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cabeçalho sobre foto de Erika Zolli
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Estive afastada uns dias. Não foram férias, mas foram férias das notícias. E quando volto, neste Verão envergonhado com tanta falta de vergonha, deparo-me com esta história da ES Enterprises, o think tank dos BESt entrepreneurs vulgarmente conhecida como Saco azul do BES, a financiar a recandidatura de Cavaco Silva. Cavaco Silva, lembram-se? Sim, esse mesmo.
E na leitura da notícia fico, assim de repente porque ainda em aquecimento, com três dúvidas incómodas:
1) Financiou ou suspeita-se que terá financiado? Para não variar, em vários jornais o título difere do corpo da notícia nestes nada pormenores;
2) A campanha ter sido financiada implica conhecimento do ilícito por parte de Cavaco Silva? Não gosto do sujeito político, acho que foi um muito mau Primeiro Ministro e um péssimo Presidente, mas o desprezo político não me impede a indignação com a suspeição assim lançada sobre o nome do cidadão;
3) Se está em investigação no DCIAP como é que a revista Sábado teve acesso, os documentos estão abertos a consulta pública? Não me convence, aquela frase "Explica a Sábado que, no decurso da sua investigação a estes donativos, apercebeu-se que “o alegado financiamento a Cavaco Silva também está sob escrutínio no DCIAP”".
Claro que nada mais posso fazer do que apontar as dúvidas e incongruências das notícias, reservar as minhas suspeições e aguardar como aguardo nos outros casos em que a Justiça está metida ao barulho - e sim, barulho, ruído, é exactamente disso que aqui se trata: perceber onde começa a notícia e acaba o ruído, ou vice-versa.
Por falar em Justiça, anda aí uma grande, enorme polémica que, desconfio, me dará para alguns postais... e eu que contava com as temperaturas mornas desta silly season para, finalmente, fazer praia!
A propósito da demolição do edifício conhecido como Prédio Coutinho, tenho lido muitas vozes indignadas contra a autarquia e a favor dos dos moradores, menos vozes contra estes. Bom, eu serei uma destas.
O edifício foi autorizado em 1972, licenças e condições e tudo o exigido à data.
Logo em 1975 se apontou a inadequadação do edifício, dada a altura e o meio envolvente. Desde então várias foram as tentativas para corrigir aquilo que, nitidamente, é um monstro urbanístico. Chegaram até a tentar reverter o número de pisos para metade; mas alguns dos moradores, cientes talvez da paisagem e do sossego de que usufrem lá nas alturas e da centralidade quando descem à rua, têm recusado todas as abordagens.
Aparentemente, e contrariando o que muitos escreveram e escrevem, os moradores tiveram várias propostas de aquisição e realojamento - diz o Jornal Económico que 1,9 milhões de euros estão ainda disponíveis para levantamento. Não conheço o mercado imobiliário em Viana do Castelo, mas 200.000€ em Leiria compram um bom apartamento e com condomínio moderado - a electricidade e a manutenção dos elevadores são parcelas pesadíssimas, e num prédio de 14 pisos não deverá ser pequena. [Por falar nisso, estará o contrato de manutenção em vigor? E se não, usam os elevadores em clara violação da lei? Pormenores...]
Assim, temos de um lado uma autarquia que pretende adequar a paisagem, o centro da cidade e o meio envolvente, e do outro 9 idosos que se recusam sair da casa onde vivem há quase 50 anos. Tudo indica que serão os mesmos que têm recusado qualquer alternativa desde que a "casa cheia de memórias" cheirava a tinta e a memórias nenhumas.
Não defendo que o bem maior sirva para atropelar arbitrariamente os direitos individuais. Mas viver em sociedade obriga a algumas opções em nome da comunidade e em detrimento do indivíduo.
E pergunto: se uma obra agride notoriamente o meio envolvente, não deve ser demolida? Deixamos perpetuar o erro ou, talvez, o favor de um funcionário camarário, chefe de gabinete, secretário de Estado, ministro do Ambiente?
Sei que é moda não responsabilizar quem autoriza tais atrocidades em Portugal. Que construir diferente do que está autorizado vale a pena, o dono da obra paga uma coima e a obra segue. Mesmo que construída fora de zona urbanizável, embarga-se a obra até mudar o PDM ou mudar quem a autorize. E assim seguimos com moradias em arribas, com edifícios industriais em bairros habitacionais, com prédios desmesuradamente altos nos centros urbanos, com moradias em locais isolados e depois ai os deuses quem acode se sem saneamento sem acessibilidade sem segurança, e o erário público que não seja púdico e pague.
Se acabamos por pagar, prefiro pagar para corrigir o erro.
imagem recebida há muitos anos por email; desconheço o autor, mas agradeço-lhe o registo de algo que também eu vi no acesso à A15 em Rio Maior
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