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Tenho lido muitos artigos de opinião sobre a eutanásia. Escrevi muita coisa, aqui e em comentários em blogues ou em jornais por aí (nestes, via Disqus)
Contra, há muitos artigos e não preciso de os divulgar.
A favor, escasseiam - e por isso resolvi compilar por aqui alguns daqueles que acho mais pertinentes. E ainda apresento um estudo.
Já agora, não tenho qualquer interesse em apresentar todos os pontos de vista - estou a defender uma bandeira.
A minha morte é um assunto meu (Patrícia Reis)
Sobre morte assistida (Ana Matos Pires)
A eutanásia e a nossa integridade moral (André Barata)
Vejo as hostes agitadas com o novo papão que aí vem, a grande questão fracturante deste ano: Eutanásia.
Ocorrem-me duas grandes questões nesta matéria:
1. Para ser fracturante seria necessário que se discutisse. Mas apenas vejo a) certezas nos que a imoralizam e b) dúvidas nos que a defendem - dúvidas por exemplo com a posição dos Bastonário e Ex-Bastonário da Ordem dos Médicos que parecem querer travar com o código deontológico aquilo que na Assembleia estão com vontade de deixar passar.
2. Porque insistem alguns sectores da sociedade em querer referendar matéria de direitos e liberdades individuais e não se preocupam com a regulação da coisa comum.
Hoje fico-me pelos direitos e liberdades individuais. E respondo aos dois pontos em simultâneo...
O meu corpo é meu.
É meu para o prostrar nos altares que entender; para o deitar nas camas que eu fizer, quando e com quem me apetecer; para fazer e parir os filhos que eu desejar e conseguir; para o desligar quando eu quiser.
Vivemos em sociedade, é certo, e as nossas acções afectam os outros – a saúde pública, a demografia e a segurança pública à cabeça, do lado do Estado; as emoções e as interdependências, do lado das Famílias.
E ainda assim somos um conjunto de corpos individuais que pensa e sente individualmente mesmo que em grupo.
Mas estou a falar de me permitirem fazer o que quero ao meu corpo. Ao meu corpo vivo, ao meu corpo morto e ao meu corpo assim-assim. À minha vida, a mim!
Não de obrigar os outros a fazerem o que eu quero ao corpo deles, à vida deles, a eles. Não de obrigar os outros, definitivamente NÃO!
Quando fiz o meu Testamento Vital preenchi o formulário no local, fui entrevistada, identificada e assinei. Voltei à Delegação de Saúde para o voltar a preencher: entre as minhas instruções várias, não me autorizaram a instrução para me desligarem a vida, só autorizaram desligarem-me máquinas.
O facto de eu, lúcida e na plena posse das minhas faculdades, não poder dar todas as instruções que queria deveu-se a um abuso legal: o Estado não manda no meu corpo vivo nem manda no meu corpo morto, mas manda no meu corpo moribundo independentemente do meu desejo. Se eu, lúcida, posso decidir tudo – incluindo o que fazem ao meu cadáver e aos meus órgãos e aos meus bens – porque tenho que deixar o limbo nas mãos dos meus familiares ou do acaso?! Só porque aos meus concidadãos lhes dá para sentir de forma diferente?! Eu quero decidir por mim e preferia não ter que decidir por ninguém: é doloroso, é devastador, é violento.
Entretanto aproxima-se a data de revalidação do meu Testamento – podemos mudar de ideias a qualquer momento, e para o caso de nos esquecermos de o registar, de cinco em cinco anos temos que renovar os nossos desejos. Está quase na altura de o meu ser renovado, e espero desta vez poder deixar os meus desejos registados.
Caramba, se há processo cuidado que exija atenção e certeza é este!
Se alguém se sente inseguro ou se recear mudar de ideias quando chegr a hora da verdade, então nitidamente esse alguém não deve fazer um Testamento Vital - apesar de o Testamento permitir deixar algumas ou todas as decisões à família...
Porra, e é uma pessoa destas que em sede de referendo querem pôr a decidir sobre o fim da minha vida?!
Sobre os médicos e enfermeiros: senhores Bastonários, objectores de consciência sempre houve. Anjos da morte também. Que tal aligeirarem o fardo e clarificarem o papel do eutanasiador – não é um homicida, é um profissional de saúde que atende aos desejos devidamente expressos pelo seu doente já não paciente. Comecem por rever o Código, caso seja aprovada a Eutanásia – manter determinadas expressões será contraditar a lei em cada leitura, e invocar a nulidade do parágrafo para “tornar desnecessária qualquer alteração” é manobra nada inocente por parte de quem assumidamente objecta a eutanásia. Haja decência!
Há notícias que me espantam por serem notícia. Não porque conteste o trabalho do jornalista mas porque o facto noticiado é absurdo.
Perante tal, questiono-me: devo contestar, ecoando assim o absurdo e dando-lhe mais um meio de projecção (vale o que vale) ou é melhor simplesmente ignorar e deixar a outros a função de debater (ou apenas abater) tal notícia, tais notícias?
Não sou jornalista, não sou justiceira... mas, caramba, há factos que ofendem a minha sensibilidade e a minha inteligência! Factos que não me espantaria encontrar em algumas terras dos EUA profundo, por exemplo, onde o ensino ministrado em casa aliado a abusos em nome da liberdade de culto podem eternizar resistências várias a outras interpretações que não as instituídas na comunidade. Certamente haverá exemplos destes em África, na América, na Ásia, na Europa e na Oceania, não se pense que acredito ser um exclusivo de alguns norte-americanos do Tio Sam.
O obscurantismo nasce e propaga-se enraizado nas certezas incontestáveis sem qualquer base científica - matéria de fé, de crença, portanto; e não necessariamente relacionada com um credo. E se não discuto as fés de cada um, permito-me questionar a matéria que as suporta. Por outro lado, o obscurantismo alimenta-se do silêncio, da não contestação - e chegada aqui acabo por descobrir a resposta para a minha dúvida inicial.
Suponho que as teorias da conspiração nascem exactamente neste meio-espaço entre o evitar o obscurantismo e o não divulgar toda a informação... como se os seus criadores precisassem desesperadamente de respostas. No fundo, a mesma necessidade que conduziu às várias religiões da Humanidade.
E depois, temos em Portugal, um País civilizado, com ensino obrigatório, com acesso não controlado à informação, onde a ciência tem espaço lado a lado com a religião... temos em Portugal, dizia eu, gente que, fazendo tábua rasa da genética e confundindo características somáticas com esta, gente que representa os seus concidadãos e que cria ONG para isto.
A evolução passou-lhes ao lado? Não tiveram aulas de Biologia? Ninguém lhes explicou a diferença entre fenótipo e genótipo e as regras básicas da hereditariedade?! Caramba, estas são perguntas de retórica - o nosso ensino não é assim tão mau!!!
Abri a folha para escrever sobre um tema controverso - a eutanásia - e dei por mim a pensar nas amizades que fazemos e desfazemos ao longo dos dias.
Naquelas amizades que resistem à distância e se fortalecem ainda assim, como se cada sorriso comum fosse uma caixa inteira de vitaminas, cada mágoa partilhada fosse um frasco de óleo de fígado de bacalhau.
Há também as amizades que resistem à distância mas que se vão desenlaçando até viverem apenas de memórias. Ou talvez sobrevivam, em comum o passado e uns olás ocasionais que ainda transportam sorrisos, as lágrimas já não.
Li algures, ou talvez tenha ouvido num filme, que a partir de uma certa idade somos velhos para criarmos velhos amigos. E percebi que as amizades que se vão desenlaçando são isso, velhos amigos. Que as mantemos porque são a memória do nós que fomos, são quem conta as histórias que os novos amigos só conhecem das nossas palavras.
Ainda assim, prefiro as amizades que se renovam em cada gesto, as amizades com o botox natural de quem se ri connosco e até se ri de nós até nos rirmos também - só as amizades de muitos lifting sabem como nos repuxar a pele sem magoar.
Sou a favor da eutanásia. Mas isso fica para outro dia, que hoje é Domingo e vou aproveitar para telefonar às velhas amizades.
Marcelo vetou, e vetou muito bem.
Compreendo que sujeitar a mudança legal de género e nome a um atestado clínico possa levar alguns a confundir a disforia de género com doença, ou pelo menos com doença no sentido tradicional.
Mas também sei que aos 16 anos o sujeito pode ser (e geralmente é) influenciável, impressionável, rebelde, e que se experimenta a si mesmo e a diversas formas de afirmação - com uma certa predilecção pelo confronto, pelo choque.
As preferências sexuais podem confundir e orientar uma falsa identidade. O ambiente sócio-cultural pode contribuir para agudizar a confusão - pela falta de esclarecimento, pelo estereótipo, ou até pela abordagem liberal, pela "moda". (Quem não conhece pais que diagnosticam os seus filhos com hiper-actividade - intolerância alimentar - doença celíaca - défice de atenção, uma ou várias??)
Mudar de nome não é aderir à arte corporal, não é experimentalismo vocacional, não é experimentação sexual. E certamente não é algo que se deva poder fazer porque o adolescente e os pais acham que sim.
A Maria em corpo de Manel veste-se em que balneário? Frequenta que sanitários? Está preparada para apresentar o Cartão de Cidadão de cada vez que for expulsa de algum deles?
Coisinhas simples do dia-a-dia. Como ser apontado ou apontada a dedo quando o corpo que rejeita tiver que responder ao nome que deseja em público.
Porque na defesa da identidade de alguns se esquecem os legisladores que a identidade de muitos não foi formada na tolerância e na aceitação, o que pode resultar mais frustrante do que esperar para poder acompanhar a mudança de género com a mudança de sexo.
Dou valor ao jornalista.
O jornalista procura, observa, relata, questiona, revela. Informa-nos, desperta-nos…
E presta um péssimo serviço quando não respeita a forma como o faz!
As falhas são notórias, frequentes, abusivas, lesivas da notícia e do leitor ou ouvinte: a Língua truncada e mal-tratada (empresas baseadas em vez de sediadas, por exemplo), o uso e abuso de adjectivos e frases feitas (o “jogador sensacional” e a “notícia arrepiante”), a citação de outros jornais e órgãos de comunicação social como fontes das notícias que ecoam...
... e, as piores falhas: a não verificação dos factos e a incorrecção dos termos usados - a total falta de respeito pela ocorrência ou (muitas vezes, e) pela terminologia própria da área do saber que noticia.
Seja por má tradução de outra língua ou por incompreensão dos termos usados, é injustificável.
E é grave! Contamina a notícia e infecta quem, sem quaisquer noções ou conhecimentos técnicos, a lê ou ouve - e qualquer desmentido ou correcção são vistos por parte dos consumidores da notícia como uma tentativa de disfarçar a verdade.
Vem isto a propósito das muitas notícias sobre Alfie Evans e sobre Trenton McKinley.
Li em alguns jornais que os médicos de Alfie declararam a sua "vida fútil" - quando, por cruzamento de leituras sobre os julgamentos, na verdade os médicos disseram serem "fúteis novos exames e procura de curas alternativas”.
Sobre Trenton, li em alguns que estava em "morte cerebral" - mais uma vez, os jornais que encontrei com citações dos médicos ou dos pais falam em "coma", nas notícias e nas citações.
Em ambos os casos li, em diversos jornais, que as crianças tinham "data marcada para morrer” – mas o que estava determinado era a “data para desligar o suporte básico de vida”.
Há diferenças profundas entre “morte cerebral” e “coma”, entre “matar” e “desligar o suporte básico de vida”, Srs. Jornalistas! A menos que entendam como fútil o rigor, e nesse caso talvez se aproximem da futilidade do exercício enquanto agentes do jornalismo...
Falo destes casos, poderia falar de outros temas. Mas estes interessam-me sobremaneira, porque levam aos debates sobre Eutanásia e sobre a prevalência da opinião médica sobre a vontade dos pais – quando em Portugal temos em preparação uma lei sobre a Eutanásia que fractura a sociedade, e quando se discute o ressurgimento de doenças cujas vacinas constam no Plano Nacional de Vacinas mas que alguns pais recusam por receio. Direitos do indivíduo ou direitos da sociedade.
Numa época em que os extremismos se definem e as intolerâncias se exacerbam, os jornalistas caminham a passos largos para serem parte dos problemas em vez daqueles que relatam os problemas. Por inépcia ou por estratégia, própria ou de quem lhes paga, é o que resta apurar.
O meu agradecimento aos que insistem na profissão sem facilitismos.
Sobre esta notícia, um quase rodapé numa revista nacional... que pena.
Porque a maioria dos VIP perderia o I e o P com a comparação?
Ou porque os anónimos só valem a atenção quando vítimas?
Neste blogue que ninguém lê mas é meu, a devida vénia a esta senhora, Sylvia Bloom, que foi secretária quase até falecer. Aos 96 anos.
Vale a pena ler. Em inglês, o mais completo que encontrei.
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