-me na caixa do blogue, o que me deixaria alerta se não usasse uma caixa de recepção alargada. Por isso mesmo, antes de efectuar qualquer leitura, respondo sempre (que é como quem diz, selecciono no meu programa de gestão a opção "responder ao email"), o que me permite verificar para que endereço foi remetido e qual a proveniência. Este veio de um endereço muito revelador, no-reply@over-blog.com

Estejamos atentos. As fraudes estão também em progressão por estes dias.

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[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
[há dias de muita inspiração. outros que não. nada como espreitar também os postais anteriores]

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lançado às 14:01

Crónicas de Santa Bárbara

por Sarin, em 24.03.20

É fácil ter dinheiro e ser contra o Estado social.

É fácil pugnar por menos Estado quando o Estado, imperfeito, nos leva capital e o distribui pelos outros.

 

Difícil é conseguir manter-se assim liberal quando as coisas correm mal.

Difícil é ser liberal e não corar quando se pede ajuda ao Estado.

Mas eles conseguem!

Um, Dois, Três, e estas são só desta semana. Que tem dois dias.

Obrigada, Der Terrorist, pelo arquivo, pela memória pública.

 

E não me venham com a treta do "se o Estado dá a uns, então os outros também têm o direito de pedir", porque direito têm, não têm é qualquer espinha dorsal que lhes permita continuar de pé a arengar contra o Estado-providência.

Se houver alguém que não goste,

não gaste, deixe ficar.

(in Menina dos olhos de água, Pedro Barroso)

 

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lançado às 21:42

Violência doméstica e TIR

por Sarin, em 24.03.20

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Uma mulher de 60 anos agrediu um homem de 45. Este chamou a polícia, que deteve a agressora por suspeita de violência doméstica. Levada a tribunal para primeiro interrogatório, apurou-se que não teria sido o primeiro episódio de violência doméstica verificado. Foi aplicada à agressora a mais leve medida de coacção, o Termo de Identidade e Residência, conhecido como TIR [o TIR, não a TIR].

 

A notícia nada refere sobre a relação entre agressora e vítima mas, tendo sido tratado pelas autoridades como crime de violência doméstica, são certamente coabitantes na mesma residência.

Partindo do princípio de que a vítima retornou à residência, temos o Estado a colocar o agressor no espaço natural da vítima - o que se em situações normais é absurdo e um absoluto desprezo pelos direitos da vítima enquanto cidadão, em pleno estado de emergência é um aval à escalada de violência e das suas consequências.

Caso a vítima tenha sido  encaminhada para um centro de acolhimento, temos o Estado a premiar a agressora, permitindo-lhe permanecer no seu espaço natural, e penalizando a vítima, obrigando-a a abandonar os seus pertences e a refugiar-se num espaço desconhecido.

Pelo contrário, se a vítima voltou para casa porque quis, quis e quis muito bem, pois nada fez de errado para sair - a agressora é quem tem de ser efectivamente afastada, encaminhada para serviços competentes que determinem se a violência resulta de doença psíquica ou de deformação moral, e as medidas de coacção definidas em função do apurado. Compete ao Estado garantir que tal acontece. Mesmo num cenário em que a vítima se prontifica a cuidar da agressora e a chamada para a polícia tenha resultado de uma aflição passageira. A violência doméstica é crime público e as boas intenções fazem vítimas, não há que facilitar numa situação onde o receio ou a ameaça* imperou.

 

Onde estão os Planos de Contingência do Ministério da Justiça? Em situação normal, o Estatuto de Vítima e a forma como com ele se lida carecem de revisão profunda - mais se impõem os ajustes em tempos de confinamento.

E é nestas pequenas coisas que percebemos a inércia dos nossos deputados, a inépcia das nossas forças judiciais e de segurança nas abordagens aos indivíduos, a irrelevância de tantas entidades e associações de apoio humanitário actuando desarticuladas. 

Mas esta abordagem é, apenas, uma nota de rodapé na história da violência doméstica em Portugal.

 

 

* Há quem, lidando com familiares violentos por doença ou dependência, recorra à polícia como forma de tentar incutir-lhes temor pelas consequências dos seus actos, isto sem que tenha real intenção de os ver detidos e julgados. Mais uma vez, as boas intenções fazem vítimas e cabe ao Estado não o permitir - a violência doméstica é crime público também para evitar tais benevolências.

 

 

imagem: "Mulher batendo num homem com vassoura" (autor desc., pintura de Kalighat, 1875), domínio público.

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lançado às 20:05

Hoje só quero isto.

por Sarin, em 23.03.20

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Não me apetece ler textos motivadores, não tenho riso para as piadas, não me interessa saber como vai a vossa vida dentro de quatro paredes. Hoje não quero saber do quotidiano para nada!

 

Porque ontem ouvi Bolsonaro desautorizar os Governos Estaduais e dizer que os centros comerciais e as escolas e os parques só fecharão quando o Governo Federal decidir. E o Governo Federal está a levar a COVID19 como leva todas as outras matérias: com o samba no pé e o Credo na boca. Literalmente, o Credo na boca, que o Messias crê que os pastores são os mais sábios no  orientar os seus rebanhos. E nos EUA iria parecido, mas vão arrepiando caminho, uma no cravo e outra na cavalgadura que é Trump. E pela Europa temos alguns que bem os tentam igualar, e oxalá as gentes que os defendem abram os olhos e percebam o calibre de tais milagreiros.

Porque ontem ouvi um padre português dizer que não podia nem iria deixar os fiéis sem missa, depois de a Conferência Episcopal Portuguesa ter suspendido as missas com fiéis e o Papa Francisco ter vedado a Praça de São Pedro às celebrações da Páscoa. E não me espanta que com tais catequistas cada um faça o que lhe apetece, como na Póvoa do Varzim, onde as gentes passeavam como se Primavera em 2019, as autoridades de segurança a meterem-lhes o calendário e os números dos infectados pelos olhos dentro tendo bem mais o que fazer.

Porque ontem ouvi o responsável por uma empresa de floricultura, das 5 grandes que há no Algarve, lamentar a perda total da produção que se avizinha, estufas enormes que exportavam tudo quanto produziam. E lembrei-me que quase somos auto-suficientes na produção de batata, com uns redondos 70% contra menos de metade de quase tudo o resto.

Porque ontem ouvi e continuei a ouvir a inércia de uma União que ainda recentemente chamei Comunidade Económica, e que hoje já nem isso. E, agora, que cada Estado-Membro faça o que quiser e no fim veremos o que sobra.

 

Porque ontem vi, todos vemos, todos os dias, os números da COVID19, e desculpem que vos pergunte: se é com palavras bonitas e desenhos fofinhos que esperamos ultrapassar esta crise, para que raio haveremos de a ultrapassar pois se iremos cair no mesmo?

Não me entendam mal, por favor: é fundamental manter a sanidade mental, e todos teremos os nossos mantras, entre desenhos e palavras e sei lá. Mas se há altura em que nós, os que agora estamos em casa, nada podemos fazer além de inventar uma nova normalidade, é esta. Nada podemos fazer, mas muito podemos pensar. Podemos ler. Podemos discutir. Podemos reprogramar-nos e podemos preparar o que queremos exigir - enquanto indivíduos, enquanto cidadãos, enquanto sociedade. Nunca o tempo esteve tanto a nosso favor.

 

Por isso, não, hoje não me apetece mesmo nada saber como está a correr a vossa vida entre o quarto e a cozinha nem quero saber quantas tranças conseguem fazer em cada perna ou o que disse alguém muito citado sobre qualquer coisa muito íntima e muito genérica. Hoje quero saber quantos de vós estarão a perguntar-se o que terão feito pelo SNS e pelas empresas de sectores estratégicos, como energia e telecomunicações, os deputados em quem votaram. Ou porque terei falado nestes sectores e não noutros. Ou que pensem porque nem votar foram, agora que sentimos na pele o que são as políticas estruturais. Sentimos na pele, não apenas na carteira, e sentir na pele belisca mais. Quero saber quantos de vós se interrogam o porquê de termos tanta empresa dedicada ao Turismo e tão pouca dedicada à produção alimentar, e quero que indaguem, que leiam, que tentem seguir as políticas que têm sido definidas onde e por quem, e quero que pensem nas implicações das nossas decisões e indecisões na hora de votar, de exigir, de facilitar.

Hoje só quero isto. Querer não custa, não é?

Boa continuação.

imagem de WILMARX

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lançado às 17:50

Não agradeço a este coronavírus

por Sarin, em 22.03.20

... porque agradecer as lições deste abrandamento significa também agradecer as mortes, as sequelas, o sobreesforço, o receio. E eu não aceito que os fins justifiquem os meios, mesmo que disto resulte uma sociedade global mais solidária mais atenta mais equilibrada - porque as vidas perdidas e as vidas suspensas contam.

Mas não poderemos voltar ao ponto, à rota em que estávamos. Sim, o SARS-CoV-2 é um ponto de inflexão. Resta pensarmos que direcção escolheremos depois. E pensar, podemos começar já.

 

 

Não agradeço. Não, não agradeço ao coronavírus! Mas, sem agradecimentos, as mensagens são estas.

Pensemos que direcção escolheremos depois.

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lançado às 10:15

nem sempre o verso

por Sarin, em 21.03.20

Hoje é o Dia da Poesia 

e não me apetece o verso.

Tenho desfeito o peito,

sem rima mas com reverso

e o verbo foge

triste

porque todos os dias

são dias de poesia

mas nem todas as noites

adormecem no poema.

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lançado às 21:10

A morte em dias de peste

por Sarin, em 20.03.20

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A vida continua. Há vida para lá do isolamento e da quarentena, há vida para lá da COVID19, há vida. E no fim abraçar-nos-emos de felicidade.

Mas a morte também continua. Há morte para lá da Covid19, e nós em isolamento e em quarentena. Sem podermos abraçar os que respiram suspensos no princípio da saudade.

 

Muito raramente vou a velórios. Mais raramente acompanho a última homenagem - esta acontecerá quando aos mortos recordar pela última vez, não antes! Os meus funerais são com os vivos. Estou ali, a minha presença apenas um, mais um, amortecedor da dor que os esmaga, a amizade e o carinho atentos às suas forças - as forças que tantas vezes se agigantam mas que em algum momento quebram. Porque todos somos frágeis quando feridos, e a morte fere fundo. Por vezes basta estarmos ali, apenas estarmos ali, a dor parecendo a todos menos densa, menos pesada porque partilhada. Mera ilusão, pois que a dor é sempre dor e não nos larga, antes reclama espaço ocupando-nos sem aviso. Com sorte, habituamo-nos. Com tempo. Mas a ilusão da partilha é benfazeja: os primeiros dias de ausência são mais longos, mais estéreis, nem dias chegam a ser, o tempo passando apenas porque a terra continua a girar. E o estarmos ali lembra quem sofre que pode sofrer, que haverá quem ao silêncio alimente com cheiro de sopa feita, que haverá quem às horas segure antes de caídas no chão, que haverá quem guarde a memória dos dias que não são.

 

Como abraçar os vivos que choram os seus mortos agora? As palavras não seguram, não têm cheiro nem cor... e, ainda assim, vão. Porque apenas as palavras podem ir, apenas as palavras podem estar. Que abanquem, que estanquem e atravanquem o vazio da nossa ausência forçada. E que não ecoem lágrimas, apenas sejam suaves como a presença que transportam.

 

 

 

 

 

 

imagem: Chema Madoz

Música: The long road, Mark Knopfler (Cal, 1984)

Vídeo: aby Abraao

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lançado às 15:12

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


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