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cabeçalho sobre foto de Erika Zolli
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Da China chegam notícias ocasionais. Um negócio aqui, outro ali... mas da sociedade, nada.
E enquanto nada chega, vou lendo por quem conhece que a China está a dar a mão a África. E está a deitar a mão a África, também. Estratégia de uns, necessidade de outros, e tudo vai bem enquanto não se atropelarem.
Como atropelam agora em Xinjiang, região chinesa onde vivem os Uigur, minoria étnica de origem turcomena e de religião muçulmana.
Para que abandonem a religião, são os uigures obrigados a frequentar "centros de treino vocacional", amparados por leis que lhes proíbem os usos e os preceitos, os obrigam a ver a rádio estatal e a frequentar a escola estatal, enfim, a serem chineses como "os outros".
No Mianmar também está em curso a aniquilação dos Rohingya, sem descanso dó ou piedade.
Da Arábia Saudita chegam notícias de quererem radicalizar o islão moderado que habita África, pressionando e perseguindo.
(Poderá a China, no meio do tal estender/deitar a mão, vir a fazer o mesmo e à semelhança do que faz dentro de fronteiras?)
Tento acompanhar tais movimentações, mas as notícias são escassas e as opiniões não abundam... No entanto, parece-me que os muçulmanos não são, como tantos dizem no Ocidente, "os maus da fita".
E... os que estão sob perseguição, muçulmanos ou não, são pessoas. Porquê o silêncio sobre elas?
Uma vítima de agressão sexual não tem um padrão de comportamento.
Mas a sociedade, infelizmente, tem: são o preconceito, são as humilhações em esquadras, são as humilhações em hospitais, são as humilhações até em tribunal. Fora a devassa da vida privada levada a cabo nas redes sociais - da vizinhança ou da internet.
Cada vítima reagirá de acordo com a força e com o apoio que tenha para lidar com medos, inseguranças, humilhações, dores, e tantos outros sentimentos e consequências... Muitas poderão até desistir de acusações ou aceitar acordos por não terem força para aguentar tal exposição.
Curiosamente, é exactamente esta devassa, esta exposição - uma segunda violação da vítima - que permite aos oportunistas criar vítimas de falsas acusações.
(fonte da imagem aqui. de um postal que nada tem a ver com este mas que vale a pena ler)
(fonte da imagem aqui)
Há um mês, surgiu em escolas de Lisboa e Porto um questionário que incluía perguntas sobre a etnia.
Agora, surge na Escola Básica Francisco Torrinha, no Porto, um questionário da disciplina de Cidadania que pergunta, entre outras, a orientação sexual de crianças do 5º ano de escolaridade. De seres com 9-11 anos, portanto.
No inquérito de Setembro ninguém nas escolas teve responsabilidade porque o mesmo teria proveniência numa agência de estudos e dados.
[Pergunta que se impõe: fontes externas porquê? Não temos, na dependência do ME, nenhuma organização que faça tais estudos, sei lá, um gabinetezinho de uma universidadezita?]
Percebo a necessidade de conhecer a população de emigrantes no país. Mas, percebendo ou não tal necessidade, não percebo porque é isso competência do ME e não do SEF e da Administração Interna. Sinergias? Com crianças?
Por outro lado, mesmo aceitando (que remédio!) que a fonte das perguntas seja externa, porque é que nenhum dos professores que distribuiu o inquérito se recusou a fazê-lo... não leram o que distribuiram? Leram e não acharam estranho? Até acharam estranho e nenhum alertou que os ciganos portugueses são portugueses desde 1822?
E mesmo que o não fossem desde então, a Lei da Nacionalidade diz que, à data dos tais inquéritos, eram. São. Saber quantos não será tarefa para departamentos estatais relacionados com integração (? fica para outro dia) discutirem com os pais, em vez de as escolas perguntarem aos filhos?
E hoje surge este, numa mesma zona onde andaram a circular os outros, mas desta vez a perguntar quais as orientações sexuais das crianças, se já tiveram namorado, qual a sua identificação de género...
Por mais perspectivas que tente, não consigo perceber para que querem os professores na Torrinha saber a vida sexual de crianças de 10 anos!
Não consigo perceber mas assusta-me.
E assusta porque não foi ninguém concreto, foi alguém mas não se consegue rastrear, não se consegue rastrear mas vai ser aberto um inquérito... ... ...
E assim sabemos que nas escolas entram e circulam documentos sem controlo. Nas escolas, que deviam ser espaços seguros, qualquer um pode meter perguntas do foro íntimo no meio de uma ficha e sacar informação privada às crianças.
Porquê?
Quem?
E, mais importante ainda,
Para quê?
Chamem-me paranóica, mas estes inquéritos não são acaso, tal como não é coincidência os locais onde foram detectados. Duas vezes, não apenas uma.
Não vamos assobiar para o ar, foram só umas folhas com perguntas chatas... Não foram! Foram perguntas pessoais e discriminatórias, distribuídas pelos professores a crianças sob a sua responsabilidade, perguntas estas feitas por não se sabe quem nem porquê e cujas respostas serão lidas por não se sabe quem nem para que fim.
E, assim, de repente, ocorrem-me muitos fins e nenhum deles agradável.
Comparado com isto, Tancos é um jogo de subuteo.
(fonte da imagem aqui)
Começámos a perceber o que queria há dois anos.
Ficámos com a certeza do que queria há um ano.
Soubemos como o vai tentar fazer hoje.
Arranjou trampolim.
Conseguiu visibilidade.
Fez charme.
Viu a oportunidade.
Como Benfiquista, agradeço que se dedique a outra coisa.
Como Democrata, não era bem isto.
Em dois pontos distintos do mundo, duas mulheres responderam simultaneamente e com os olhos brilhantes: "sim, amo!".
Uma respondia a um "Amas-me, querida?".
Outra, a um "Faz o que te digo ou mato-te!"
Em dois pontos distintos dum mundo distante e indiferente. Quantas vezes na porta ao lado.
(Abril 2012)
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