Num país de governantes sérios, isto nunca teria acontecido.
Num país de gente séria, isto seria motivo para entregar a demissão do responsável numa bandeja.
Percebamo-nos: os incêndios acontecem. A forma como os gerimos revelarão as capacidades e as incapacidades técnicas, operacionais e políticas - no terreno como no gabinete, na prevenção como no combate. Se o modelo de gestão falha, naturalmente há responsabilidades políticas. Que não começam e acabam no executivo em funções, relembro - há medidas de curto-prazo e há medidas de longo-prazo, e convém não esquecer que as medidas florestais de longo-prazo tomadas nos últimos 45 anos são aquelas que, iniciadas em 2007, foram interrompidas em 2011.
As medidas de curto e médio-prazo, se bem articuladas, não teriam evitado os incêndios mas certamente teriam evitado a dimensão catastrófica das suas consequências.
Duvido que com outro executivo o resultado fosse muito diferente - não o foi noutras situações, veja-se o incêndio de 2016 no Funchal ou os incêndios de 2013 e de 2003 no continente. As vítimas mortais foram-no por estarem no local errado à hora errada e foram-no por incúria, principalmente de quem gere e depois de quem previne. Não foram mais por sorte. Em qualquer dos anos.
Se em plena gestão de crise não se devem assacar responsabilidades políticas, no rescaldo não se devem esquecer tais responsabilizações. Muito menos se devem ignorar as falhas.
Complacentemente, assistimos à implementação de muitas medidas avulsas, à aquisição do SIRESP que nunca deveria ter sido privado, às multas por não se limpar o mato... e as tais medidas de longo-prazo tardam. Tardam sempre. E as medidas de curto-prazo são sempre muito imediatas e muito formativas e muito proclamadas. Mas a operacionalização implica mexer em muitos feudos... jobs for the boys, sim, e em todos os níveis hierárquicos. E não, não apenas do PS, o que leva as guerras partidárias para outro terreno e muito mais comburente.
Mas isto? Isto não é desinteresse, não é desconhecimento, não é desarticulação, não é irresponsabilidade, não é incompetência e nem sequer é inépcia.
A distribuição de falsas golas antifumo como sensibilização para a implementação das medidas de prevenção contra incêndios é, apenas e porque tudo, inqualificável. E desclassificável: exige a demissão imediata do responsável da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil. Do ministro que assim lhe dá cobertura, também.
Sim, no meio da crise não se exigem cabeças. Mas estas está provado que não fazem qualquer falta.
Como diz e muito bem a Não me dêem ouvidos, em Portugal brincamos com o fogo.