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A mania dos sinónimos

por Sarin, em 02.05.19

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A notícia que ilustra o postal arrancou-me das funduras da memória um outro ao qual queria ter dado continuidade. Sobre sinónimos. Guardado está o bocado... ou não, depende dos glutões em funções.

 

Esperar é aguardar. Mas também pode ser desejar. Que, por sua vez, pode ser anelar, ansiar... sem que ansiar seja sinónimo de aguardar.

Como no caso desta notícia com título delicodoce.

Porque Paulo Macedo não espera não aguarda não deseja.

Paulo Macedo quer mesmo 570 trabalhadores na rua.

E desconfio que, destes, já todos o esperem mas nem todos o desejem.

[Cuidemos de todos cuidando de nós: Etiqueta respiratória. Higiene. Distância física. Calma. Senso. Civismo.]
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lançado às 23:30

Pátria e Língua desacordadas

por Sarin, em 02.05.19

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No Brasil preparam-se para rasgar o Acordo Ortográfico de 1990.

Podem mesmo mudar a língua e o português do Brasil passar a ser brasileiro. É uma opção política, embora não propriamente protagonizada por Bolsonaro. Talvez que a ênfase colocada nos símbolos pátrios a exacerbe, mas não é de sua autoria.

Na verdade, desde 1911 e do primeiro acordo ortográfico que a ideia estaria latente em algumas elites intelectuais e políticas. Mas, aparentemente, este AO90 reacendeu o debate inflamando-o até às cinzas.

 

Intriga-me a mecânica do processo: o acordo com que pretendiam harmonizar a escrita e consolidar uma língua vai acabar por criar duas línguas em países que durante duzentos anos se entenderam. Há quem ao AO90 chame Caixa de Pandora, para mim sempre se assemelhou a um boomerang.

 

Não tenho argumentos técnicos nem políticos para defender se deve ou não deve ser uma nova língua, e confesso que não me interessa desde que continue a perceber o que dizem e escrevem do lado de lá.

 

Gostaria também de dizer "desde que perceba o que sentem", mas... não percebo. De todo.

Sinto-me a viver outra dimensão perante alegações como "Portugal colonizador quer colonizar a Língua Portuguesa", perante outras acusações que vou ouvindo e que mais me parecem tentativas de branquear a sua brasileira vergonha por em duzentos anos de independência não terem estancado aquilo de que nos acusam. Branquear não no sentido de lavar, mas de colar aos portugueses brancos de Portugal. No caso, os males da História, presente passado e futuro.

 

Não peço desculpa por me ter reconciliado com a História do meu país, mesmo com aquelas passagens vergonhosas, e não foram poucas!, ou aquelas horríficas, das quais imagino apenas esboços sem vislumbre real do imensas que foram.

Mas no agora o verbo conjuga-se no presente, não no pretérito. E o pretérito que a uns foi ensinado mais-que-perfeito e a outros imperfeito não é mais do que pretérito, simples.

Não aceito que me cobrem no presente qualquer dos pretéritos vividos e sofridos pelos nossos ancestrais. Sim, os meus avós também foram colonizados, também foram expulsos dos seus lares, também foram escravos, também morreram na gleba. E foram arrancados das casas que reconstruíram tantas vezes para atravessarem os mares e morrerem longe destes seus. Por isso respeitemos os mortos. Onde quer que tenham caído.

E não me queiram condoída pelas vossas línguas indígenas: em plena campanha, o vosso presidente anunciou pretender reduzir o espaço onde algumas ainda se podem considerar nativas! Onde esteve a vossa preocupação? Onde está, quando os índios que não dizimámos continuam a cair às vossas próprias mãos?!

Portanto, lambam as feridas como as lamberam os meus avós, como eu lambo as minhas. E avancemos, porque a gramática não pára o relógio e os vivos precisam de atenção, não de cucos!

Podemos construir sociedades melhores se aceitarmos que não podemos refazer a nossa História comum. Mas que podemos e devemos aprender com ela.

Afinal, em português (pt) ou em português (br), em língua portuguesa ou em língua brasileira, futuro grafa-se, ainda, da mesma exacta maneira.

 

 

 

Na imagem, grande plano sobre inversão do quadro "Fernando Pessoa", de Almada Negreiros

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lançado às 21:37

Balas e bolinhos

por Sarin, em 02.05.19

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Há muitos e muitos anos, os alunos levavam fruta bolinhos e outros pequenos mimos para oferecer aos professores. Para uns era suborno, para outros uma oferenda nascida do agradecimento ou da solidariedade - as motivações variavam, os bolinhos também.

 

Parece que em breve, na Flórida, os alunos começarão a oferecer carregadores para as armas automáticas. Um agradecimento pela voluntária protecção armada dentro da sala de aulas.

 

Não imagino os traumas que resultarão de tal medida. Acredito que não será fácil ter aulas com o mesmo professor que apontou uma arma ao colega do lado, que feriu o colega do lado. A menos que eu deteste o colega, os ódios educam-se de pequenino...

E 144 horas não são suficientes para treinar um pedagogo com uma arma, para domesticar impulsos, ensaiar  reacções, educar respostas. Aliás, não é uma questão de suficiência mas, antes, de incompatibilidade de conceitos: armas não cabem na mesma frase que crianças. Não cabem, sequer, no mesmo mundo. E agora colocam-nas na mesma sala de aulas.

A NRA exulta, os bolinhos compensam.

 

 

Na imagem, Chico Bento, de Maurício de Sousa

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lançado às 11:35

Primavera na Venezuela

por Sarin, em 01.05.19

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A chuva da temida Primavera desabou sobre a Venezuela, no lugar de gotas as armas, os tanques daninhos esmagando vontades e gentes como se granizo na erva tenra.

 

Quem falhou a Guaidó? Tantos, uns por impotência outros por prepotência. Talvez que ele se tenha falhado a ele mesmo, no desespero ou na esperança.

Mas a ONU falhou, certamente. Não a Guaidó, mas aos venezuelanos. E quando a ONU falha apenas demonstra que as questões humanitárias são moeda de troca para os países no Conselho de Segurança.

 

Entretanto, Maduro governa, surdo às vozes que prometeu ouvir, indiferente às gentes que jurou proteger. Quem governa Maduro?

 

Penso que a diplomacia se impõe. Urge regurgitá-la dos orgulhos e cobiças que a engoliram. E por diplomacia quero dizer negociação e adulação: derrubar Maduro pela força atrairá mais força e com ela mais sangue, esperar que ouça o seu povo é esperar um milagre. Sim, penso que terão de negociar metade do petróleo para cada lado do Atlântico, oferecendo a Maduro paraísos e honrarias - os necessários para o erguer da cadeira a que tão afincadamente se agarra.

Ou o petróleo acabará soluçando entre hienas e vampiros que lambem os cadáveres de uma Venezuela sem rosto.

 

E o Tribunal Penal Internacional não poderá fazer o seu trabalho.

 

Fotografia de Yury Cortez/AFP

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lançado às 15:25

(re)flexões de 1 de Maio

por Sarin, em 01.05.19

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Recebi cupões de desconto em compras para hoje. Hoje, 1 de Maio, Dia do Trabalhador, feriado nacional em Portugal e em muitas democracias. 

Se me recuso a fazer compras ao Domingo, pelas mesmas e por mais fortes razões me recuso a fazê-las hoje.

Afinal, hoje evoca-se a determinação daqueles primeiros trabalhadores que, em 1886, enfrentaram os patrões e, parando a produção, exigiram melhores condições de trabalho - não apenas salários mas condições: segurança, ergonomia, responsabilidade. Alguns teimam em relembrar que muito há ainda por fazer. Vou mais longe, literalmente: enquanto nós, consumidores, comprarmos produções de países que não têm leis laborais semelhantes às nossas estaremos a contribuir para o aumento desse muito que há por fazer. Além de promovermos a concorrência desleal, pois que as empresas portuguesas estão legalmente sujeitas a várias obrigações de protecção ao trabalhador e, com mais ou menos falhas, lá tentam cumpri-las. O que traz benefícios para todos, mas também custos directos para as empresas. Ainda assim, há ainda muito para fazer em Portugal.

 

O Eduardo Louro estranha este 1. de Maio. Sim, algo se passa. Talvez uma nova consciência que desperta? A ser, não despertará em todos. Nunca se sabe, nestes tempos tão estranhos... mas que os  descontos de hoje eram para compras on line, eram. Ainda assim, não os usarei.

 

 

Na imagem, obtida no Calendarr, o extinto Diário de Lisboa noticia o primeiro feriado do 1. de Maio celebrado em Portugal. 

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lançado às 13:35

Onde ideias-desabafos podem nascer e morrer. Ou apenas ganhar bolor.


Obrigada por estar aqui.


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e uma viagem diferente



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